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– Que o Deus Afogado abençoe nossas espadas – o sacerdote se manifestou.

Theon sentiu-se como se lhe tivessem dado um tabefe. Estavam mandando que fizesse trabalho de salteador, queimando os casebres dos pescadores e estuprando suas feias filhas, e mesmo assim parecia que Lorde Balon não confiava nele o suficiente até para fazer isso. Já era ruim o bastante ter de aguentar as sobrancelhas franzidas e as reprimendas do Cabelo-Molhado. Com Dagmer Boca Rachada junto, seu comando seria puramente nominal.

– Asha, minha filha – prosseguiu Lorde Balon, e Theon virou-se para ver que a irmã tinha entrado em silêncio na sala. – Você leva trinta dracares com homens escolhidos para lá da Ponta do Dragão Marinho. Desembarque nas planícies de maré a norte de Bosque Profundo. Marche rapidamente, e o castelo pode cair antes mesmo que saibam que está atacando.

Asha sorriu como um gato diante do leite.

– Sempre quis um castelo – ela respondeu, com voz doce.

– Então tome um.

Theon teve de morder a língua. Bosque Profundo era a fortaleza dos Glover. Com Robett e Galbart guerreando no sul, estaria fracamente defendido, e uma vez tomado o castelo, os homens de ferro teriam uma base segura no coração do norte. Devia ser eu o enviado para tomar Bosque Profundo. Ele conhecia Bosque Profundo, tinha visitado os Glover várias vezes com Eddard Stark.

– Victarion – disse Lorde Balon ao irmão –, o ataque principal caberá a você. Quando meus filhos tiverem dado seus golpes, Winterfell terá de responder. Deverá encontrar pouca oposição enquanto subir a Lança de Sal e o Rio Febre. Na nascente estará a menos de vinte milhas de Fosso Cailin. O Gargalo é a chave do reino. Já dominamos os mares ocidentais. Uma vez que estivermos na posse de Fosso Cailin, o filhote não será capaz de reconquistar o Norte… E, se for suficientemente louco para tentar, seus inimigos selarão a extremidade sul do talude nas suas costas, e Robb, o Rapaz, se verá encurralado como uma ratazana numa garrafa.

Theon não conseguiu continuar em silêncio.

– Um plano ousado, pai, mas os senhores nos seus castelos…

Lorde Balon o interrompeu:

– Os senhores foram ao sul com o filhote. Os que ficaram para trás são os covardes, velhos e garotos imaturos. Vão se render, ou cairão um por um. Winterfell pode resistir durante um ano, mas, e daí? O resto será nosso, florestas, campos e palácios, e faremos do povo nossos servos e esposas de sal.

Aeron Cabelo-Molhado ergueu as mãos:

– E as águas da ira vão se erguer, e o Deus Afogado espalhará seu domínio pelas terras verdes!

– O que está morto não pode morrer – Victarion entoou.

Lorde Balon e Asha fizeram coro, e Theon não teve escolha a não ser resmungar as palavras com eles. E então acabou-se.

Lá fora, a chuva caía com mais força do que nunca. A ponte de corda balançava e torcia-se sob seus pés. Theon Greyjoy parou no meio do caminho e contemplou as rochas lá embaixo. O ruído das ondas era um rugido esmagador, e sentia o sal nos lábios. Uma súbita rajada de vento fez com que perdesse o equilíbrio, e caiu de joelhos.

Asha ajudou-o a ficar em pé.

– Também não consegue aguentar o vinho, irmão.

Theon apoiou-se no ombro dela e a deixou guiá-lo pelas tábuas escorregadias da chuva.

– Gostava mais de você quando era Esgred – disse-lhe acusadoramente.

Ela riu.

– É justo. Eu gostava mais de você quando era um menino de nove anos.

Tyrion

O som suave da harpa vertical atravessava a porta, misturado com trinados de flauta. A voz do cantor era abafada pelas paredes espessas, mas Tyrion conhecia os versos. Amei uma donzela bela como o verão, recordou, com a luz do sol nos cabelos

Naquela noite era Sor Meryn Trant quem guardava a porta da rainha. Seu resmungo de “Senhor” pareceu a Tyrion conter alguma má vontade, mas abriu a porta. A canção interrompeu-se abruptamente quando ele entrou no quarto de dormir da irmã.

Cersei estava reclinada numa pilha de almofadas. Tinha os pés descalços, os cabelos dourados cuidadosamente desordenados, e vestia um roupão de samito verde e dourado que capturava a luz das velas, e cintilou quando ela ergueu os olhos.

– Querida irmã – disse Tyrion –, como está bela esta noite – virou-se para o cantor: – E você também, primo. Não fazia ideia de que tivesse uma voz tão adorável.

O elogio deixou Sor Lancel carrancudo; talvez pensasse que estava sendo escarnecido. Parecia a Tyrion que o rapaz tinha crescido sete centímetros desde que fora armado cavaleiro. Lancel tinha cabelos espessos cor de areia, verdes olhos de Lannister e uma suave penugem loura sobre o lábio superior. Aos dezesseis anos, era amaldiçoado por todas as certezas da juventude, sem o tempero do menor traço de humor ou de autocrítica, e estava casado com a arrogância que enchia com tanta naturalidade aqueles que nasciam louros, fortes e bonitos. Sua recente ascensão social só o tinha deixado pior.

– Sua Graça mandou chamá-lo? – o rapaz exigiu saber.

– Que me lembre, não – Tyrion admitiu. – Dói-me perturbar seu divertimento, Lancel, mas acontece que tenho assuntos de importância a discutir com minha irmã.

Cersei o encarou com suspeita:

– Se veio aqui por causa daqueles irmãos suplicantes, Tyrion, poupe-me as suas censuras. Não aceitarei que espalhem pelas ruas suas imundas traições. Podem pregar uns aos outros nas masmorras.

– E têm sorte por terem uma rainha tão piedosa – Lancel acrescentou. – Eu teria arrancado suas línguas.

– Um deles até se atreveu a dizer que os deuses estavam nos punindo porque Jaime assassinou o legítimo rei – Cersei declarou. – Não suportarei mais isto, Tyrion. Dei-lhe ampla oportunidade para tratar destes piolhos, mas você e seu Sor Jacelyn não fizeram nada, portanto, ordenei que Vylarr tratasse do assunto.

– E foi o que ele fez – Tyrion ficara aborrecido quando os homens de manto vermelho arrastaram meia dúzia dos escabrosos profetas para as masmorras sem consultá-lo, mas não eram suficientemente importantes para lutar por causa deles. – Sem dúvida ficaremos todos melhor com um pouco de sossego nas ruas. Não foi por isso que vim. Trago novas que sei estará desejosa por ouvir, querida irmã, mas é melhor que sejam dadas em particular.

– Muito bem – o harpista e o flautista fizeram reverências e apressaram-se a sair, enquanto Cersei beijava castamente o sobrinho na bochecha. – Deixe-nos, Lancel. Meu irmão é inofensivo quando está sozinho. Se tivesse trazido seus animais de estimação, conseguiríamos sentir o fedor deles.

O jovem cavaleiro dirigiu um olhar maligno ao primo e bateu com a porta ao sair.

– Quero que saiba que obriguei Shagga a tomar banho de quinze em quinze dias – disse Tyrion quando Lancel saiu.

– Está muito satisfeito consigo mesmo, não está? Por quê?

– E por que não? – Tyrion respondeu. Todos os dias, e todas as noites, ressoavam martelos na Rua do Aço, e a grande corrente crescia. Saltou para cima da grande cama de dossel. – Foi nesta cama que Robert morreu? Surpreende-me que a tenha mantido.

– Dá-me sonhos cor-de-rosa. Agora, cuspa o que tem a dizer e se bamboleie daqui para fora, Duende.

Tyrion sorriu.

– Lorde Stannis zarpou de Pedra do Dragão.

Cersei pôs-se em pé como uma mola.

– E você fica aí sorrindo como uma abóbora do dia das colheitas? Bywater já chamou a Patrulha da Cidade? Temos que enviar imediatamente uma ave para Harrenhal – Tyrion já estava rindo. Ela o agarrou pelos ombros e o sacudiu. – Pare com isso. Está louco, ou bêbado? Pare com isso!

Tyrion quase não conseguiu botar as palavras para fora.

– Não posso – arquejou. – É demais… deuses, é engraçado demais… Stannis…

O quê?