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Nem os dançarinos nem os homens que bebiam prestaram grande atenção a Theon Greyjoy quando ele se dirigiu ao estrado. Lorde Balon ocupava a Cadeira de Pedra do Mar, esculpida em forma de uma grande lula gigante a partir de um imenso bloco de pedra negra oleosa. Rezava a lenda que os Primeiros Homens tinham-na encontrado na costa de Velha Wyk quando chegaram às Ilhas de Ferro. À esquerda do cadeirão estavam os tios de Theon. Asha estava aninhada à direita, no lugar de honra.

– Chega tarde, Theon – observou Lorde Balon.

– Peço-lhe perdão – Theon ocupou o lugar vazio ao lado de Asha. Aproximando-se, sibilou ao seu ouvido: – Está no meu lugar.

Ela se virou para ele com olhos inocentes.

– Irmão, certamente se engana. Seu lugar é em Winterfell – o sorriso de Asha cortava. – E onde estão todas as roupas bonitas? Ouvi dizer que gostava de sentir seda e veludo contra a pele – ela estava vestida de suave lã verde, com um corte simples que fazia o tecido aderir ao esbelto contorno do seu corpo.

– Seu camisão deve ter enferrujado, irmã – Theon atirou em resposta. – Uma grande pena. Gostaria de vê-la toda vestida de ferro.

Asha limitou-se a soltar uma gargalhada.

– Talvez ainda veja, irmãozinho… Se acha que sua Cadela do Mar consegue acompanhar meu Vento Negro – um dos servos do pai se aproximou, transportando um jarro de vinho. – Hoje bebe cerveja ou vinho, Theon? – ela se aproximou mais. – Ou será que ainda sente sede de um pouco do leite da minha mãe?

Theon corou.

– Vinho – ele disse ao servo. Asha virou a cabeça e bateu na mesa, gritando por cerveja.

Theon partiu um pão ao meio, tirou uma côdea do miolo e chamou um cozinheiro para enchê-la com guisado de peixe. O cheiro do molho espesso o deixou um pouco agoniado, mas forçou-se a comer alguma coisa. Tinha bebido vinho suficiente para continuar flutuando ao longo de duas refeições. Se vomitar, será sobre ela.

– O pai sabe que se casou com aquele carpinteiro? – perguntou à irmã.

– Não mais do que Sigrin – ela encolheu os ombros. – Esgred foi o primeiro navio que ele construiu. Deu-lhe o nome da mãe. Dificilmente conseguiria dizer de qual das duas ele gosta mais.

– Cada palavra que me disse foi uma mentira.

Cada palavra não. Lembra-se de quando lhe disse que gosto de ficar por cima? – Asha sorriu.

Isso só o irritou mais.

– Toda aquela conversa sobre ser uma mulher casada e recém-engravidada…

– Ah, essa parte é bem verdadeira – Asha pôs-se em pé de um salto. – Rolfe, aqui – gritou para um dos dançarinos dos dedos, erguendo uma mão. Ele a viu, rodopiou, e de repente um machado levantou voo da sua mão, com a lâmina cintilando enquanto rodopiava à luz dos archotes. Theon teve tempo apenas para se sobressaltar antes de Asha roubar o machado do ar e atirá-lo à mesa, quebrando seu tabuleiro ao meio e respingando o conteúdo sobre o manto dele. – Este é o senhor meu esposo – a irmã de Theon enfiou a mão no vestido e puxou um punhal de entre os seios. – E este é o meu querido bebê de peito.

Theon Greyjoy não conseguiria imaginar sua cara naquele momento, mas subitamente percebeu que o Grande Salão ressoava com gargalhadas, todas à sua custa. Até o pai sorria, malditos fossem os deuses, e tio Victarion ria em voz alta. A melhor resposta que conseguiu arranjar foi um esgar enjoado. Veremos quem vai rir quando tudo isso chegar ao fim, cachorra.

Asha arrancou o machado da mesa e voltou a atirá-lo aos dançarinos, por entre assobios e sonoros vivas.

– Faria bem em prestar atenção ao que lhe disse sobre a escolha de uma tripulação – um servo ofereceu-lhes uma bandeja; ela apunhalou um peixe salgado e o comeu diretamente da ponta da adaga. – Se tivesse se incomodado em aprender alguma coisa a respeito de Sigrin, nunca teria se enganado. Um lobo durante dez anos, e desembarca aqui pensando que reina sobre as ilhas, mas não conhece nada nem ninguém. Por que os homens iriam lutar e morrer por você?

– Sou seu legítimo príncipe – Theon respondeu rigidamente.

– Segundo as leis das terras verdes, pode ser que seja. Mas nós aqui fazemos nossas próprias leis, ou será que se esqueceu?

De cara fechada, Theon virou-se para contemplar o tabuleiro que derramava líquido à sua frente. Não tardava, poderia ter guisado caindo no seu colo. Gritou por um servo que limpasse tudo aquilo. Esperei poder voltar para casa durante metade da minha vida, e para quê? Troça e desprezo? Aquela não era a Pyke de que se lembrava. Mas lembraria mesmo? Era tão novo quando o levaram como refém.

O banquete foi uma coisa bastante pobre, uma sucessão de guisados de peixe, pão preto e cabra sem tempero. A coisa mais saborosa que Theon encontrou para comer foi uma torta de cebola. Cerveja e vinho continuaram a fluir bem depois do último dos pratos ter sido levado.

Lorde Balon Greyjoy levantou-se da Cadeira de Pedra do Mar:

– Terminem as suas bebidas e venham até meu aposento privado – ordenou aos que o acompanhavam no estrado. – Temos planos a traçar – deixou-os sem mais uma palavra, flanqueado por dois dos seus guardas. Os irmãos seguiram-no pouco depois. Theon levantou-se para ir atrás deles.

– Meu irmãozinho está com pressa de ir embora – Asha ergueu o corno e gesticulou por mais cerveja.

– O senhor nosso pai está esperando.

– E tem estado, há muitos anos. Não lhe fará mal nenhum esperar um pouco mais… Mas, se teme a sua ira, corra atrás dele, vá. Não deve ter problemas em alcançar nossos tios – ela sorriu. – Afinal, um deles está bêbado de água do mar, e o outro é um grande boi castrado cinza, tão obtuso que provavelmente se perderá.

Theon voltou a se sentar, aborrecido.

– Não corro atrás de homem nenhum.

– De homem nenhum, mas de todas as mulheres?

– Não fui eu quem agarrou o seu pau.

– Não tenho um, lembra? Mas foi bem rápido em agarrar todas as outras partes de mim.

Theon sentiu o sangue subindo ao rosto.

– Sou um homem com os apetites de um homem. Que tipo de criatura desnaturada é você?

– Apenas uma tímida donzela – a mão de Asha dardejou sob a mesa e deu um apertão no seu sexo. Theon quase saltou da cadeira. – O quê? Não quer que o conduza para o porto, irmão?

– O casamento não é para você – decidiu Theon. – Quando eu governar, acho que a mandarei para as irmãs silenciosas – ficou em pé e foi embora, um pouco desequilibrado, em busca do pai.

Chovia quando chegou à ponte oscilante que levava à Torre do Mar. Seu estômago estava agitado e batendo como as ondas lá embaixo, e o vinho tinha deixado seus pés pouco firmes. Theon rangeu os dentes e agarrou-se bem à corda ao longo da travessia, fazendo de conta que era o pescoço de Asha que estava apertando.

O aposento privado estava muito úmido e cheio de correntes de ar como sempre. Enterrado em seu roupão de pele de foca, seu pai encontrava-se sentado à frente do braseiro, ladeado pelos irmãos. Victarion falava de ventos e marés quando Theon entrou na sala, mas Lorde Balon fez-lhe sinal para que se calasse.

– Já fiz meus planos. É hora que os ouçam.

– Eu tenho algumas sugestões…

– Quando eu precisar do seu conselho, vou pedi-lo – respondeu seu pai. – Chegou-nos uma ave de Velha Wyk. Dagmer está a caminho com os Drumm e os Stonehouse. Se o deus nos der bons ventos, zarparemos quando eles chegarem… Você zarpará. Quero que dê o primeiro golpe, Theon. Levará oito dracares para norte…

Oito? – seu rosto ficou vermelho. – O que posso esperar conseguir com apenas oito dracares?

– Deverá assolar a Costa Rochosa, saqueando as aldeias de pescadores e afundando qualquer navio que possa encontrar. Pode ser que faça com que alguns dos senhores do norte saiam das suas muralhas de pedra. Aeron vai acompanhá-lo, bem como Dagmer Boca Rachada.