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– Quem? O que disseram?

Osha dirigiu-lhe um sorriso amargo.

– Que um garoto que caçoa de um gigante é um tolo, e que é um mundo louco aquele em que um aleijado tem de defendê-lo.

– Hodor não chegou a perceber que estavam caçoando dele – Bran respondeu. – Seja como for, ele nunca luta.

Lembrou-se de uma vez, quando era pequeno, a caminho da praça do mercado com a mãe e a Septã Mordane. Tinham trazido Hodor como carregador, mas ele tinha se afastado e, quando foram encontrá-lo, uns garotos tinham-no encurralado numa viela, atormentando-o com paus. “Hodor!”, gritava o gigante, enrolando-se com medo e cobrindo-se com os braços, mas não chegou a levantar uma mão contra aqueles que o atormentavam.

– Septão Chayle diz que ele tem um espírito bondoso.

– Sim – ela confirmou –, e mãos com força suficiente para arrancar do pescoço a cabeça de um homem, se resolver fazê-lo. Em todo caso, é melhor que ele tome cuidado perto daquele Walder. Ele, e você também. O grande a quem chamam pequeno, cá para mim, tem o nome bem dado. Grande por fora, pequeno por dentro, e malvado até os ossos.

– Ele nunca se atreveria a me fazer mal. Tem medo do Verão, não importa o que diga.

– Então, pode ser que não seja tão estúpido como parece – Osha era sempre cautelosa perto dos lobos gigantes. No dia em que tinha sido capturada, Verão e Vento Cinzento tinham rasgado três selvagens em pedaços ensanguentados. – Ou pode ser que seja. E isso também cheira a problema – ela prendeu o cabelo. – Teve mais daqueles sonhos de lobo?

– Não – Bran não gostava de falar dos sonhos.

– Um príncipe deveria mentir melhor que isso – Osha soltou uma gargalhada. – Bem, seus sonhos são assunto seu. Os meus estão nas cozinhas, e é melhor que vá voltando antes que Gage comece a gritar e a sacudir aquela sua grande colher de madeira. Com a sua licença, meu príncipe.

Ela nunca devia ter falado dos sonhos de lobo, Bran pensou, enquanto Hodor subia com ele os degraus que levavam ao seu quarto. Lutou contra o sono o máximo que pôde, mas, por fim, foi tomado por ele, como sempre. Naquela noite, sonhou com o represeiro. A árvore o estava olhando com seus profundos olhos vermelhos, chamando-o com sua retorcida boca de madeira, e dos galhos brancos desceu voando o corvo de três olhos, dando bicadas na sua cara e gritando seu nome com uma voz afiada como espadas.

O som das trombetas o acordou. Bran ficou de lado, grato pelo adiamento do sonho. Ouviu cavalos e gritos rudes. Chegaram mais hóspedes e, pelo barulho que fazem, vêm meio bêbados. Agarrando-se às barras, puxou-se da cama e foi até o banco de janela. No estandarte dos recém-chegados via-se um gigante com correntes quebradas que lhe disse que aqueles eram homens de Umber, vindos das terras do norte para lá do Rio Último.

No dia seguinte, dois deles vieram juntos à audiência; os tios do Grande-Jon, homens fanfarrões no inverno dos seus dias, com barbas tão brancas como os mantos de pele de urso que usavam. Um corvo tinha um dia julgado que Mors estivesse morto e bicou seu olho, por isso usava um pedaço de vidro de dragão em seu lugar. De acordo com a versão da Velha Ama, ele tinha agarrado o corvo com uma mão e arrancado sua cabeça com os dentes, por isso o chamavam Papa-Corvos. A Ama nunca dissera a Bran por que chamavam o irmão Hother de Terror das Rameiras.

Mal tinham se sentado, Mors já pedia licença para casar com a Senhora Hornwood.

– Grande-Jon é o forte braço direito do Jovem Lobo, todos sabem que é assim. Quem melhor para proteger as terras da viúva do que um Umber, e que melhor Umber do que eu?

– A Senhora Donella ainda está de luto – Meistre Luwin respondeu.

– Tenho uma cura para o luto por baixo das minhas peles – Mors gargalhou. Sor Rodrik agradeceu-lhe com cortesia e prometeu levar o assunto à consideração da senhora e do rei.

Hother queria navios.

– Selvagens andam se esgueirando do norte, em maior número do que jamais vi. Atravessam a Baía das Focas em barcos pequenos e vêm dar à nossa costa. Os corvos de Atalaialeste não são suficientes para pará-los, e eles são rápidos como doninhas para se esconder. É de dracares que precisamos, sim, e de homens fortes para manobrá-los. Grande-Jon levou muitos. Metade da nossa colheita perdeu-se por falta de braços para manejar as foices.

Sor Rodrik puxou as suíças:

– Vocês têm florestas de pinheiros altos e velhos carvalhos. Lorde Manderly tem construtores navais e marinheiros com fartura. Juntos, deveriam ser capazes de pôr na água dracares em número suficiente para defender as costas de ambos.

– Manderly? – Mors Umber fungou. – Esse grande saco bamboleante de banha? Seu próprio povo caçoa dele, chamando-o de Lorde Lampreia, segundo ouvi dizer. O homem quase não consegue andar. Se espetasse uma espada na sua barriga, dez mil enguias torceriam-se para fora.

– Ele é gordo – admitiu Sor Rodrik –, mas não é bobo. Irá trabalhar com ele, caso contrário o rei ficará sabendo o por quê.

E, para espanto de Bran, os truculentos Umber concordaram em fazer o que ele ordenava, embora não sem resmungos. Enquanto decorria a audiência, os homens dos Glover chegaram de Bosque Profundo, e um grande grupo dos Tallhart, de Praça de Torrhen. Galbart e Robett Glover tinham deixado Bosque Profundo nas mãos da esposa de Robett, mas foi seu intendente que veio até Winterfell.

– Minha senhora pede que perdoem sua ausência. Seus bebês são novos demais para uma viagem dessas e ela estava relutante em se separar deles.

Bran compreendeu rapidamente que era o intendente, e não a Senhora Glover, quem realmente governava em Bosque Profundo. O homem admitiu que estava, por enquanto, armazenando apenas um décimo da colheita. Afirmou que um vidente lhe tinha dito que haveria um farto verão dos espíritos antes que o frio se instalasse. Meistre Luwin tinha uma quantidade de coisas interessantes a dizer acerca de videntes. Sor Rodrik ordenou ao homem que separasse um quinto e o interrogou detalhadamente a respeito do bastardo de Lorde Hornwood, o garoto Larence Snow. No Norte, todos os bastardos de elevado nascimento adotavam o sobrenome Snow. Este rapaz tinha quase doze anos, e o intendente elogiou sua inteligência e coragem.

– Sua ideia sobre o bastardo pode ter mérito, Bran – Meistre Luwin disse mais tarde. – Um dia será um bom senhor para Winterfell, penso eu.

– Não serei, não – Bran sabia que nunca seria um senhor, tal como não podia ser um cavaleiro. – Robb deverá se casar com uma moça Frey qualquer, foi você quem me disse, e os Walder dizem o mesmo. Ele terá filhos e serão eles os senhores de Winterfell depois dele, não eu.

– Pode ser assim, Bran – Sor Rodrik interveio. – Mas eu fui casado por três vezes, e as minhas esposas deram-me filhas. Agora só me resta Beth. Meu irmão Martyn foi pai de quatro filhos fortes, mas só Jory sobreviveu até ser homem. Quando foi morto, a linhagem de Martyn morreu também. Quando falamos do amanhã, nada é certo.

Leobald Tallhart teve sua vez no dia seguinte. Falou de presságios meteorológicos e do juízo indolente dos plebeus e contou como seu sobrinho ansiava por batalhas.

– Benfred recrutou sua própria companhia de lanceiros. Garotos, nenhum deles com mais de dezenove anos, mas todos pensam que ele é outro jovem lobo. Quando lhes disse que eram apenas jovens coelhos, riram de mim. Agora chamam-se de Bravas Lebres e galopam pelos campos com peles de coelho atadas às pontas das lanças, cantando canções de cavalaria.

Bran pensou que aquilo soava grandioso. Lembrou-se de Benfred Tallhart, um grande rapaz fanfarrão e barulhento que visitava frequentemente Winterfell com o pai, Sor Helman, e tinha sido amigável com Robb e Theon Greyjoy. Mas Sor Rodrik ficou claramente descontente com o que ouviu.