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Mas Griff era inconfundível.

— Já chega de gritaria — disse. Um súbito silêncio caiu sobre o rio. Este vai dar problemas, compreendeu Tyrion de imediato. O manto de Griff fora feito com a pele e a cabeça de um lobo vermelho do Roine. Sob a pele usava couro castanho enrijecido com anéis de ferro. A cara escanhoada também era coriácea, com rugas nos cantos dos olhos. Embora o cabelo fosse tão azul como o do filho, tinha raízes ruivas e sobrancelhas ainda mais ruivas. Ao quadril pendia uma espada e um punhal. Se estava contente por ter Pato e Haldon de volta, escondia-o bem, mas não se preocupou em ocultar o desprazer que sentiu ao ver Tyrion.

— Um anão? O que é isto?

— Eu sei, estava à espera de uma rodela de queijo. — Tyrion virou-se para o Jovem Griff e dirigiu ao rapaz o seu sorriso mais desarmante. —Cabelo azul pode servir-te bem em Tyrosh, mas em Westeros as crianças lhe atiriam pedras e as mulheres ririam na sua cara. O rapaz foi apanhado de surpresa.

— A minha mãe foi uma senhora de Tyrosh. Pinto o cabelo em sua memória.

— Que criatura é esta? — exigiu saber Griff.

— Illyrio mandou uma carta explicando.

— Então a quero. Leva o anão para a minha cabine.

Não gosto dos olhos dele, refletiu Tyrion quando o mercenário se sentou na sua frente na relativa escuridão do interior do barco, com uma mesa cheia de marcas e uma vela de sebo entre ambos. Eram de um azul de gelo, claros, frios. O anão não gostava de olhos claros. Os olhos de Tywin tinham sido verdes claros, e pintalgados de dourado.

Observou o mercenário enquanto lia. Que soubesse ler já dizia algo em si mesmo. Quantos mercenários podiam gabar-se de tal coisa? Ele quase nem mexe os lábios, refletiu Tyrion.

Por fim, Griff ergueu os olhos do pergaminho e aqueles olhos claros estreitaram-se.

— Tywin Lannister está morto? Pelas suas mãos?

— Ao meu dedo. Este. — Tyrion ergueu-o para que Griff o admirasse. — O Lorde Tywin estava sentado numa latrina, portanto, espetei-lhe um dardo de besta nas tripas para ver se ele cagaria mesmo ouro. Não cagava. Uma pena, algum ouro podia ter-me sido útil. E também matei a minha mãe, algo mais cedo. Oh, e o meu sobrinho Joffrey, envenenei-o no banquete de casamento e vi-o sufocar até à morte. O queijeiro esqueceu-se dessa parte? Pretendo acrescentar o meu irmão e a minha irmã à lista antes de acabar, se agradar à sua rainha.

— Agradar-lhe? Terá Illyrio perdido o juízo? Porque é que ele imagina que Sua Graça aceitará os serviços de um confesso regicida e traidor? Uma questão pertinente, pensou Tyrion, mas o que disse foi:

— O rei que matei estava sentado no trono dela, e todos aqueles que traí eram leões, por isso, parece-me que já prestei à rainha bons serviços. —Coçou o toco do nariz. — Não tenha medo, não vou matar-lhe, não é da minha família. Posso ver o que o queijeiro escreveu? Tenho um fraquinho por ler a meu respeito.

Griff ignorou o pedido. Em vez de lhe dar resposta levou a carta à chama da vela e ficou observando o pergaminho a enegrecer, enrolar e incendiar-se.

— Há sangue entre Targaryen e Lannister. Porque haveria você de apoiar a causa da Rainha Daenerys?

— Por ouro e pela glória — disse o anão num tom alegre. — Oh, e por ódio. Se tivesse conhecido a minha irmã, compreenderia.

— Eu compreendo o ódio bastante bem. — Pelo modo como Griff disse a palavra, Tyrion compreendeu que aquilo era verdade. Este também jantou ódio. Foi aquecendo-o durante a noite ao longo de anos.

— Então temos isso em comum, sor.

— Não sou cavaleiro nenhum.

Não só é mentiroso, como é mal mentiroso. Isso foi desastrado e estúpido, senhor.

— E, no entanto, Sor Pato diz que o armou cavaleiro.

— Pato fala demais.

— Alguns poderiam espantar-se por um pato conseguir falar de todo. Não importa, Griff. Não é cavaleiro nenhum e eu sou Hugor Hill, um monstrinho. O seu monstrinho, se quiser. Tem a minha palavra, tudo o que desejo é ser um leal servo da sua rainha dos dragões.

— E como é que propõe servi-la?

— Com a língua. — Lambeu os dedos, um por um. — Posso dizer a Sua Graça como a minha querida irmã pensa, se é que é possível chamar aquilo pensar. Posso dizer aos seus capitães qual a melhor maneira de derrotar o meu irmão Jaime em batalha. Sei quais dos senhores têm coragem e quais são covardes, quais são leais e quais são venais. Posso entregar-lhe aliados. E sei muitíssimo sobre dragões, como o seu semi-meistre te dirá. E também sou divertido, e não como muito. Considera-me o seu leal duende. Griff refletiu naquilo por um momento.

— Compreende o seguinte, anão. É o último e o menos importante do nosso grupo. Domina a língua e faz o que lhe é dito, senão depressa desejará tê-lo feito.

Sim, pai, quase disse Tyrion.

— Como quiser, senhor.

— Não sou senhor nenhum.

Mentiroso.

— Era uma cortesia, meu amigo.

— Também não sou seu amigo.

Não é cavaleiro, não é senhor, não és amigo.

— É uma pena.

— Poupe-me da sua ironia. Levo-te até Volantis. Se mostrar-se obediente e útil, poderá ficar conosco, para servir a rainha o melhor que puder. Se mostrar que dá mais problemas do que os que vale, pode seguir o seu próprio caminho.

Sim, e o meu caminho irá levar-me ao fundo do Roine com peixes mordiscando o que me resta de nariz. — Valar dohaeris.

— Pode dormir no convés ou no porão, como preferir. A Ysilla vai lhe arranjar mantas.

— Que bondade a dela. — Tyrion fez uma mesura bamboleante, mas ao chegar à porta da cabine virou-se para trás. — E se encontrarmos a rainha e descobrirmos que esta conversa de dragões não passou da fantasia ébria de um marinheiro qualquer? O vasto mundo está cheio desse tipo de histórias loucas. Gramequins e snarks, fantasmas e vampiros, sereias, demônios das rochas, cavalos alados, porcos alados… leões alados.

Griff fitou-o, franzindo o semblante.

— Te avisei Lannister. Ou controla a sua língua ou a perde. Há aqui reinos em risco. As nossas vidas, os nossos nomes, a nossa honra. Isto não é nenhum jogo que estamos jogando para seu divertimento.

Claro que é, pensou Tyrion. O jogo dos tronos.

— Às suas ordens, capitão — murmurou, voltando a fazer uma venia.

DAVOS

O relâmpago dividiu o céu setentrional, delineando a torre negra da Lâmpada da Noite contra o céu branco azulado. Seis segundos mais tarde chegou o trovão, como um tambor distante.

Os guardas levaram Davos Seaworth por uma ponte de basalto negro e sob uma porta levadiça de ferro que mostrava sinais de ferrugem. Atrás dela ficava um profundo fosso salgado e uma porta levadiça suportada por um par de enormes correntes. Águas verdes ergueram-se por baixo, atirando para cima plumas de borrifos que iam se esmagar contra as fundações do castelo. Depois apareceu uma segunda casa de portão, maior do que a primeira, cujas pedras eram barbadas por algas verdes. Davos atravessou aos tropeções um pátio lamacento com as mãos presas pelos pulsos. Uma chuva fria picou-lhe os olhos. Os guardas empurraram-no pela escada acima, para dentro da cavernosa fortaleza de pedra de Quebrágua.