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Por relutante que se sentisse em desapontá-la, Tyrion teve de ressaltar que embora a Senhora Tanda não fosse de modo algum uma mulher inteligente, até ela poderia se sentir curiosa se a criada de quarto da filha parecesse possuir mais joias do que a filha.

– Escolha dois ou três vestidos, não mais – tinha lhe ordenado. – Boa lã, nada de seda, nada de samito, e nada de peles. O resto guardarei em meus aposentos para quando me visitar – não era a resposta que Shae queria, mas pelo menos ela estaria a salvo.

Quando a investidura finalmente terminou, Joffrey marchou para o exterior entre Sor Balon e Sor Osmund, que ostentavam seus novos mantos brancos, enquanto Tyrion ficava para trocar algumas palavras com o novo Alto Septão (que tinha sido escolha sua, e era suficientemente sensato para saber quem punha o mel em seu pão).

– Quero os deuses do nosso lado – Tyrion foi direto, sem papas na língua. – Diga-lhes que Stannis jurou queimar o Grande Septo de Baelor.

– E é verdade, senhor? – perguntou o Alto Septão, um homem pequeno e arguto, com barba branca e fina e rosto chupado.

Tyrion encolheu os ombros:

– Pode ser. Stannis queimou o bosque sagrado em Ponta Tempestade como oferenda ao Senhor da Luz. Se foi capaz de ofender os deuses antigos, por que pouparia os novos? Diga-lhes isso. Diga-lhes que qualquer homem que pense em ajudar o usurpador trai tanto os deuses quanto seu legítimo rei.

– Direi, senhor. E vou lhes ordenar também para que rezem pela saúde do rei e de sua Mão.

Hallyne, o Piromante, esperava-o quando Tyrion voltou ao seu aposento privado, e Meistre Frenken havia trazido mensagens. Deixou o alquimista esperando um pouco mais enquanto lia o que os corvos lhe tinham trazido. Havia uma carta antiga de Doran Martell, prevenindo-o de que Ponta Tempestade caíra, e uma outra muito mais intrigante, proveniente de Balon Greyjoy em Pyke, que se intitulava Rei das Ilhas e do Norte. Convidava o Rei Joffrey a enviar um emissário às Ilhas de Ferro para estabelecer as fronteiras entre os dois reinos e discutir uma possível aliança.

Tyrion leu a carta três vezes e deixou-a de lado. Os dracares de Lorde Balon teriam sido uma grande ajuda contra a frota que se aproximava vinda de Ponta Tempestade, mas encontravam-se a milhares de léguas de distância, do lado errado de Westeros, e Tyrion estava longe de ter certeza se queria ceder metade do reino. Talvez deva despejar esta no colo de Cersei, ou levá-la ao conselho.

Só então recebeu Hallyne com as últimas contas dos alquimistas.

– Isso não pode ser verdade – disse Tyrion enquanto lia atentamente os livros. – Quase treze mil frascos? Considera-me um tolo? Previno-o de que não vou pagar o ouro do rei por frascos vazios e jarros de esgoto selados com cera.

– Não, não – Hallyne guinchou –, as somas são exatas, juro. Temos tido, hummm, grande fortuna, senhor Mão. Foi encontrado outro dos esconderijos de Lorde Rossart, mais de trezentos frascos. Sob o Fosso dos Dragões! Umas prostitutas tinham andado usando as ruínas para entreter seus fregueses, e um deles caiu num porão através de um pedaço de assoalho apodrecido. Quando apalpou os frascos, confundiu-os com vinho. Estava tão bêbado que quebrou o selo e bebeu um pouco.

– Houve um príncipe que uma vez tentou fazer isso – Tyrion disse secamente. – Não vi nenhum dragão levantando voo sobre a cidade, portanto, parece que dessa vez também não deu certo – o Fosso dos Dragões, na colina de Rhaenys, estava abandonado havia um século e meio. Supunha que era um lugar tão bom como qualquer outro para armazenar fogovivo, e melhor do que a maioria, mas teria sido bom se o falecido Lorde Rossart tivesse dito a alguém. – Trezentos frascos, diz? Isso ainda não justifica esses totais. Está vários milhares de frascos acima das melhores estimativas que me entregou da última vez em que nos encontramos.

– Sim, sim, é verdade – Hallyne limpou o suor de sua pálida testa com a manga da toga negra e escarlate. – Temos trabalhado muito duramente, senhor Mão, hummm.

– Isso sem dúvida explicaria por que motivo estão fazendo tanta quantidade extra de substância do que faziam antes – sorrindo, Tyrion encarou o piromante com seus olhos desiguais. – Se bem que me pergunto o porquê de só agora ter começado a trabalhar duramente.

Hallyne tinha a tez de um cogumelo, então era difícil entender como poderia ficar ainda mais pálido, mas de alguma forma conseguiu.

– Já trabalhávamos, senhor Mão, meus irmãos e eu temos trabalhado noite e dia desde o início, asseguro-lhe. É só que, hummm, fizemos tanta substância que nos tornamos, hummm, mais experimentados, digamos assim, e, além disso – o alquimista mexeu-se desconfortavelmente na cadeira –, certos feitiços, hummm, antigos segredos de nossa ordem, muito delicados, muito problemáticos, mas necessários se queremos que a substância seja, hummm, tudo aquilo que pode ser…

Tyrion estava ficando impaciente. Sor Jacelyn Bywater provavelmente já estava ali, e o Mão de Ferro não gostava de esperar.

– Sim, têm feitiços secretos; magnífico. O que há com eles?

– Eles, hummm, parecem estar funcionando melhor do que antes – Hallyne exibiu um sorriso fraco. – Não lhe parece que haja dragões andando por aí, não é?

– A menos que tenham encontrado um debaixo do Poço dos Dragões, não. Por quê?

– Ah, perdão, estava só me lembrando de uma coisa que o velho Sábio Pollitor me disse uma vez, quando era acólito. Eu tinha perguntado por que motivo tantos de nossos feitiços pareciam, bem, não tão eficientes como os pergaminhos queriam nos fazer crer, e ele disse que era por que a magia tinha começado a desaparecer do mundo no dia em que o último dragão morreu.

– Lamento desapontá-lo, mas não vi nenhum dragão. No entanto, reparei no Magistrado do Rei andando por aí. Se algum desses frutos que está me vendendo aparecer cheio com algo que não seja fogovivo, também irá reparar nele.

Hallyne fugiu tão rapidamente que quase esbarrou em Sor Jacelyn… Não. Lorde Jacelyn, tinha de se lembrar disso. O Mão de Ferro foi misericordiosamente direto, como sempre. Tinha regressado de Rosby para entregar um grupo fresco de lanceiros recrutados nas propriedades de Lorde Gyles e reassumir o comando da Patrulha da Cidade.

– Como está meu sobrinho? – Tyrion perguntou quando acabaram de discutir as defesas da cidade.

– O Príncipe Tommen está com saúde e feliz, senhor. Adotou um corço que alguns de meus homens trouxeram de uma caçada. Diz que tinha um antigamente, mas que Joffrey o esfolou para fazer um justilho. Às vezes pergunta pela mãe, e começa com frequência cartas para a Princesa Myrcella, mas parece nunca terminar nenhuma. Do irmão, no entanto, parece não ter saudade.

– Fez preparativos adequados para ele, caso a batalha seja perdida?

– Meus homens têm as instruções deles.

– Que são?

– Ordenou-me que não dissesse a ninguém, senhor.

Aquilo fez Tyrion sorrir.

– Agrada-me que tenha se lembrado – no caso de Porto Real cair, podia perfeitamente ser capturado vivo. Era melhor que não soubesse onde o herdeiro de Joffrey poderia ser encontrado.

Varys surgiu não muito tempo depois de Lorde Jacelyn sair.

– Os homens são criaturas tão infiéis – ele disse em tom de saudação.

Tyrion suspirou.

– Quem é o traidor de hoje?

O eunuco entregou-lhe um rolo.

– Tanta vilania canta uma triste canção sobre o nosso tempo. Terá a honra morrido com os nossos pais?

– Meu pai ainda não está morto – Tyrion examinou a lista. – Conheço alguns desses nomes. São homens ricos. Comerciantes, mercadores, artesãos. Por que conspirariam contra nós?