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Uma fila de mulas seguia atrás deles, trazendo arcas, barris, e cestas de delícias para evitar que o senhor do queijo sentisse apetite. Naquela manhã mordiscaram salsichas com especiarias, empurradas para baixo por um vinho castanho de baga-fumo. Enguias em gelatina e tintos de Dorne preencheram-lhes à tarde. Ao chegar a noite, houve presuntos em fatias, ovos cozidos e cotovias assadas recheadas com alho e cebolas, com cervejas louras e vinhos ardentes de Myr para ajudar à digestão. Mas a liteira era tão lenta como confortável, e o anão depressa deu por si cheio de impaciência.

— Vamos demorar quantos dias a chegar ao rio? — perguntou a Illyrio naquela noite. — A este ritmo, os dragões da sua rainha serão maiores do que os três de Aegon antes de eu pôr os olhos neles.

— Seria bom que assim fosse. Um dragão grande é mais temível do que um pequeno. — O magíster encolheu os ombros. — Por muito que me agradasse dar as boas-vindas à Rainha Daenerys em Volantis, tenho de confiar em vós e em Griff para isso. Posso servi-la melhor em Pentos, suavizando o caminho para o seu regresso. Mas enquanto estou com você... Bem, um velho gordo tem de ter os seus confortos, sim? Vá, beba uma taça de vinho.

— Diga-me — disse Tyrion enquanto bebia — porque haveria um magíster de Pentos de ter algum interesse em quem usa a coroa em Westeros? Onde está para você o lucro neste empreendimento, senhor? O gordo limpou com pancadinhas a gordura dos lábios.

— Eu sou um velho, cansado deste mundo e das suas traições. Será assim tão estranho que deseje fazer algum bem antes de os meus dias chegarem ao fim, para ajudar uma doce menininha a reconquistar aquilo que é seu direito de nascimento?

A seguir vai me oferecer uma armadura mágica e um palácio em Valíria.

— Se Daenerys não for mais do que uma doce menininha, o Trono de Ferro vai cortá-la em doces pedacinhos.

— Não temas, meu pequeno amigo. O sangue de Aegon, o Dragão, corre-lhe nas veias.

Juntamente com o sangue de Aegon, o Indigno, Maegor, o Cruel, e Baelor, o Confundido.

— Fale-me mais dela. O gordo ficou pensativo.

— Daenerys era praticamente uma criança quando veio falar comigo, mas era ainda mais bonita do que a minha segunda esposa, tão adorável que me senti tentado a ficar com ela para mim. Mas era uma coisinha tão temerosa e furtiva que soube que não obteria qualquer alegria em me ligar a ela. Em vez disso, chamei uma aquecedora de cama e fodi-a vigorosamente até a loucura passar. Em boa verdade, não pensei que Daenerys sobrevivesse durante muito tempo entre os senhores dos cavalos.

— Isso não lhe impediu de a vender a Khal Drogo…

— Os dothraki nem compram nem vendem. Diga antes que o irmão Viserys a ofereceu a Drogo para ganhar a amizade do khal. Um jovem presunçoso e ganancioso. Viserys desejava intensamente o trono do pai, mas também desejava Daenerys, e abominava a ideia de abrir mão dela. Na véspera do casamento da princesa, tentou esgueirar-se para dentro da sua cama, insistindo que, se não podia obter a mão dela, obteria a virgindade. Se eu não tivesse tomado a precaução de pôr guardas à porta dela, Viserys podia ter desfeito anos de planeamento.

— Parece um completo idiota.

— Viserys era filho do Louco Aerys, sem dúvida. Daenerys… Daenerys é bastante diferente. — Enfiou uma cotovia na boca e esmagou-a ruidosamente, com ossos e tudo. — A criança assustada que se abrigou na minha mansão morreu no mar Dothraki, e renasceu em sangue e fogo. Esta rainha dos dragões que usa o seu nome é uma verdadeira Targaryen. Quando enviei navios para trazê-la para casa, desviou-os para a Baía dos Escravos. Em poucos dias, conquistou Astapor, fez Yunkai dobrar o joelho e saqueou Meereen. Mantarys será a próxima, se marchar para oeste pelasvelhas estradas valirianas. Se vier por mar, bem… a sua frota terá de embarcar comida e água em Volantis.— Por terra ou por mar, há longas léguas entre Meereen e Volantis —observou Tyrion.

— Quinhentas e cinquenta, em voo de dragão, por desertos, montanhas, pântanos e ruínas assombradas por demônios. Serão mais do que muitos os que perecerão, mas aqueles que sobreviverem estarão mais fortes quando chegarem a Volantis… aí o encontrarão à espera deles com Griff, com forças descansadas e navios suficientes para cruzar com todos o mar até Westeros.

Tyrion pensou em tudo o que sabia sobre Volantis, a mais antiga e mais orgulhosa das Nove Cidades Livres. Havia ali algo de errado. Mesmo com meio nariz conseguia cheirá-lo.

— Diz-se que há cinco escravos por cada homem livre em Volantis.

Porque haveriam os patriarcas de ajudar uma rainha que esmagou o comércio de escravos? — Apontou para Illyrio. — E, já agora, porque haveria você de o fazer? A escravatura pode ser proibida pelas leis de Pentos, mas você também tem um dedo nesse negócio, talvez mesmo uma mão inteira. E, no entanto, conspira em prol da rainha dos dragões, e não contra ela. Porquê? O que espera ganhar com a Rainha Daenerys?

— Voltámos outra vez a isso? É um homenzinho persistente. —Illyrio soltou uma gargalhada e deu uma palmada na barriga. — Como quiser. O Rei Pedinte jurou que eu seria o seu mestre da moeda, e também um senhor importante. Quando pusesse na cabeça a sua coroa dourada, eu podia escolher os castelos que quisesse… mesmo Rochedo Casterly, se o desejasse.

Tyrion deitou vinho pelo coto deformado que fora o seu nariz.

— O meu pai teria adorado ouvir isso.

— O senhor vosso pai não tinha motivos de preocupação. Porque haveria eu de querer um rochedo? A minha mansão é suficientemente grande para qualquer homem, e mais confortável do que os seus castelos de Westeros com as suas correntes de ar. Agora, mestre da moeda… — O gordo descascou outro ovo. — Eu gosto de moedas. Haverá algum som mais agradável do que o tinir de ouro em ouro?

Os gritos de uma irmã.

— Tem mesmo a certeza de que Daenerys cumprirá as promessas do irmão?

— Ou cumprirá ou não cumprirá. — Illyrio cortou metade do ovo com uma dentada. — Já o tinha dito, meu pequeno amigo, nem tudo o que um homem faz é feito pelo lucro. Acredite no que quiser, mas até velhos patetas gordos como eu têm amigos, e dívidas de afeto a pagar.

Mentiroso, pensou Tyrion. Há qualquer coisa neste empreendimento que vale mais para ti do que dinheiro ou castelos.

— Encontram-se tão poucos homens que dão mais valor à amizade do que ao ouro nos dias que correm.

— É bem verdade — disse o gordo, surdo à ironia.

— Como foi que a Aranha se tornou tão preciosa para você?

— Passamos a juventude juntos, dois rapazes inexperientes em Pentos.

— Varys veio de Myr.

— Pois veio. Conheci-o não muito tempo depois de chegar, um passo à frente dos escravagistas. De dia dormia nos esgotos, de noite percorria os telhados como um gato. Eu era quase tão pobre como ele, um espadachim vestido de seda suja, vivendo da minha espada. Talvez tenha calhado ver a estátua perto da minha piscina? Pytho Malanon esculpiu aquilo quando eu tinha dezesseis anos. Uma coisa adorável, embora eu agora chore ao vê-la.

— A idade transforma-nos a todos em ruínas. Ainda estou de luto pelo meu nariz. Mas Varys…