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– É bom saber disso – era uma pálida casca de mulher, com o rosto marcado pelo luto. – Estou muito cansada, senhor. Se me der licença para descansar, ficarei grata.

– Com certeza – Sor Rodrik respondeu. – Há tempo bastante para conversar amanhã.

Quando o dia seguinte chegou, a maior parte da manhã foi dedicada a falar de cereais, verduras e da salga de carne. Quando os meistres na sua Cidadela proclamavam a chegada do outono, os homens sensatos separavam uma parte de cada colheita… Se bem que o tamanho dessa parte era assunto que parecia necessitar de muita discussão. A Senhora Hornwood estava armazenando um quinto da sua colheita. Obedecendo à sugestão de Meistre Luwin, prometeu aumentar esse valor para um quarto.

– O bastardo de Bolton está reunindo homens no Forte do Pavor – preveniu-os. – Espero que pretenda levá-los para o sul e ir se juntar ao pai nas Gêmeas, mas quando mandei saber quais eram as suas intenções, mandou-me dizer que nenhum Bolton seria alguma vez interrogado por uma mulher. Como se fosse legítimo e tivesse direito àquele nome.

– Lorde Bolton nunca reconheceu o rapaz, que eu saiba – Sor Rodrik disse. – Confesso que não o conheço.

– Poucos conhecem – ela respondeu. – Viveu com a mãe até dois anos atrás, quando o jovem Domeric morreu e deixou Bolton sem herdeiro. Foi aí que trouxe o bastardo para o Forte do Pavor. Todos dizem que o rapaz é uma criatura ardilosa e tem um criado que é quase tão cruel como ele. Chamam o homem de Fedor. Dizem que nunca toma banho. Os dois caçam juntos, o Bastardo e este Fedor, e não são veados o que caçam. Ouvi histórias, coisas em que quase não acredito, mesmo dizendo respeito a um Bolton. E agora que o senhor meu esposo e o meu querido filho foram encontrar os deuses, o Bastardo olha com fome para as minhas terras.

Bran desejou dar à senhora cem homens para defender os seus direitos, mas Sor Rodrik disse apenas:

– Ele pode olhá-las, mas, se fizer mais do que isso, prometo-lhe que as consequências serão severas. Estará bastante segura, senhora… Embora talvez, a seu tempo, quando seu luto passar, fosse prudente voltar a se casar.

– Já passei do tempo em que podia dar à luz, e a beleza que tive há muito fugiu – ela respondeu com um meio sorriso fatigado –, mas os homens vêm me farejar como nunca fizeram quando era donzela.

– Não vê com bons olhos esses pretendentes? – Luwin perguntou.

– Casarei de novo se Sua Graça ordenar – ela respondeu –, mas Mors Crowfood é um bruto bêbado, e mais velho do que meu pai. Quanto ao meu nobre primo Manderly, a cama do meu senhor não é suficientemente grande para aguentar um homem de tal majestade, e eu sou certamente pequena e frágil demais para me deitar por baixo dele.

Bran sabia que os homens dormiam em cima das mulheres quando dividiam a cama. Imaginava que dormir debaixo de Lorde Manderly seria como estar embaixo de um cavalo caído. Sor Rodrik dirigiu à viúva um aceno compreensivo.

– Terá outros pretendentes, senhora. Tentaremos encontrar um pretendente mais do seu agrado.

– Talvez não precise procurar muito longe, sor.

Depois de ela ter se retirado, Meistre Luwin sorriu.

– Sor Rodrik, creio que a senhora o aprecia.

Sor Rodrik pigarreou e pareceu desconfortável.

– Ela estava muito triste – Bran comentou.

Sor Rodrik anuiu.

– Triste e honrada. E nada deselegante para uma mulher da sua idade, apesar de toda sua modéstia. Mas, mesmo assim, um perigo para a paz do reino do seu irmão.

– Ela? – Bran se espantou.

Foi Meistre Luwin quem respondeu.

– Sem herdeiro direto, haverá com certeza muitos pretendentes disputando as terras dos Hornwood. Tanto os Tallhart como os Flint e os Karstark têm ligações com a Casa Hornwood por linha feminina, e os Glover estão criando o bastardo de Lorde Harys em Bosque Profundo. O Forte do Pavor não tem nenhuma pretensão, que eu saiba, mas as terras são contíguas, e Roose Bolton não é homem que deixaria passar uma chance dessas.

Sor Rodrik puxou as suíças.

– Em casos assim, seu suserano deverá encontrar para ela um par adequado.

– Por que o senhor não poderia desposá-la? – Bran quis saber. – Disse que é elegante e Beth teria uma mãe.

O velho cavaleiro pôs uma mão no braço de Bran.

– Uma ideia amável, meu príncipe, mas sou apenas um cavaleiro e, além disso, velho demais. Poderia manter as terras dela durante alguns anos, mas, assim que morresse, a Senhora Hornwood voltaria ao mesmo atoleiro, e os pretendentes de Beth poderiam também ser perigosos.

– Então deixe que o bastardo de Lorde Hornwood seja o herdeiro – Bran sugeriu, pensando no seu meio-irmão Jon.

Sor Rodrik disse:

– Isso agradaria aos Glover e talvez à sombra de Lorde Hornwood, mas não creio que a Senhora Hornwood iria simpatizar conosco. O garoto não é do seu sangue.

– Em todo caso – disse Meistre Luwin –, essa possibilidade tem de ser levada em conta. A Senhora Donella já passou dos seus anos férteis, como ela própria disse. Se não for o bastardo, então, quem?

– Posso me retirar? – Bran conseguia ouvir os escudeiros treinando com as espadas no pátio lá embaixo, o ressoar de aço batendo em aço.

– Como quiser, meu príncipe – Sor Rodrik anuiu. – Esteve bem.

Bran corou de prazer. Ser um senhor não era tão entediante como temia, e a Senhora Hornwood tinha sido muito mais rápida do que Lorde Manderly, até lhe restavam algumas horas de dia para ir visitar Verão. Gostava de passar algum tempo com seu lobo todos os dias, quando Sor Rodrik e o meistre lhe permitiam.

Assim que Hodor entrou no bosque sagrado, Verão emergiu de debaixo de um carvalho, quase como se soubesse que eles estavam chegando. Bran vislumbrou um esguio vulto negro que também os observava de dentro dos arbustos.

– Felpudo – chamou. – Vem cá, Cão Felpudo. Aqui – mas o lobo de Rickon desapareceu tão rapidamente como havia surgido.

Hodor sabia qual era o lugar favorito de Bran e o levou para a margem da lagoa sob a grande sombra da árvore-coração, onde Lorde Eddard costumava se ajoelhar para rezar. Marolas corriam pela superfície da água quando chegaram, fazendo o reflexo do represeiro tremer e dançar. Mas não havia vento. Por um instante, Bran sentiu-se desconcertado.

Então, Osha surgiu de dentro da lagoa com um grande espirrar de água, tão subitamente que até Verão saltou para trás, rosnando. Hodor afastou-se aos pulos, gemendo “Hodor, Hodor”, consternado, até que Bran deu palmadinhas no seu ombro para acalmar seus medos.

– Como pode nadar aí? – perguntou a Osha. – Não é frio?

– Quando era bebê, mamei pingentes de gelo, garoto. Gosto do frio – Osha nadou para as rochas e saiu da água, pingando. Estava nua, com pele enrugada. Verão aproximou-se com cuidado e a farejou. – Quis tocar o fundo.

– Não sabia que havia um fundo.

– Talvez não haja – ela sorriu. – O que está olhando, rapaz? Nunca viu uma mulher?

– Vi, claro – Bran tinha tomado banho com as irmãs centenas de vezes e também tinha visto criadas nas lagoas quentes. Mas Osha parecia diferente, dura e angulosa, em vez de macia e cheia de curvas. Suas pernas eram só tendões, os seios achatados como duas bolsas vazias. – Tem um monte de cicatrizes.

– Todas elas duramente conquistadas – Osha pegou a camisa marrom, sacudiu dela algumas folhas e a enfiou pela cabeça.

– Lutando contra gigantes? – Osha dizia que ainda havia gigantes para lá da Muralha. Um dia talvez eu até veja um

– Lutando contra homens – amarrou um pedaço de corda em torno da cintura para fazer de cinto. – Corvos negros, normalmente. E matei um, sim – Osha se vangloriou, sacudindo o cabelo. Tinha crescido desde que viera para Winterfell, e já passava das suas orelhas. Parecia mais suave do que a mulher que antes tentara assaltá-lo e matá-lo na mata de lobos. – Ouvi algum falatório hoje na cozinha a respeito de você e daqueles Frey.