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– Os lobos gigantes – Theon falou. – Os dois, ao que parece – enojado, voltou para a ponte levadiça. Winterfell era cercado por duas sólidas muralhas de granito, com um fosso largo entre ambas. A muralha exterior erguia-se a vinte e quatro metros de altura, e a interior a mais de trinta. Faltando-lhe homens, Theon tinha sido forçado a abandonar as defesas exteriores e a colocar os guardas ao longo das muralhas interiores, mais altas. Não se atrevera a correr o risco de tê-los do lado errado do fosso, caso o castelo se rebelasse contra ele.

Devem ter sido dois ou mais, concluiu. Enquanto a mulher entretinha Drennan, os outros libertaram os lobos.

Theon pediu uma tocha e subiu à frente dos outros os degraus que conduziam à muralha. Movia a chama baixa à sua frente de um lado para o outro, à procura de… Ali. No interior do parapeito, na larga ameia que separava dois grandes merlões maciços.

– Sangue – ele anunciou. – Limpo sem cuidado. Suponho que a mulher tenha matado Drennan e descido a ponte levadiça. Squint ouviu o tinir das correntes, veio ver o que se passava e chegou até aqui. Empurraram o cadáver para o fosso através da ameia para não ser encontrado por outra sentinela.

Urzen espreitou ao longo das muralhas.

– Os outros torreões de vigia não estão longe. Vejo archotes ardendo…

– Archotes, não guardas – disse Theon de mau humor. – Winterfell tem mais torreões do que eu tenho homens.

– Quatro guardas no portão principal – disse Lorren Negro –, e cinco patrulhando as muralhas, além de Squint.

Urzen retrucou:

– Se ele tivesse tocado o berrante…

Sou servido por idiotas.

– Tente imaginar que quem estava aqui era você, Urzen. Está escuro e frio. Está há horas de sentinela, ansiando pelo fim de seu turno. Então, ouve um ruído e dirige-se ao portão, e de repente vê olhos no topo das escadas, brilhando, verdes e dourados, à luz do archote. Duas sombras correm para você mais depressa do que julgaria possível. Tem um vislumbre de dentes, começa a levantar a lança e eles esbarram em você e abrem sua barriga, rasgando o couro como se fosse pano para queijos – ele deu um forte empurrão em Urzen. – E agora está caído de costas, com as entranhas se derramando, e um deles tem os dentes em volta de sua garganta – Theon agarrou o pescoço magro do homem, apertou os dedos e sorriu. – Diga lá, em que momento durante tudo isso você para para soprar a merda do berrante? – empurrou Urzen rudemente, atirando-o aos tropeções contra uma das paredes. O homem esfregou a garganta. Devia ter mandado matar aqueles animais no dia em que tomamos o castelo, pensou, zangado. Já os tinha visto matar, sabia como eram perigosos.

– Temos de ir atrás deles – disse Lorren Negro.

– No escuro, não – Theon não apreciava a ideia de perseguir lobos selvagens na floresta à noite; os caçadores podiam facilmente se transformar em caça. – Esperaremos pela luz do dia. Até lá, é melhor que vá ter uma conversa com meus leais súditos.

No pátio, uma multidão inquieta de homens, mulheres e crianças tinha sido empurrada contra a muralha. A muitos não fora dado tempo para se vestirem; cobriam-se com mantas de lã, ou amontoavam-se nus sob mantos ou roupões. Uma dúzia de homens de ferro os rodeava, com tochas numa mão e armas na outra. O vento soprava em rajadas, e a oscilante luz alaranjada refletia-se de forma baça em elmos de aço, barbas espessas e olhos que não sorriam.

Theon caminhou de um lado para o outro diante dos prisioneiros, estudando seus rostos. Todos lhe pareciam culpados.

– Seis – Fedor surgiu atrás dele, cheirando a sabão, com o cabelo longo mexendo ao vento. – Os dois Stark, aquele rapaz dos pântanos e a irmã, o atrasado dos estábulos e a sua selvagem.

Osha. Suspeitara dela desde o momento em que viu a segunda taça. Devia ter sabido que não era boa ideia confiar naquela mulher. É tão desnaturada como Asha. Até os nomes são parecidos.

– Alguém deu uma olhada nos estábulos?

– Aggar diz que não faltam cavalos.

– A Dançarina continua na cocheira?

– Dançarina? – Fedor franziu a testa. – Aggar diz que os cavalos estão todos lá. Só falta o atrasado.

Então estão a pé. Era a melhor notícia que tinha ouvido desde que acordara. Bran estaria sentado no cesto às costas de Hodor, sem dúvida. Osha teria de carregar Rickon; suas pequenas pernas não o levariam longe por conta própria. Theon sentia-se confiante de que os teria novamente nas mãos em breve.

– Bran e Rickon fugiram – disse às pessoas do castelo, observando seus olhos. – Quem sabe para onde foram? – ninguém respondeu. – Não podem ter escapado sem ajuda – Theon prosseguiu. – Sem alimentos, roupas, armas – trancara todas as espadas e machados de Winterfell, mas não havia dúvidas de que algumas lâminas tinham sido escondidas dele. – Quero o nome de todos os que os ajudaram. Todos aqueles que fingiram não ver – o único som era o do vento. – À primeira luz do dia, pretendo trazê-los de volta – enfiou os polegares no cinto da espada. – Preciso de caçadores. Quem quer uma boa pele de lobo quentinha para ajudar a passar o Inverno? Gage? – o cozinheiro sempre o saudara alegremente quando voltava da caça, perguntando se teria trazido alguma peça de primeira para a mesa, mas agora não tinha nada a dizer. Theon virou-se e caminhou para o outro lado, perscrutando os rostos em busca do mínimo indício de um conhecimento culposo. – A floresta não é lugar para um aleijado. E Rickon, novo como é, quanto tempo durará lá fora? Ama, pense em como ele deve estar assustado – a velha tinha tagarelado com ele durante dez anos, contando suas infindáveis histórias, mas agora olhava-o de boca aberta como se fosse um estranho. – Podia ter matado todos os seus homens e dado suas mulheres aos meus soldados para que fizessem com elas o que bem entendessem, mas, em vez disso, os protegi. É esse o agradecimento que me dão? – Joseth, que cuidara de seus cavalos; Farlen, que lhe ensinara tudo o que sabia sobre cães de caça; Barth, a mulher do cervejeiro que tinha sido a sua primeira… nem um deles o encarava. Odeiam-me, compreendeu.

Fedor aproximou-se:

– Arranque suas peles – exortou, com os lábios grossos brilhando. – Lorde Bolton costumava dizer que um homem nu tem poucos segredos, mas um homem esfolado não tem nenhum.

Theon sabia que o homem esfolado era o símbolo da Casa Bolton; muito tempo antes, alguns de seus senhores chegaram até a usar a pele de inimigos mortos como manto. Alguns Stark tinham terminado assim. Supostamente, tudo aquilo terminara havia mil anos, quando os Bolton dobraram os joelhos a Winterfell. Pelo menos é o que dizem, mas os velhos hábitos custam a morrer, como eu sei muito bem.

– Não haverá esfolamentos no Norte enquanto eu governar Winterfell – disse Theon em voz alta. Sou sua única proteção contra gente como ele, quis gritar. Não podia ser tão claro, mas talvez alguns fossem suficientemente inteligentes para aprender a lição.

O céu estava se tornando cinzento sobre as muralhas do castelo. A alvorada não devia estar distante.

– Joseth, sele o Sorridente e um cavalo para você. Murch, Gariss, Poxy Tym, vocês vêm também – Murch e Gariss eram os melhores caçadores no castelo, e Tym era um bom arqueiro. – Aggar, Rednose, Gelmarr, Fedor, Wex – precisava dos seus para defender a retaguarda. – Farlen, vou querer cães de caça, e vou querê-lo para cuidar deles.

O grisalho mestre dos canis cruzou os braços.

– E por que eu me preocuparia em ir à caça de meus senhores legítimos, e ainda por cima crianças?