Выбрать главу

Mas foi Dywen quem emergiu do verde, trazendo pela trela um garrano cinza felpudo, com Grenn montado a seu lado. O Velho Urso dispusera batedores de ambos os lados da coluna principal, a fim de ocultar sua marcha e preveni-los da aproximação de algum inimigo, e mesmo nisso não correra riscos, enviando os homens aos pares.

– Ah, é você, Lorde Snow – Dywen sorriu um sorriso de carvalho; seus dentes tinham sido esculpidos em madeira e estavam mal assentados na sua boca. – Pensei que eu e o rapaz teríamos que lidar com um daqueles Outros. Perdeu o lobo?

– Saiu para caçar – Fantasma não gostava de viajar com a coluna, mas não devia estar longe. Quando montassem o acampamento para a noite, encontraria o caminho de volta para junto de Jon na tenda do Senhor Comandante.

– Nesta umidade, eu chamo isso de pescar – Dywen respondeu.

– Minha mãe sempre disse que a chuva era boa para fazer crescer a safra – interveio Grenn com otimismo.

– Sim, uma boa safra de bolor – Dywen rebateu. – A melhor coisa de uma chuva como essa é que livra um homem de tomar banho – completou, e fez um estalido com seus dentes de madeira.

– Buckwell encontrou Craster – Jon lhes disse.

– Tinha-o perdido? – Dywen soltou um risinho. – Vocês, seus cabras novos, vejam se não vão farejar em volta das mulheres de Craster, estão ouvindo?

Jon sorriu.

– Quer ficar com todas para si, Dywen?

Dywen fez mais estalidos com os dentes.

– Talvez queira. Craster tem dez dedos e um pau, portanto não sabe contar até mais do que onze. Nunca dará falta de um par delas.

– Quantas mulheres ele tem realmente? – Grenn quis saber.

– Mais do que você jamais terá, irmão. Bem, não é assim tão difícil quando se faz criação delas. Ali está o seu bicho, Snow.

Fantasma trotava ao lado do cavalo de Jon, com a cauda bem erguida e o pelo branco levantado em tufos espessos contra a chuva. Deslocava-se tão silenciosamente que Jon não saberia dizer quando tinha surgido. A montaria de Grenn recuou ao sentir seu cheiro; mesmo agora, após mais de um ano, os cavalos sentiam-se desconfortáveis na presença do lobo gigante.

– Vem comigo, Fantasma – Jon esporeou o cavalo e dirigiu-se à Fortaleza de Craster.

Nunca pensara encontrar um castelo de pedra do outro lado da Muralha, mas tinha imaginado algum tipo de fosso com uma paliçada de troncos e uma torre fortificada de madeira. Em vez disso, o que encontraram foi uma pilha de estrume, uma pocilga, um curral de ovelhas vazio e um edifício de pau a pique, sem janelas, que quase não merecia aquele nome. Era longo e baixo, com uma estrutura de troncos de árvores e teto de colmo. O complexo erguia-se no topo de uma elevação modesta demais para receber o nome de colina, rodeada por um dique de terra. Riachos marrons corriam pela vertente nos lugares onde a chuva tinha aberto buracos escancarados nas defesas e iam se juntar a um arroio rápido que se curvava para o norte, com as grossas águas transformadas pela chuva numa torrente lamacenta.

A sudoeste, encontrou um portão aberto flanqueado por um par de crânios de animais enfiados na ponta de grandes mastros: um urso de um lado e um carneiro do outro. Jon notou que pedaços de carne ainda se prendiam ao crânio de urso quando se juntou à fileira de cavaleiros que passava por ele. Lá dentro, os batedores de Jarmen Buckwell e homens da vanguarda de Thoren Smallwood estavam instalando amarradouros para cavalos e lutando para erguer tendas. Um grande grupo de leitões fuçava em volta de três enormes porcas no chiqueiro. Ali perto, uma menina pequena arrancava cenouras de um jardim, nua sob a chuva, enquanto duas mulheres amarravam um porco para a matança. Os guinchos do animal eram agudos e horríveis, quase humanos na sua aflição. Os cães de Chett desataram a latir desenfreadamente em resposta, rosnando e dando mordidas, apesar das pragas do rapaz, com um par de cães de Craster respondendo aos latidos com mais latidos. Quando viram Fantasma, alguns dos cães calaram-se e fugiram, enquanto outros começaram a ladrar-lhe e a rosnar. O lobo gigante ignorou-os, assim como Jon.

Bem, trinta de nós ficarão quentes e secos, pensou Jon depois de dar uma boa olhada no edifício. Talvez cinquenta. O lugar era pequeno demais para abrigar duzentos homens durante a noite, e a maioria teria de permanecer ali fora. Mas onde colocá-los? A chuva havia transformado metade do pátio do complexo em poças onde a água chegava aos tornozelos, e o resto, em lama movediça. Antevia-se outra noite triste.

O Senhor Comandante confiou a montaria a Edd Doloroso, que limpava lama dos cascos do cavalo quando Jon desmontou.

– Lorde Mormont está no edifício – Edd anunciou. – Disse para você se juntar a ele. É melhor deixar o lobo aqui fora, ele parece suficientemente faminto para comer um dos filhos de Craster. Bem, para falar a verdade, eu estou suficientemente faminto para comer um dos filhos de Craster, desde que o sirvam quente. Vá lá, eu trato do seu cavalo. Se lá dentro estiver quente e seco, não me diga, não fui convidado a entrar – ele arrancou uma bola de lama úmida de uma ferradura. – Esta lama não parece merda? Será que toda esta colina é feita da merda de Craster?

Jon sorriu.

– Bem, ouvi dizer que ele está aqui há muito tempo.

– Não me anima. Vai lá encontrar o Velho Urso.

– Fantasma, fica – Jon ordenou. A porta da Fortaleza de Craster era feita de duas abas de pele de veado. Jon enfiou-se entre elas, abaixando-se para passar sob o batente baixo. Duas dúzias dos principais patrulheiros tinham-no precedido e estavam em pé, em volta da fogueira no centro do chão de terra, enquanto poças cresciam em volta das suas botas. O salão fedia a fuligem, esterco e cães molhados. O ar estava pesado de fumaça, mas de algum modo mantinha-se úmido. Entrava chuva pelo buraco para a saída da fumaça que havia no telhado. Era uma sala única, com um sótão para dormir em cima, ao qual se chegava por um par de escadas lascadas.

Jon recordou como se sentira no dia em que tinham partido da Muralha, nervoso como uma donzela, mas ansioso por ver os mistérios e maravilhas que se escondiam para lá de cada novo horizonte. Bem, eis uma das maravilhas, disse a si mesmo, olhando em volta do salão esquálido e malcheiroso. A fumaça acre estava fazendo-o lacrimejar. É uma pena que Pyp e Sapo não possam ver tudo o que estão perdendo.

Craster estava sentado na frente da fogueira, o único homem a desfrutar de uma cadeira individual. Até o Senhor Comandante Mormont tinha de se sentar no banco comum, com o corvo resmungando sobre seu ombro. Jarman Buckwell estava em pé, atrás dele, com a cota de malha remendada pingando e o couro molhado e brilhante, ao lado de Thoren Smallwood, que usava a placa de peito e o manto debruado de zibelina do falecido Sor Jaremy.

O justilho de pele de ovelha e o manto de peles cosidas de Craster contrastavam pobremente, mas em torno de um dos seus grossos pulsos havia uma pulseira pesada que tinha o brilho do ouro. Aparentava ser um homem poderoso, embora já bem avançado no inverno dos seus dias, com a cabeleira cinza tornando-se branca. Um nariz achatado e uma boca descaída davam-lhe um aspecto cruel, e tinha uma orelha a menos. Então isto é um selvagem. Jon lembrou-se das histórias da Velha Ama sobre o povo selvagem que bebia sangue de crânios humanos. Craster parecia estar bebendo uma cerveja diluída e amarela de uma taça de pedra lascada. Talvez não tivesse ouvido as histórias.

– Há três anos que não vejo Benjen Stark – estava dizendo a Mormont. – E para falar a verdade, nunca senti falta dele – meia dúzia de cachorros filhotes pretos e um ou dois porcos ocultavam-se por entre os bancos, enquanto mulheres vestidas com esfarrapadas peles de veado distribuíam cornos de cerveja, avivavam o fogo e cortavam cenouras e cebolas para dentro de uma caldeira.

– Devia ter passado por aqui no ano passado – disse Thoren Smallwood. Um cão veio farejar sua perna, e ele lhe deu um chute e o botou em fuga, ganindo.