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— Farei o que precisa ser feito — respondeu, com paciência. — Sem você.

Faile pôs-se de pé tão depressa que Perrin pensou que ela estava prestes a agarrar sua garganta.

— Você acha que Berelain vai junto com você? Que vai protegê-lo? Ou talvez prefira que ela sente no seu colo e gema? Ponha essa camisa para dentro, seu idiota peludo! Por que isso aqui está tão escuro? Berelain gosta de meia-luz, não é? Ela vai ser de muita ajuda contra os Filhos da Luz!

Perrin abriu a boca para protestar, mas mudou de ideia.

— Ela parece muito boa de abraçar, a Berelain. Que homem não iria querer tê-la no colo? — A mágoa no rosto de Faile envolveu seu peito em ferro, mas ele se forçou a prosseguir. — Quando terminar o que tenho de fazer em casa, talvez eu vá até Mayene. Ela me chamou para ir, e talvez eu vá.

Faile não disse uma palavra. Encarou-o com o rosto petrificado, depois deu um giro e saiu correndo, batendo a porta atrás de si com um estrondo.

Por impulso, Perrin começou a ir atrás dela, depois parou, agarrando o batente da porta até sentir dor nos dedos. Encarando o talho que o machado fizera na porta, viu-se dizendo à madeira o que não fora capaz de dizer à Faile.

— Eu matei Mantos-brancos. Eles teriam me matado se eu não tivesse feito isso, mas ainda assim foi assassinato. Vou para casa para morrer, Faile. É o único jeito que tenho de impedi-los de fazer mal à minha família. Não posso deixar que você veja isso. Você pode até tentar impedir, e eles poderiam…

Bateu a cabeça na porta. Agora Faile não lamentaria se não o visse mais. Era isso que importava. Ela encontraria sua aventura em outro canto, a salvo de Mantos-brancos, ta’veren e bolhas de maldade. Era isso o que importava. Perrin desejou não querer soltar um uivo de lamento.

Faile seguia depressa pelos corredores, quase correndo, alheia à quem passava ou tinha de desviar de seu caminho. Perrin. Berelain. Perrin. Berelain. Ele quer uma megera branquela que anda por aí seminua, é isso? Ele não sabe o que quer. Idiota peludo! Bufão cabeça-dura! Ferreiro! E aquela porca dissimulada da Berelain. Aquela cabra pretensiosa!

Não percebeu aonde ia até ver Berelain à frente, deslizando dentro daquele vestido que não deixava nada à imaginação, rebolando, como se aquele caminhar não fosse friamente calculado para atrair os olhos esbugalhados dos machos. Antes que Faile se desse conta do que estava fazendo, disparou até a Primeira e virou-se para encará-la, no cruzamento entre dois corredores.

— Perrin Aybara é meu — vociferou. — Leve essas suas mãos e sorrisos para longe dele!

Faile corou até a raiz dos cabelos quando ouviu o que dissera. Prometera a si mesma que nunca faria uma coisa dessas, nunca brigaria por um homem como uma camponesa rolando na terra durante a colheita.

Berelain arqueou a sobrancelha, impassível.

— É seu? Que estranho, não vi coleira nele. Vocês, serviçais… Ou será que você é a filha de algum fazendeiro? Vocês têm uma ideia mais estranha que a outra.

— Serviçal? Serviçal! Eu sou… — Faile mordeu a língua para segurar as palavras enfurecidas. A Primeira de Mayene, muito bem. Havia estados em Saldaea maiores que Mayene. Ela não duraria uma semana nas cortes de lá. Será que conseguia recitar poesias enquanto caçava? Conseguia cavalgar o dia inteiro durante a caça, depois tocar cítara à noite enquanto debatia como combater invasões de Trollocs? Achava que conhecia os homens, não achava? Será que conhecia a linguagem dos leques? Será que era capaz de mandar um homem vir, ir, ficar, e mais centenas de outras coisas, apenas girando o punho e posicionando um leque de renda? Que a Luz brilhe sobre mim, o que é que estou pensando? Jurei que jamais seguraria um leque outra vez! Mas havia outros costumes em Saldaea. Faile ficou surpresa ao ver a faca em sua mão. Aprendera a não desembainhar uma faca a menos que tivesse intenção de usá-la. — As fazendeiras de Saldaea têm um jeito de lidar com mulheres que roubam os homens das outras. Se não jurar esquecer Perrin Aybara, raspo seus cabelos até deixar você careca como um ovo. Talvez os rapazes que cuidam das galinhas passem a desejá-la depois disso!

Não soube ao certo como foi que Berelain agarrou seu pulso, mas de repente saiu voando pelos ares. O chão que se chocou contra suas costas tirou todo o ar de seus pulmões.

Berelain ficou sorrindo, batendo com a lâmina da faca de Faile na palma da mão.

— Um costume de Mayene. Os tairenos gostam muito de contratar assassinos, e nem sempre há guardas por perto. Detesto ser atacada, fazendeira, então eis o que vou fazer. Vou tirar o ferreiro de você e fazer dele meu bichinho de estimação, enquanto ele me mantiver entretida. Juramento de Ogier, fazendeira. Ele é extasiante, de fato… Aqueles ombros, aqueles braços… sem falar nos olhos. E, mesmo que falte um pouco de cultura, isso eu posso consertar. Meus cortesãos podem ensiná-lo a se vestir e livrá-lo daquela barba horrenda. Aonde quer que ele vá, eu o encontrarei e o tomarei para mim. Você pode ficar com ele depois que eu terminar. Isso se ele ainda a quiser, é claro.

Enfim conseguindo respirar, Faile pôs-se de pé com dificuldade e desembainhou uma segunda faca.

— Ah, mas eu vou arrastar você até ele, depois de rasgar isso que você diz serem roupas, e a fazer dizer que não passa de uma porca! — Que a Luz me ajude, estou me comportando como uma fazendeira e falando igualzinho a uma! A pior parte era que ela tinha intenção de fazer aquilo mesmo.

Berelain posicionou-se, cautelosa. Pretendia lutar com as mãos, obviamente, não com a faca. Segurava-a como um leque. Faile avançou nas pontas dos pés.

De repente, Rhuarc surgiu no meio das duas, alto como uma torre, agarrando as facas antes que as mulheres percebessem sua chegada.

— Será que já não viram bastante sangue por hoje? — perguntou, em um tom frio. — De todos os que imaginei que encontraria perturbando a paz, vocês duas eram as últimas da lista.

Faile encarou o homem, boquiaberta. Sem avisar, deu um rodopio e mirou o punho nas costelas baixas de Rhuarc. Ali, o durão sentiria.

O Aiel se moveu sem sequer olhar para ela, agarrou sua mão e girou o braço para o lado com força. Ela se enrijeceu no mesmo instante, rezando para que o homem não deslocasse o seu braço.

Como se nada tivesse acontecido, o Aiel se dirigiu a Berelain.

— Vá para o seu quarto e não saia de lá antes de o sol despontar no horizonte. Não vou deixar que sirvam seu café da manhã. Um pouco de fome servirá muito bem para lembrar que há hora e lugar para brigas.

Berelain aprumou-se, indignada.

— Eu sou a Primeira de Mayene. Não receberei ordens como uma…

— Vá para o seu quarto. Agora — interrompeu Rhuarc, impassível. Faile se perguntou se conseguiria chutá-lo. Com certeza tensionara o corpo, pois, assim que a ideia surgiu, ele aumentou a pressão em seu punho, e ela se elevou nas pontas dos pés. — Caso contrário — continuou, para Berelain — repassaremos nossa primeira conversa juntos, eu e você. Aqui mesmo.

O rosto de Berelain se alternava entre o branco e o vermelho.

— Muito bem — disse, rígida. — Se você insiste, eu talvez possa…

— Não estou propondo um debate. Se eu ainda conseguir vê-la depois de contar até três… Um.

Dando um guinchinho, Berelain ergueu as saias e saiu correndo. Até correndo a mulher conseguia rebolar.

Faile encarou a Primeira, estupefata. Quase valia a pena ter o braço prestes a sair da junta. Rhuarc também observava Berelain ir embora, um sorrisinho contente nos lábios.

— Vai me segurar a noite inteira? — perguntou Faile. O homem a soltou, depois guardou as facas no cinto. — São minhas!

— Não mais — disse o homem. — A punição de Berelain pela briga foi que você a visse enxotada para o quarto feito uma criancinha teimosa. A sua será perder essas facas pelas quais tem tanto apreço. Sei que tem outras. Se discutir, posso acabar levando elas também. Não permitirei que a paz seja quebrada.