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Bronn fez um aceno rápido:

– Também há um grande bando de padeiros, açougueiros e vendedores de verduras clamando por serem ouvidos.

– Da última vez já lhes disse que não tenho nada para lhes dar.

Só um pequena quantidade de comida chegava a Porto Real, a maior parte dela destinada ao castelo e à guarnição. Os preços das verduras, tubérculos, farinha e frutas tinham subido assustadoramente, e Tyrion não queria pensar nos tipos de carne que deviam estar sendo despejados nas caldeiras dos refeitórios da Baixada das Pulgas. Peixe, ele esperava. Ainda tinham o rio e o mar… pelo menos até que Lorde Stannis zarpasse.

– Eles querem proteção. Ontem à noite um padeiro foi assado no seu próprio forno. O povo dizia que ele estava cobrando muito caro pelo pão.

– E estava?

– Ele não está em condições de negar.

– Não o comeram, certo?

– Que eu saiba, não.

– Da próxima vez comerão – Tyrion falou num tom sinistro. – Dou-lhes toda a proteção que posso dar. Os homens de manto dourado…

– Dizem que havia mantos dourados na multidão – Bronn completou. – Exigem falar com o rei em pessoa.

– Loucos.

Tyrion despacharia-os com desculpas; o sobrinho iria despachá-los com chicotes e lanças. Sentiu-se meio tentado a permitir isso… mas não, não se atrevia. Mais cedo ou mais tarde, algum inimigo marcharia sobre Porto Real, e a última coisa que queria era traidores solícitos dentro das muralhas da cidade.

– Diga-lhes que o Rei Joffrey partilha dos seus temores e fará tudo o que puder por eles.

– Eles querem pão, não promessas.

– Se lhes der pão hoje, amanhã terei o dobro batendo nos portões. Quem mais?

– Um irmão negro vindo da Muralha. O intendente diz que ele trouxe uma mão apodrecida num frasco.

Tyrion deu um sorriso triste.

– Surpreende-me que ninguém a tenha comido. Suponho que deva recebê-lo. Não será Yoren, por acaso?

– Não. Um cavaleiro qualquer. Thorne.

– Sor Alliser Thorne? – de todos os irmãos negros que tinha conhecido na Muralha, Sor Alliser Thorne tinha sido aquele de que Tyrion Lannister menos gostara. Um homem amargo, de gênio ruim, com apreço excessivo pelo seu próprio valor. – Pensando melhor, não me apetece receber Sor Alliser por enquanto. Arranje-lhe uma cela razoável onde ninguém tenha mudado as esteiras durante um ano e deixe que a mão que ele traz apodreça um pouco mais.

Bronn deu uma gargalhada roncada e foi embora, enquanto Tyrion subia com dificuldade a escada em caracol. Enquanto coxeava através do pátio exterior, ouviu o matraquear da porta levadiça sendo içada. A irmã e um grande grupo de pessoas esperavam junto ao portão principal.

Montada no seu palafrém branco, a irmã elevava-se muito acima de todos, uma deusa vestida de verde.

– Irmão – ela chamou, sem calor na voz. A rainha não tinha ficado feliz com a forma como ele havia lidado com Janos Slynt.

– Vossa Graça – Tyrion fez uma polida reverência. – Tem um aspecto adorável nesta manhã – a coroa dela era de ouro, o manto, de arminho. A comitiva ocupava as suas montarias atrás dela: Sor Boros Blount da Guarda Real, usando uma armadura de escamas brancas e sua carranca preferida; Lorde Gyles Rosby, pior do que nunca da sua tosse asmática; Hallyne, o Piromante da Guilda dos Alquimistas; e o mais recente favorito da rainha, o primo Sor Lancel Lannister, escudeiro do seu falecido marido elevado à condição de cavaleiro por insistência da viúva. Vylarr e vinte guardas formavam a escolta. – Onde vai hoje, irmã? – Tyrion perguntou.

– Vou fazer uma ronda pelos portões, a fim de inspecionar as novas balistas e catapultas de fogo. Não gostaria de pensar que estamos todos tão indiferentes perante as defesas da cidade como você parece estar – Cersei fitou-o com aqueles seus límpidos olhos verdes, belos, mesmo no desprezo. – Fui informada de que Renly Baratheon se pôs em marcha de Jardim de Cima. Está percorrendo a estrada das rosas, à frente de toda a sua força.

– Varys deu-me a mesma notícia.

– Pode estar aqui pela lua cheia.

– Não no ritmo vagaroso atual – Tyrion lhe garantiu. – Banqueteia-se cada noite num castelo diferente e dá audiência em cada encruzilhada por que passa.

– E todos os dias, mais homens se reúnem em volta dos seus estandartes. Diz-se que sua tropa tem agora cem mil homens.

– Esse número parece bastante elevado.

– Tem atrás de si o poderio de Ponta Tempestade e Jardim de Cima, meu pequeno tolo – Cersei soou irritada. – Todos os vassalos dos Tyrell, exceto os Redwyne, e deve-me agradecimentos por isso. Enquanto eu mantiver comigo aquelas pestes daqueles seus gêmeos, Lorde Paxter ficará agachado na Árvore e achará que tem sorte de estar fora de tudo isto.

– Uma pena que tenha deixado o Cavaleiro das Flores escapulir entre seus belos dedos. Em todo caso, Renly tem outras preocupações além de nós. Nosso pai em Harrenhal, Robb Stark em Correrrio… se eu estivesse no lugar dele, agiria de forma muito semelhante, exibindo meu poder para que o reino visse, observando, esperando. Deixaria que meus rivais lutassem, enquanto esperava minha bela hora. Se o Stark nos derrotar, o sul cairá nas mãos de Renly como um presente dos deuses, e sem que ele perca um único homem. E, se as coisas acontecerem de outro modo, pode cair sobre nós enquanto estivermos enfraquecidos.

Cersei não estava apaziguada.

– Quero que obrigue nosso pai a trazer seu exército para Porto Real.

Onde não servirá para nada além de fazer com que você se sinta em segurança.

– Quando fui capaz de obrigá-lo a fazer seja o que for?

Ela ignorou a pergunta.

– E quando planeja libertar Jaime? Ele vale cem de você.

Tyrion deu um sorriso torto.

– Não diga isso à Senhora Stark, peço-lhe. Não temos cem de mim para trocar.

– Nosso pai devia estar louco para tê-lo enviado. É pior do que inútil – a rainha sacudiu as rédeas e fez o palafrém dar meia-volta. Saiu pelo portão num trote rápido, fazendo esvoaçar o manto de arminho atrás de si. A comitiva apressou-se atrás dela.

Na verdade, Renly Baratheon não assustava Tyrion nem metade do que o irmão Stannis. Renly era amado pelos plebeus, mas nunca antes tinha liderado homens em batalha. Stannis era diferente: duro, frio, inexorável. Se ao menos tivessem alguma forma de saber o que estava acontecendo em Pedra do Dragão… Mas nem um dos pescadores a quem pagara para espiar a ilha tinha voltado, e até os informantes que o eunuco dizia ter colocado entre o pessoal de Stannis se mantinham num silêncio agourento. No entanto, os cascos listrados de galés de guerra lisenas tinham sido vistos ao largo da ilha, e Varys possuía relatórios de Myr que falavam de capitães mercenários sendo contratados por Pedra do Dragão. Se Stannis atacar por mar enquanto o irmão Renly assalta os portões, montarão em breve a cabeça de Joffrey num espigão. Pior: a minha estará ao lado da dele. Um pensamento deprimente. Devia fazer planos para tirar Shae em segurança da cidade, caso o pior parecesse provável.

Podrick Payne estava na porta do seu aposento privado, estudando o chão.

– Ele está lá dentro – anunciou para a fivela de Tyrion. – Aposento privado. Senhor. Perdão.

Tyrion suspirou.

– Olhe para mim, Pod. Enerva-me quando fala para o meu tapa-sexo, especialmente se não estou usando um. Quem está no meu aposento privado?

– Lorde Mindinho – Podrick conseguiu dar um relance rápido em seu rosto, e depois baixou rapidamente os olhos. – Isto é, Lorde Petyr. Lorde Baelish. O mestre da moeda.

– Faz com que o homem pareça uma multidão – o rapaz encolheu-se como se lhe tivessem batido, fazendo com que Tyrion se sentisse absurdamente culpado.

Lorde Petyr estava sentado no seu banco de janela, indolente e elegante num gibão de pelúcia cor de ameixa e uma capa de cetim amarelo, com uma mão enluvada descansando no joelho.