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– Quem a deixou entrar na minha torre?

– Na sua torre? Este é o castelo real do meu filho.

– É o que me dizem – Tyrion não soou divertido. Crawn ficaria ainda menos; eram seus Irmãos da Lua que hoje estavam de guarda. – Acontece que me preparava para ir encontrá-la.

– Ah, é?

Ele fechou a porta atrás de si.

– Duvida de mim?

– Sempre, e com bons motivos.

– Sinto-me ferido – Tyrion bamboleou-se até o aparador para se servir de uma taça de vinho. Não conhecia melhor maneira de ficar com sede do que conversar com Cersei. – Se a ofendi, gostaria de saber como.

– Que vermezinho repugnante você é. Myrcella é minha única filha. Realmente imaginava que eu permitiria que a vendesse como um saco de aveia?

Myrcella, Tyrion pensou. Bom, esse ovo eclodiu. Vejamos de que cor é o pinto.

– Como um saco de aveia? Nem perto disso. Myrcella é uma princesa. Há quem diga que foi para isto que nasceu. Ou será que planejava casá-la com Tommen?

Cersei avançou e arrancou a taça de vinho da mão do irmão, atirando-a ao chão.

– Irmão ou não, devia mandar cortar sua língua por isso. Eu sou regente de Joffrey, não você, e eu digo que Myrcella não será enviada para este dornense como eu fui para Robert Baratheon.

Tyrion sacudiu vinho dos dedos e suspirou.

– Por que não? Estaria bastante mais segura em Dorne do que aqui.

– Você é completamente ignorante ou apenas perverso? Sabe tão bem como eu que os Martell não têm motivos para simpatizar conosco.

– Os Martell têm todos os motivos para nos odiar. Mesmo assim, espero que concordem. As razões da mágoa do Príncipe Doran em relação à Casa Lannister remontam apenas a uma geração, mas os homens de Dorne vêm guerreando contra Ponta Tempestade e Jardim de Cima há mil anos, e Renly tomou como pressuposto que teria a fidelidade de Dorne. Myrcella tem nove anos, Trystane Martell, onze. Propus que se casassem quando ela atingisse seu décimo quarto ano. Até essa altura, seria hóspede de honra em Lançasolar, sob a proteção do Príncipe Doran.

– Uma refém – Cersei o corrigiu, com a boca apertando-se.

– Uma hóspede de honra – insistiu Tyrion. – E suspeito que Martell tratará Myrcella mais gentilmente do que Joffrey tem tratado Sansa Stark. Pensei em mandar com ela Sor Arys Oakheart. Com um cavaleiro da Guarda Real como escudo juramentado, não é provável que alguém se esqueça de quem ou do que ela é.

– De pouco servirá Sor Arys, se Doran Martell decidir que a morte da minha filha compensará a da sua irmã.

– Martell é honrado demais para assassinar uma menina de nove anos, especialmente se for tão doce e inocente como Myrcella. Enquanto a tiver em sua posse, pode ficar razoavelmente certo de que do nosso lado honraremos o acordo, cujos termos são ricos demais para recusar. Myrcella é a menor parte do trato. Também lhe ofereci o assassino da irmã, um lugar no conselho, alguns castelos na Marca…

– É demais! – Cersei afastou-se dele, irrequieta como uma leoa, com as saias rodopiando. – Ofereceu demais, e sem a minha autorização ou consentimento.

– É do Príncipe de Dorne que estamos falando. Se lhe oferecesse menos, o mais certo era que cuspisse na minha cara.

É demais! – Cersei insistiu, rodopiando para olhar o irmão de frente.

– O que você lhe teria oferecido? Esse buraco que tem entre as pernas? – Tyrion a desafiou, com sua própria fúria rebentando.

Dessa vez ele viu o tabefe chegando. A cabeça oscilou, soltando um crac.

– Querida, querida irmã... Garanto-lhe que esta foi a última vez que me bateu na vida.

A irmã riu.

– Não me ameace, homenzinho. Acredita que a carta de nosso pai o mantém a salvo? Um pedaço de papel. Eddard Stark também tinha um pedaço de papel, e olhe o bem que lhe fez.

Eddard Stark não tinha a Patrulha da Cidade, Tyrion pensou, nem os meus homens dos clãs, nem os mercenários que Bronn contratou. Eu tenho. Ou assim ele esperava, confiando em Varys, em Sor Jacelyn Bywater, em Bronn. Lorde Stark provavelmente também tivera suas desilusões.

Mas nada disse. Um homem sensato não lançava fogovivo num braseiro. Em vez disso, serviu-se de outra taça de vinho.

– Em que segurança julga que Myrcella estará se Porto Real cair? Renly e Stannis pendurarão a cabeça dela ao lado da sua.

Cersei começou a chorar.

Tyrion Lannister não teria ficado mais estupefato se o próprio Aegon, o Conquistador, tivesse entrado de rompante na sala, montado num dragão e fazendo malabarismos com tortas de limão. Não via a irmã chorar desde que eram crianças em Rochedo Casterly. Acanhadamente, deu um passo na sua direção… Mas aquela mulher era Cersei! Estendeu uma mão hesitante para o seu ombro.

– Não me toque – ela reagiu, afastando-se. Não devia, mas aquela reação magoou mais do que qualquer tapa. De rosto afogueado, tão zangada como atingida pela dor, Cersei lutou para respirar: – Não me olhe, não… assim, não… você, não.

Delicadamente, Tyrion voltou-lhe as costas:

– Não pretendia assustá-la. Prometo que nada acontecerá a Myrcella.

– Mentiroso – ela disse atrás dele. – Não sou uma criança para ser acalmada com promessas ocas. Também me disse que libertaria Jaime. Pois bem. Onde está ele?

– Em Correrrio, eu calculo. A salvo e sob vigilância, até que eu encontre uma maneira de libertá-lo.

Cersei fungou:

– Eu devia ter nascido homem. Não teria necessidade de nenhum de vocês. Não permitiria que nada disso acontecesse. Como Jaime pôde se deixar capturar por aquele garoto? E meu pai? Confiei nele, como uma idiota, mas onde está agora, justamente quando é necessário aqui? O que ele está fazendo?

– A guerra.

– De dentro das muralhas de Harrenhal? – Cersei exclamou desdenhosamente. – Curiosa maneira de lutar. A meu ver, parece, de forma suspeita, com se esconder.

– Pois veja de novo.

– Do que mais chamaria? Nosso pai está num castelo, e Robb Stark em outro, e nenhum deles faz coisa alguma.

– Assim deve ser – Tyrion sugeriu. – Cada um espera que o outro se mova, mas o leão está quieto, equilibrado, retorcendo a cauda, enquanto o corço está paralisado pelo medo, com as tripas transformadas em gelatina. Qualquer que seja o lado onde saltar, o leão vai capturá-lo, e ele sabe disso.

– E você tem mesmo certeza de que nosso pai é o leão?

Tyrion sorriu.

– Está em todos os nossos estandartes.

Ela ignorou a brincadeira.

– Se tivesse sido nosso pai o capturado, Jaime não estaria parado, garanto-lhe.

Jaime estaria desfazendo sua tropa em pedaços sangrentos contra as muralhas de Correrrio, e os Outros teriam sua chance. Nunca teve paciência, tal como você, querida irmã.

– Nem todos podemos ser tão ousados como Jaime. Mas há outras maneiras de ganhar guerras. Harrenhal é forte e está bem situado.

– E Porto Real não, como ambos sabemos perfeitamente. Enquanto nosso pai brinca de leão e corço com o garoto Stark, Renly marcha pela estrada das rosas. Pode estar junto aos nossos portões a qualquer momento!

– A cidade não cairá em um dia. De Harrenhal até aqui é uma marcha rápida e reta pela estrada do rei. Renly quase não terá tempo de preparar suas máquinas de cerco antes que nosso pai o pegue pela retaguarda. A tropa dele será o martelo; as muralhas da cidade, a bigorna. É uma linda imagem.

Os olhos verdes de Cersei penetraram-no, desconfiados, mas com fome da confiança com que ele a alimentava.

– E se Robb Stark se puser em marcha?

– Harrenhal está suficientemente perto dos vaus do Tridente para que Roose Bolton possa atravessá-lo com a infantaria nortenha e ir se juntar à cavalaria do Jovem Lobo. Stark não pode marchar sobre Porto Real sem tomar primeiro Harrenhal, e mesmo com Bolton não tem força suficiente para fazer isso – Tyrion experimentou o mais conquistador dos seus sorrisos. – Nesse meio-tempo, nosso pai se alimenta da gordura das terras fluviais enquanto nosso tio Stafford reúne recrutas frescos no Rochedo.