– E o que lhe custaria essa palavra?
– Quero que a Senhora Lysa e o filho aclamem Joffrey como rei, que lhe jurem lealdade e que…
– … façam guerra aos Stark e aos Tully? – Mindinho balançou a cabeça. – Aí está a mosca na sua sopa, Lannister. Lysa nunca enviará seus cavaleiros contra Correrrio.
– Nem eu pediria isso. Não nos faltam inimigos. Usarei as suas forças para enfrentar Lorde Renly ou Lorde Stannis, caso ele saia de Pedra do Dragão. Em troca, darei justiça por Jon Arryn e paz no Vale. Até nomearei aquele seu pavoroso filho Protetor do Leste, como o pai era antes dele – quero vê-lo voar, sussurrou, tênue, uma voz de garoto na sua memória. – E para selar o acordo, darei a ela minha sobrinha.
Teve o prazer de ver uma expressão de genuína surpresa nos olhos cinza-esverdeados de Petyr Baelish.
– Myrcella?
– Quando tiver idade, poderá casar com o pequeno Lorde Robert. Até lá, será protegida da Senhora Lysa no Ninho da Águia.
– E que pensa Sua Graça, a rainha, desta manobra? – quando Tyrion encolheu os ombros, Mindinho explodiu em gargalhadas. – Era o que eu pensava. É um homenzinho perigoso, Lannister. Sim, eu poderia cantar esta canção a Lysa – de novo, o sorriso manhoso, a travessura no olhar. – Se quisesse.
Tyrion acenou com a cabeça, à espera, sabendo que Mindinho nunca tolerava um longo silêncio.
– Então – prosseguiu Mindinho após uma pausa, completamente impassível –, o que há para mim na sua panela?
– Harrenhal.
Foi interessante observar o rosto dele. O pai de Lorde Petyr tinha sido o menor dos pequenos senhores, o avô, um pequeno cavaleiro sem terras; pelo nascimento, não possuía mais do que alguns acres pedregosos na costa varrida pelo vento dos Dedos. Harrenhal era uma das mais ricas peças dos Sete Reinos, com terras vastas, ricas e férteis, e seu grande castelo mais formidável que qualquer outro do reino… e tão grande, que reduzia à insignificância Correrrio, onde Petyr Baelish tinha sido criado pela Casa Tully, até ser bruscamente expulso quando se atreveu a erguer os olhos para a filha de Lorde Hoster.
Mindinho demorou um instante ajustando as pregas da capa, mas Tyrion viu a cintilação da fome naqueles olhos manhosos de gato. Está na minha mão, compreendeu.
– Harrenhal está amaldiçoado – disse Lorde Petyr após um momento, tentando soar entediado.
– Então arrase o castelo e construa de novo como lhe for melhor. Não lhe faltará poder para tanto. Pretendo fazer de você suserano do Tridente. Aqueles senhores do rio provaram que não são de confiança. Que lhe prestem vassalagem pelas suas terras.
– Até os Tully?
– Se restar algum Tully quando terminarmos.
Mindinho parecia um garotinho que tivesse acabado de dar uma mordida furtiva num favo de mel. Estava tentando ficar atento às abelhas, mas o mel era tão doce...
– Harrenhal e todas as suas terras e rendimentos – sua voz saiu em tom de meditação. – De uma tacada, faria de mim um dos maiores senhores do reino. Não que seja ingrato, senhor, mas… Por quê?
– Serviu bem à minha irmã no problema da sucessão.
– Janos Slynt também o fez. A quem este mesmo castelo de Harrenhal foi outorgado muito recentemente… Só para ser arrebatado dele assim que deixou de ser útil.
Tyrion soltou uma gargalhada:
– Pegou-me, senhor. Que posso dizer? Preciso que me entregue a Senhora Lysa. Não precisava de Janos Slynt – encolheu os ombros tortos. – Prefiro ter você sentado no cadeirão de Harrenhal do que Renly no Trono de Ferro. O que poderia ser mais simples?
– De fato, o quê? Compreende que posso necessitar deitar de novo com Lysa Arryn para conquistar seu consentimento sobre este casamento?
– Tenho poucas dúvidas de que será capaz de realizar tal tarefa.
– Há algum tempo disse a Ned Stark que, quando nos encontramos nus com uma mulher feia, a única coisa a fazer é fechar os olhos e tratar do assunto – Mindinho juntou os dedos e fitou os olhos desiguais de Tyrion. – Dê-me uma quinzena para concluir os meus negócios e arranjar um navio que me leve a Vila Gaivotas.
– Está ótimo.
O hóspede se levantou.
– Foi uma manhã muito agradável, Lannister. E lucrativa… para ambos, confio – fez uma reverência e transformou a capa num torvelinho amarelo quando saiu a passos largos.
Dois, Tyrion pensou.
Subiu para o quarto a fim de esperar por Varys, que em breve faria sua aparição. Supunha que ao cair da noite. Talvez mais tarde, ao nascer da lua, embora esperasse que não. Tinha esperança de visitar Shae naquela noite. Ficou agradavelmente surpreso quando Galt, dos Corvos de Pedra, o informou, nem uma hora depois, que o homem empoado estava à sua porta.
– É um homem cruel por fazer o Grande Meistre sofrer assim – ralhou o eunuco. – O homem não aguenta um segredo.
– Por acaso estou ouvindo uma gralha chamando de preto um corvo? Ou será que prefere não saber o que propus a Doran Martell?
Varys soltou um risinho.
– Talvez meus passarinhos tenham me dito.
– Ah, disseram? – Tyrion queria ouvir aquilo. – Continue.
– Até agora, os homens de Dorne têm se mantido à parte dessas guerras. Doran Martell convocou os vassalos, e nada mais. É bem conhecido seu ódio pela Casa Lannister, e a opinião geral é de que irá se juntar a Lorde Renly. Você quer dissuadi-lo.
– Tudo isso é óbvio – Tyrion concluiu.
– O único enigma é o que pode ter oferecido em troca da sua fidelidade. O príncipe é um homem sentimental e ainda chora pela irmã Elia e seu querido filho.
– Meu pai disse-me um dia que um senhor nunca deixa que o sentimento entre no caminho da ambição… E acontece que temos um lugar vago no pequeno conselho, agora que Lorde Janos vestiu o negro.
– Um lugar no conselho não é de se desprezar – Varys admitiu –, mas será o suficiente para fazer com que um homem orgulhoso esqueça o assassinato da irmã?
– Por que esquecer? – Tyrion sorriu. – Prometi entregar-lhe os assassinos da irmã, vivos ou mortos, como ele preferir. Depois que a guerra acabar, é claro.
Varys lançou-lhe um olhar astuto.
– Meus passarinhos dizem que a Princesa Elia gritou um… certo nome… quando vieram buscá-la.
– Um segredo é ainda segredo se todos o conhecem? – em Rochedo Casterly, era de conhecimento geral que Gregor Clegane tinha matado Elia e o filho. Dizia-se que tinha violado a princesa com o sangue e os miolos do filho ainda nas mãos.
– Este segredo é um homem juramentado ao senhor seu pai.
– Meu pai seria o primeiro a dizer que cinquenta mil homens de Dorne valem o preço de um cão raivoso.
Varys afagou uma bochecha empoada.
– E se o Príncipe Doran exigir tanto o sangue do senhor que deu a ordem como o do cavaleiro que cometeu o ato…
– Robert Baratheon liderou a rebelião. No fim das contas, todas as ordens vieram dele.
– Robert não estava em Porto Real.
– Doran Martell também não.
– Muito bem. Sangue para o seu orgulho, um cargo para a ambição. Ouro e terras, isso nem é preciso dizer. Uma bela oferta… Mas o que é doce pode estar envenenado. Se eu fosse o príncipe, exigiria mais alguma coisa antes de pegar esse favo. Algum sinal de boa-fé, alguma salvaguarda segura contra a traição – Varys deu seu sorriso mais viscoso. – Qual deles lhe dará, pergunto eu?
Tyrion suspirou.
– Você sabe, não é mesmo?
– Já que põe as coisas nesses termos… Sim. Tommen. Seria difícil oferecer Myrcella tanto a Doran Martell como a Lysa Arryn.
– Lembre-me de nunca mais jogar de adivinhas com você. Você trapaceia.
– Príncipe Tommen é um bom garoto.
– Se arrancá-lo de Cersei e Joffrey enquanto ainda for novo, pode até se tornar um bom homem.
– E um bom rei?
– Joffrey é o rei.