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O ápice da tolice foi atingido quando um bobo rechonchudo chegou às cambalhotas, revestido de lata pintada de dourado com uma cabeça de leão de pano, e perseguiu um anão ao redor das mesas, batendo na sua cabeça com uma bexiga. Por fim, Rei Renly quis saber por que ele estava batendo no irmão.

– Ora, Vossa Graça, sou o Fratricida – o bobo respondeu.

– É Regicida, bobo pateta – Renly o corrigiu, e o salão ressoou com gargalhadas.

Lorde Rowan, ao lado de Catelyn, não se juntou à folia:

– São todos tão novos – ele disse.

Era verdade. O Cavaleiro das Flores não devia ter chegado ao segundo dia do seu nome quando Robert matara o Príncipe Rhaegar no Tridente. Poucos dos outros eram muito mais velhos. Eram bebês durante o Saque de Porto Real e não passavam de garotos quando Balon Greyjoy tinha levantado a rebelião nas Ilhas de Ferro. Ainda não derramaram sangue, Catelyn refletiu, enquanto observava Lorde Bryce, que incitava Sor Robar a fazer malabarismo com um par de adagas. Para eles isso ainda é um jogo, um torneio com um grande cenário, e tudo o que veem é uma possibilidade de glória, honra e despojos. São rapazes bêbados de canções e histórias e, como todos os rapazes, julgam-se imortais.

– A guerra vai torná-los velhos – Catelyn respondeu. – Como nos tornou – ela era uma garota quando Robert, Ned e Jon Arryn ergueram os estandartes contra Aerys Targaryen e uma mulher quando a luta terminou. – Sinto pena deles.

– Por quê? – perguntou-lhe Lorde Rowan. – Olhe para eles. São jovens e fortes, cheios de vida e de risos. E de luxúria, sim, tanta, que não sabem o que fazer dela. Muitos bastardos serão gerados hoje, garanto. Pena por quê?

– Porque não durará – Catelyn disse com tristeza. – Porque eles são os cavaleiros do verão, e o inverno está chegando.

– Senhora Catelyn, está enganada – Brienne olhava-a com uns olhos tão azuis como sua armadura. – O inverno nunca chegará para gente como nós. Se morrermos em batalha, certamente cantarão sobre nós, e nas canções é sempre verão. Nas canções, todos os cavaleiros são galantes, todas as donzelas são belas, e o sol sempre brilha.

O inverno chega para todos nós, Catelyn ponderou. Para mim, chegou quando Ned morreu. Chegará para você também, filha, e mais cedo do que gostaria. Mas não teve coragem de verbalizar seu pensamento.

O rei a salvou.

– Senhora Catelyn – Renly chamou. – Sinto que preciso tomar um pouco de ar. Vem comigo?

Catelyn ficou imediatamente em pé.

– Ficarei honrada.

Brienne também se levantou.

– Vossa Graça, dê-me apenas um momento para vestir a cota de malha. Não deve andar sem proteção.

Rei Renly sorriu.

– Se não estiver a salvo no coração do castelo de Lorde Caswell, com minha tropa ao meu redor, uma espada não fará diferença… Nem mesmo a sua espada, Brienne. Sente-se e coma. Se tiver necessidade, mandarei chamá-la.

As palavras dele pareceram atingir a moça com mais força do que qualquer golpe que tivesse recebido naquela tarde.

– Às suas ordens, Vossa Graça – Brienne sentou-se, com os olhos baixos.

Renly tomou o braço de Catelyn e saiu do salão, passando por um guarda desleixado que se endireitou tão apressadamente que quase deixou cair a lança. Renly deu uma palmada no ombro do homem e fez um gracejo com a situação.

– Por aqui, senhora – ele a levou por uma porta baixa em direção a uma escada da torre. Ao começarem a subir, disse: – Por acaso Sor Barristan Selmy está com seu filho em Correrrio?

– Não – ela respondeu, confusa. – Ele não está mais com Joffrey? Era o Senhor Comandante da Guarda Real.

Renly sacudiu a cabeça:

– Os Lannister disseram-lhe que era velho demais e deram seu manto ao Cão de Caça. Disseram-me que abandonou Porto Real, jurando entrar para o serviço do verdadeiro rei. Aquele manto que Brienne reclamou hoje era o que eu estava guardando para Selmy, na esperança de que ele me oferecesse sua espada. Quando não apareceu em Jardim de Cima, pensei que talvez tivesse ido para Correrrio.

– Nós não o vimos.

– Ele era velho, é certo, mas ainda um bom homem. Espero que não lhe tenha acontecido nenhum mal. Os Lannister são grandes idiotas – subiram mais alguns degraus. – Na noite da morte de Robert, ofereci ao seu esposo cem espadas e incentivei-o a colocar Joffrey em seu poder. Se tivesse escutado, seria hoje regente, e eu não teria tido necessidade de reclamar o trono.

– Ned recusou – Catelyn não precisava que aquilo lhe fosse dito.

– Tinha jurado proteger os filhos de Robert – Renly continuou. – Faltava-me força para agir sozinho e por isso, quando Lorde Eddard me repeliu, não tive escolha e fugi. Se tivesse ficado, sabia que a rainha trataria de que não vivesse muito tempo mais do que meu irmão.

Se tivesse ficado e dado seu apoio a Ned, ele podia ainda estar vivo, Catelyn pensou amargamente.

– Gostava bastante do seu esposo, senhora. Era um amigo leal de Robert, eu sei… Mas não quis me escutar, nem se dobrar. Venha, quero lhe mostrar algo.

Tinham atingido o topo da escadaria. Renly abriu uma porta de madeira e saíram para o telhado. A fortaleza de Lorde Caswell quase não era suficientemente alta para ser chamada de torre, mas a região era baixa e plana, e Catelyn podia ver ao longo de léguas em todas as direções. Para onde quer que olhasse, via fogueiras. Cobriam a terra como estrelas caídas e, como as estrelas, não tinham fim.

– Conte-as se quiser, senhora – disse Renly em voz baixa. – Ainda estará contando quando a alvorada surgir a leste. Quantas fogueiras ardem esta noite em volta de Correrrio, eu pergunto?

Catelyn ouvia tenuemente a música que saía do Grande Salão, infiltrando-se na noite. Não se atreveu a contar as estrelas.

– Disseram-me que seu filho atravessou o Gargalo à frente de vinte mil espadas – prosseguiu Renly. – Agora que os senhores do Tridente estão com ele, talvez comande quarenta mil.

Não, ela pensou, nem perto disso, perdemos homens em batalha e outros para as colheitas.

– Eu tenho aqui o dobro desse número – Renly continuou. – E isso é apenas parte das minhas forças. Mace Tyrell permanece em Jardim de Cima com mais dez mil homens, tenho uma forte guarnição protegendo Ponta Tempestade, e em breve os homens de Dorne vão se juntar a mim com todo seu poder. E não se esqueça do meu irmão Stannis, que defende Pedra do Dragão e comanda os senhores do mar estreito.

– Parece-me que é o senhor quem esqueceu Stannis – Catelyn retrucou, num tom mais duro do que pretendera.

– Refere-se à sua pretensão? – Renly soltou uma gargalhada. – Sejamos sinceros, senhora. Stannis daria um rei terrível. E não é provável que chegue a tal. Os homens respeitam Stannis, até o temem, mas os que chegaram a gostar dele eram poucos, e por isso, preciosos.

– É ainda assim seu irmão mais velho. Se se pode dizer que algum de vocês tem direito ao Trono de Ferro, tem de ser Lorde Stannis.

Renly encolheu os ombros.

– Diga-me, que direito teve alguma vez meu irmão Robert ao Trono de Ferro? – ele não esperou resposta. – Ah, falou-se em laços de sangue entre os Baratheon e os Targaryen, de casamentos de cem anos atrás, de segundos filhos e filhas mais velhos. Ninguém se interessa por nada disso, a não ser os meistres. Robert conquistou o trono com seu martelo de guerra – indicou com uma mão as fogueiras que ardiam de horizonte a horizonte. – Pois bem, eis a minha pretensão, tão boa como a de Robert sempre foi. Se seu filho me apoiar como o pai dele apoiou Robert, não me achará desprovido de generosidade. Vou confirmá-lo de bom grado em todas as suas terras, títulos e honrarias. Pode governar em Winterfell como bem entender. Até pode continuar a se chamar de Rei do Norte se quiser, desde que dobre o joelho e me preste homenagem como seu suserano. Rei é apenas uma palavra, mas fidelidade, lealdade, serviço… essas coisas tenho de ter.