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— Mas é claro. Pedras Frias é o forte de Rhuarc. Rhuarc é marido de Amys. Eu às vezes vou lá visitar os dois. Costumava ir. Minha irmã-da-mãe, Lian, é esposa-irmã de Amys.

Elayne trocou olhares confusos com Egwene e Nynaeve. A Filha-herdeira um dia pensara saber bastante sobre os Aiel, tudo aprendido com os professores em Caemlyn, mas desde que conhecera Aviendha descobrira que sabia muito pouco. Os costumes e relações de parentesco eram um labirinto. Irmãs-primeiras era um termo que indicava filhas da mesma mãe, mas era possível que duas amigas se tornassem irmãs-primeiras ao firmar compromisso diante de uma Sábia. Irmãs-segundas, por sua vez, indicava que as mães de duas mulheres eram irmãs. Se os pais é que fossem irmãos, as mulheres eram irmãs-paternas, e não eram consideradas tão próximas quanto irmãs-segundas. Depois disso, a coisa ficava bem incompreensível.

— O que quer dizer “esposa-irmã”? — perguntou, hesitante.

— Que as duas têm o mesmo marido. — Aviendha franziu o cenho pela forma como Egwene arquejou, e os olhos de Nynaeve se arregalaram ao máximo. Elayne, de certo modo, já esperava a resposta, mas mesmo assim se pegou ajeitando as saias, que já estavam perfeitamente lisas. — Isso não é parte dos costumes de vocês? — perguntou a Aiel.

— Não — respondeu Egwene, com a voz fraca. — Não, não é.

— Mas você e Elayne cuidam uma da outra como se fossem irmãs-primeiras. O que fariam se uma das duas não estivesse disposta a abrir mão de Rand al’Thor? Lutariam por ele? Deixariam um homem destruir os laços que existem entre vocês? Não seria melhor se ambas pudessem se casar com ele?

Elayne olhou para Egwene. Pensou em… Será que conseguiria fazer uma coisa dessas? Mesmo com Egwene? Sabia que estava com as bochechas vermelhas. Egwene parecia apenas surpresa.

— Mas eu quis abrir mão — respondeu.

Elayne sabia que a observação era tanto para ela quanto para Aviendha, mas o pensamento persistia. Será que Min tivera uma visão? O que faria, se fosse mesmo o caso? Se for Berelain, vou estrangular aquela mulher. E Rand também! Se tiver de ser alguém, por que não poderia ser Egwene? Luz, o que é que estou pensando? Sabia que estava ficando aturdida e, para disfarçar, suavizou a voz.

— Você fala como se o homem não tivesse escolha.

— Ele pode dizer não — retrucou Aviendha, como se fosse óbvio — mas, se desejar se casar com uma, tem de se casar com as duas que pedirem. Por favor, não se ofendam, mas fiquei chocada quando descobri que, nas suas terras, um homem pode pedir uma mulher em casamento. Um homem deve deixar seu interesse claro, depois esperar que a mulher se pronuncie. É claro, algumas mulheres levam um homem a perceber o próprio interesse, mas o direito do pedido é dela. Na verdade, não entendo muito dessas coisas. Quero ser Far Dareis Mai desde criança. Tudo o que quero na vida são a lança e minhas irmãs-de-lança — concluiu, um tanto feroz.

— Ninguém vai tentar obrigar você a se casar — disse Egwene, acalmando-a.

Aviendha lhe lançou um olhar surpreso.

Nynaeve pigarreou alto. Elayne se perguntou se a mulher estivera pensando em Lan, já que suas bochechas estavam obviamente coradas.

— Egwene — começou Nynaeve, em um tom um pouco enérgico demais —, suponho que você não tenha encontrado o que estava procurando, ou já teria comentado.

— Não encontrei — concordou Egwene, lamentosa. — Mas Amys disse… Aviendha, como é essa Amys?

A Aiel começou a analisar o carpete.

— Amys é dura como as montanhas e impiedosa como o sol — disse, sem olhar para cima. — É uma Andarilha dos Sonhos. Pode ensinar sobre o assunto. Mas assim que puser as mãos em você, vai arrastá-la pelos cabelos em direção ao que ela quer. Rhuarc é o único capaz de enfrentá-la. Até as outras Sábias agem com cautela quando Amys começa a falar. Mas ela pode lhe ensinar.

Egwene balançou a cabeça.

— Eu queria saber se estar em um lugar estranho a deixaria incomodada, nervosa? Estar em uma cidade? Ela veria coisas que não existem?

Aviendha deu uma risada ácida.

— Nervosa? Nem acordar ao lado de um leão deixaria Amys nervosa. Ela era uma Donzela, Egwene, e não se abrandou nem um pouco, pode ter certeza.

— O que foi que essa mulher viu? — perguntou Nynaeve.

— Não foi bem algo que ela viu — começou Egwene, escolhendo as palavras. — Acho que não. Ela disse que Tanchico carrega uma maldade. Algo pior do que os homens são capazes de fazer. Isso pode ser a Ajah Negra. Não discuta comigo, Nynaeve — acrescentou, em um tom firme. — Os sonhos precisam ser interpretados. Pode muito bem ser a Ajah Negra.

Nynaeve já começara franzir a testa assim que Egwene mencionou o mal em Tanchico, expressão que se transformou em um olhar fixo e inflamado quando a jovem mandou que ela não discutisse. Às vezes, Elayne tinha vontade de sacudir aquelas duas. Intrometeu-se depressa, antes que a mais velha acabasse explodindo.

— Pode muito bem ser, Egwene. Você realmente encontrou algo. Mais do que Nynaeve ou eu pensávamos que poderia. Não foi, Nynaeve? Você não acha?

— Pode ser — respondeu a outra, emburrada.

— Pode ser. — Egwene não soava feliz. Ela respirou fundo. — Nynaeve tem razão. Preciso aprender o que estou fazendo. Se eu soubesse o que deveria saber, não precisaria ser informada sobre essa maldade. Se eu soubesse o que deveria saber, poderia ter encontrado o local exato onde está Liandrin, seja ele qual for. Amys pode me ensinar. É por isso… É por isso que eu tenho de ir até ela.

— Ir até ela? — Nynaeve soou horrorizada. — Até o Deserto?

— Aviendha pode me levar direto para esse Forte das Pedras Frias. — O olhar de Egwene, meio desafiador, meio ansioso, saltava entre Elayne e Nynaeve. — Se eu tivesse certeza de que elas estão em Tanchico, não as deixaria irem sozinhas. Isso se vocês decidirem ir. Mas, com Amys para me ajudar, talvez eu consiga descobrir onde elas estão. Talvez eu consiga… É isso, nem mesmo sei o que conseguirei fazer, só tenho certeza de que será muito mais do que imagino. Não estou abandonando vocês. Podem levar o anel. Vocês conhecem a Pedra o suficiente para voltar para cá em Tel’aran’rhiod. Posso encontrar vocês em Tanchico. Seja lá o que Amys me ensinar, posso repassar o conhecimento a vocês. Por favor, digam que compreendem. Eu posso aprender bastante com Amys e depois posso usar o que aprender para ajudar. Será como se nós três tivéssemos recebido o mesmo treinamento. Ela é uma Andarilha dos Sonhos, uma mulher com conhecimento! Liandrin e as outras são apenas criancinhas perto disso, elas não sabem nem um quarto do que saberemos. — Ela mordeu o lábio, pensativa. — Vocês não acham que eu estou abandonando vocês, acham? Se for isso, eu não vou.

— É claro que você tem que ir — respondeu Elayne. — Vou sentir saudades, mas ninguém nos prometeu que ficaríamos juntas até o fim.

— Mas vocês duas… indo sozinhas… Eu devia ir com vocês. Se elas estiverem mesmo em Tanchico, eu tenho que ir com vocês.

— Bobagem — retrucou Nynaeve, com certa rudeza. — Você precisa é de treinamento. Isso vai nos ajudar muito mais a longo prazo do que sua companhia até Tanchico. E nós nem temos certeza se alguma delas está mesmo em Tanchico. Se estiverem, Elayne e eu nos sairemos muito bem juntas, mas podemos chegar lá e descobrir que esta maldade, no fim das contas, não é nada além da própria guerra. Sabe a Luz que a guerra já representa maldade suficiente para qualquer um. De repente, podemos até voltar para a Torre antes de você. Mas tome cuidado no Deserto — acrescentou, em um tom experiente. — É um lugar perigoso. Aviendha, você vai cuidar dela?

Antes que a Aiel pudesse abrir a boca, ouviram uma batida na porta, e logo depois Moiraine entrou. A Aes Sedai as encarou com um olhar que pesava, media e avaliava as quatro e o que estavam fazendo, tudo sem sequer uma piscadela que indicasse suas conclusões.