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– Tente se lembrar disso – com aquelas palavras, Mindinho os deixou.

– Venha comigo, Varys – disse Tyrion. Saíram pela porta do rei, por detrás do trono, com os chinelos do eunuco raspando levemente na pedra.

– Lorde Baelish tem razão, sabia? A rainha nunca permitirá que mande embora sua guarda.

– Permitirá. O senhor vai cuidar disso.

Um sorriso tremeluziu nos lábios fartos de Varys.

– Ah, sim?

– Oh, com certeza. Dirá que faz parte do meu plano para libertar Jaime.

Varys afagou uma bochecha empoada.

– Isto envolverá, sem dúvida, os quatro homens que o seu Bronn procurou com tanta diligência em todos os lugares de má fama de Porto Real. Um ladrão, um envenenador, um pantomimeiro e um assassino.

– Enfie-os em manto carmesim e elmos com leões, e não parecerão nada diferentes dos outros guardas. Procurei durante algum tempo por um estratagema que pudesse introduzi-los em Correrrio antes de me lembrar de escondê-los à vista de todos. Entrarão pelo portão principal, exibindo estandartes Lannister e escoltando os ossos de Lorde Eddard – Tyrion deu um sorriso torto. – Quatro homens sós seriam bem vigiados. Quatro, no meio de uma centena, podem se perder. Por isso preciso mandar os guardas verdadeiros com os falsos… O que você dirá à minha irmã.

– E pelo seu amado irmão, ela consentirá, apesar das desconfianças – os dois caminhavam por uma colunata deserta. – Apesar disso, a perda de seus homens de manto vermelho certamente irá deixá-la inquieta.

– Gosto dela inquieta – Tyrion respondeu.

Sor Cleos Frey partiu naquela mesma tarde, escoltado por Vylarr e cem guardas Lannister de manto vermelho. Os homens que Robb Stark enviara juntaram-se a eles no Portão do Rei, para a longa viagem rumo ao oeste.

Tyrion encontrou Timett na caserna, jogando dados com seus Homens Queimados.

– Venha ao meu aposento privado à meia-noite.

Timett lançou-lhe um olhar duro e zarolho, e um pequeno aceno com a cabeça. Não era homem de longos discursos.

Naquela noite, Tyrion banqueteou-se com os Corvos de Pedra e os Irmãos da Lua no Salão Pequeno, embora por uma vez tenha evitado o vinho. Queria se manter na posse de todas as suas faculdades.

– Shagga, em que lua estamos?

O franzir da testa de Shagga era uma coisa feroz.

– Negra, acho eu.

– No oeste, chamam de lua do traidor. Tente não se embebedar muito esta noite, e garanta que seu machado esteja afiado.

– O machado de um Corvo de Pedra está sempre afiado, e os machados de Shagga são os mais afiados de todos. Uma vez cortei a cabeça de um homem, mas ele só soube quando tentou escovar o cabelo. Porque, então, a cabeça caiu.

– É por isso que nunca escova o seu? – os Corvos de Pedra rugiram gargalhadas e bateram os pés, com Shagga fazendo mais barulho do que todos os outros.

À meia-noite, o castelo estava silencioso e escuro. Certamente alguns homens de manto dourado nas muralhas viram-no saindo da Torre da Mão, mas ninguém ergueu a voz. Ele era a Mão do Rei, e aonde ia era assunto seu.

A fina porta de madeira quebrou-se com um crac trovejante sob o salto da bota de Shagga. Pedaços voaram para dentro, e Tyrion ouviu um arquejo feminino de medo. Shagga desfez a porta com três poderosos golpes do seu machado e abriu caminho a chutes por entre as ruínas. Timett o seguiu, e depois entrou Tyrion, caminhando com cuidado por entre as lascas de madeira. A lareira tinha ardido até restarem apenas alguns carvões em brasa, e as sombras no quarto de dormir eram pesadas. Quando Timett arrancou as pesadas cortinas da cama, a criada nua sentou-se com grandes olhos brancos.

– Por favor, senhores – suplicou –, não me façam mal – afastou-se de Shagga, corada e temerosa, tentando cobrir seus encantos com as mãos, mas faltando-lhe uma.

– Vá – disse-lhe Tyrion. – Não é você que queremos.

– Shagga quer esta mulher.

– Shagga quer todas as putas desta cidade de putas – queixou-se Timett, filho de Timett.

– Sim – disse Shagga, impassível. – Shagga dava-lhe um filho forte.

– Se ela quiser um filho forte, saberá quem procurar – Tyrion interveio. – Timett, leve-a lá para fora… com gentileza, por favor.

O Homem Queimado puxou a moça da cama e quase a arrastou pelo aposento. Shagga ficou vendo-os partir, desolado como um cachorrinho. A moça tropeçou na porta estilhaçada, e saiu para o átrio, ajudada por um empurrão firme de Timett. Por cima de sua cabeça, os corvos crocitavam.

Tyrion arrancou o macio cobertor da cama, descobrindo o Grande Meistre Pycelle.

– Diga-me, a Cidadela aprova que se deite com as moças de servir, meistre?

O velho estava tão nu como a moça, embora fosse uma visão marcadamente menos atraente. Por uma vez, seus olhos de pálpebras pesadas estavam escancarados.

– Q-que significa isto? Sou um velho, seu servo leal…

Tyrion içou-se para cima da cama.

– Tão leal que enviou apenas uma de minhas cartas a Doran Martell. A outra entregou à minha irmã.

– N-não – Pycelle guinchou. – Não, é uma falsidade, juro, não fui eu. Varys, foi Varys, a Aranha, eu avisei…

– Será que todos os meistres mentem tão mal assim? Eu disse a Varys que ia dar ao Príncipe Doran meu sobrinho Tommen para criar. Disse a Mindinho que planejava casar Myrcella com Lorde Robert no Ninho da Águia. Não disse a ninguém que tinha oferecido Myrcella aos Dorne… Essa verdade encontrava-se apenas na carta que confiei ao senhor.

Pycelle agarrou-se a um canto do cobertor.

– As aves se perdem, as mensagens são roubadas ou vendidas… Foi Varys. Há coisas que poderia lhe dizer sobre esse eunuco que gelariam seu sangue…

– Minha senhora prefere meu sangue quente.

– Não se iluda, para cada segredo que o eunuco murmura ao seu ouvido, retém sete. E Mindinho, esse…

– Sei tudo sobre Lorde Petyr. É quase tão indigno de confiança quanto você. Shagga, corte seu membro viril e o dê às cabras.

Shagga levantou o enorme machado de lâmina dupla.

– Não há cabras, Meio Homem.

– Vire-se com o que houver.

Rugindo, Shagga saltou. Pycelle soltou um guincho e molhou a cama, fazendo a urina jorrar em todas as direções quando tentou se encolher e ficar fora de alcance. O selvagem o agarrou pela ponta da revolta barba branca e cortou três quartos dela com um único golpe de machado.

– Timett, acha que nosso amigo será mais cooperativo sem essa barba atrás da qual se esconde? – Tyrion usou um pedaço do lençol para limpar a urina das botas.

– Ele vai contar a verdade em breve – a escuridão enchia o poço vazio do olho queimado de Timett. – Consigo cheirar o fedor do seu medo.

Shagga atirou um punhado de cabelo nas esteiras, e agarrou a barba que restava.

– Fique quieto, meistre – Tyrion pediu. – Quando Shagga se irrita, suas mãos tremem.

– As mãos de Shagga nunca tremem – ecoou o enorme homem num tom indignado, empurrando a grande lâmina em forma de crescente contra o queixo trêmulo de Pycelle e cortando mais um emaranhado de pelos.

– Há quanto tempo espiona para minha irmã? – Tyrion perguntou.

A respiração de Pycelle era rápida e superficiaclass="underline"

– Tudo o que fiz foi pela Casa Lannister – uma película de suor cobria a larga cúpula da cabeça do velho, e madeixas de cabelo branco aderiam à sua pele enrugada. – Sempre… durante anos… o senhor seu pai, pergunte-lhe, fui sempre seu servo fiel… fui eu quem pediu a Aerys para abrir os portões…

Aquilo pegou Tyrion de surpresa. Não era mais do que um menino feio em Rochedo Casterly quando a cidade caiu.

– Então o Saque de Porto Real também foi obra sua?

– Pelo reino! Uma vez morto Rhaegar, a guerra estava terminada. Aerys era louco; Viserys, novo demais; Príncipe Aegon, um bebê de colo, mas o reino necessitava de um rei… Rezei para que fosse seu pai, mas Robert era forte demais, e Lorde Stark movimentou-se muito depressa…