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– Mais seco do que aqui fora.

– Se me esgueirar por lá depois, sem chegar muito perto do fogo, talvez não prestem atenção em mim até de manhã. Aqueles que ficarem sob o seu teto serão os primeiros que ele matará, mas pelo menos morreremos secos.

Jon teve de rir.

– Craster é um homem só. Nós somos duzentos. Duvido que ele assassine alguém.

– Alegra-me – Edd disse, com um ar completamente taciturno. – E, além disso, há muito a dizer em favor de um bom machado afiado. Detestaria ser assassinado com uma marreta. Vi uma vez um homem atingido na testa por uma. Quase não arranhou a pele, mas a cabeça dele se tornou mole e inchou até ficar do tamanho de uma abóbora, só que com uma cor vermelho-arroxeada. Um homem bem-apessoado, mas morreu feio. Que bom que não estamos lhe dando marretas – Edd afastou-se balançando a cabeça, com o manto negro encharcado jorrando chuva atrás de si.

Jon alimentou os cavalos antes de parar para pensar no seu jantar. Estava se perguntando onde poderia encontrar Sam, quando ouviu um grito de medo.

Lobo! – Jon correu na direção do grito, dando a volta no edifício, com a terra prendendo suas botas. Uma das mulheres de Craster estava encostada na parede salpicada de lama da fortaleza. – Fica aí – estava gritando para Fantasma. – Fica aí! – o lobo gigante tinha um coelho na boca e outro morto e ensanguentado no chão à sua frente. – Leve-o para longe, senhor – suplicou a mulher quando viu Jon.

– Ele não lhe fará mal – percebeu imediatamente o que tinha acontecido; uma coelheira de madeira, com as ripas despedaçadas, estava a lado de Fantasma na grama molhada. – Deve ter tido fome. Não encontramos muita caça – Jon assobiou. O lobo gigante devorou o coelho, esmagando os pequenos ossos entre os dentes, e caminhou para junto dele.

A mulher os mirou com olhos nervosos. Era mais nova do que Jon pensara a princípio. Uma garota de quinze ou dezesseis anos, parecia, com cabelo escuro que a chuva colava a um rosto magro e pés descalços enlameados até os tornozelos. O corpo sob as peles costuradas mostrava os primeiros sinais da gravidez.

– É uma das filhas de Craster? – ele perguntou.

Ela pôs a mão na barriga.

– Agora sou mulher dele – afastando-se com cuidado do lobo, ajoelhou-se com um ar desolado junto à coelheira quebrada. – Ia criar esses coelhos. Já não há ovelhas.

– A Patrulha vai pagá-los – Jon não tinha dinheiro seu, mas, se tivesse, teria lhe dado, embora não soubesse bem de que lhe serviriam alguns cobres, ou até uma peça de prata, para lá da Muralha. – Falarei com Lorde Mormont amanhã.

Ela limpou as mãos na saia:

– Senhor…

– Eu não sou senhor nenhum.

Mas outros tinham se juntado ao redor, atraídos pelo grito da mulher e pelo esmagamento da coelheira.

– Não acredite nele, moça – gritou Lark, o homem das Irmãs, um patrulheiro maldoso como um cão. – Este é Lorde Snow em pessoa.

– Bastardo de Winterfell e irmão de reis – zombou Chett, que tinha deixado seus cães para ver o que se passava.

– Esse lobo está olhando para você com cara de fome, moça – Lark voltou a falar. – Pode ser que lhe apeteça o pedacinho tenro que tem na barriga.

Jon não estava achando graça.

– Estão assustando-a.

– Acho que estamos mais é lhe avisando – o sorriso de Chett era tão feio como os furúnculos que cobriam a maior parte do seu rosto.

– Não devemos falar com vocês – lembrou-se a moça de repente.

– Espere – Jon pediu, tarde demais. Ela já tinha se soltado e fugiu.

Lark tentou agarrar o segundo coelho, mas Fantasma foi mais rápido. Quando mostrou os dentes, o homem das Irmãs deslizou na lama e caiu sobre o ossudo traseiro. Os outros gargalharam. O lobo gigante abocanhou o coelho e o levou para Jon.

– Não havia necessidade de assustar a moça – ele disse aos outros.

– Não ouviremos sermões de você, bastardo – Chett culpava Jon pela perda da sua posição confortável com Meistre Aemon, e não sem justiça. Se não tivesse ido falar com Aemon sobre Sam Tarly, Chett ainda estaria cuidando de um velho cego, em vez de uma matilha de cães de caça de mau temperamento. – Pode ser o animal de estimação do Senhor Comandante, mas não é o Senhor Comandante… e não falaria com todo esse maldito descaramento, se não andasse sempre com esse seu monstro por perto.

– Não vou lutar com um irmão enquanto estivermos além da Muralha – Jon respondeu, mantendo mais calma na voz do que sentia.

Lark ajoelhou-se.

– Ele tem medo de você, Chett. Nas Irmãs, temos um nome para gente assim.

– Conheço todos os nomes. Poupe seu fôlego.

Jon se afastou com Fantasma a seu lado. A chuva tinha se transformado numa garoinha fina quando ele chegou ao portão. O ocaso chegaria em breve, seguido por outra noite úmida, escura e triste. As nuvens esconderiam a lua, as estrelas e o Archote de Mormont, tornando a floresta negra como breu. Qualquer mijadinha seria uma aventura, ainda que não propriamente do tipo que Jon imaginava antigamente.

Sob as árvores, alguns patrulheiros tinham encontrado húmus e galhos secos suficientes para fazer uma fogueira por baixo de uma saliência de ardósia. Outros tinham erguido tendas ou feito abrigos rudimentares, estendendo os mantos sobre ramos baixos. O Gigante tinha se enfiado num buraco de um carvalho morto.

– O que acha do meu castelo, Lorde Snow?

– Parece aconchegante. Sabe onde está Sam?

– Continue em frente. Se chegar ao pavilhão de Sor Ottyn, já andou demais – o Gigante sorriu. – A não ser que Sam também tenha arranjado uma árvore. E que árvore essa seria.

Acabou sendo Fantasma quem encontrou Sam. O lobo gigante saira disparado como um projétil de uma besta. Sob uma saliência de rocha que providenciava algum abrigo da chuva, Sam alimentava os corvos. As botas faziam ruídos úmidos quando se movia.

– Meus pés estão completamente ensopados – ele admitiu em tom infeliz. – Quando desmontei, caí num buraco que chegava aos meus joelhos.

– Tire as botas e seque as meias. Eu vou à procura de um pouco de madeira seca. Se o chão não estiver molhado por baixo da rocha, talvez sejamos capazes de fazer uma fogueira arder – Jon mostrou a Sam o coelho. – E vamos nos banquetear.

– Não vai servir Lorde Mormont no edifício?

– Não, mas você, sim. O Velho Urso quer que faça um mapa para ele. Craster diz que encontra Mance Rayder para nós.

– Ah... – Sam não parecia ansioso por conhecer Craster, nem mesmo se isso significasse uma lareira quente.

– Mas ele disse para comer primeiro. Seque os pés.

Jon foi apanhar combustível, esgravatando por baixo de troncos caídos em busca de madeira mais seca e removendo camadas de agulhas de pinheiro encharcadas até encontrar alguma razoável. Mesmo assim, até que uma faísca pegasse pareceu demorar uma eternidade. Pendurou o manto na rocha a fim de manter a chuva afastada da sua pequena fogueira fumacenta, criando assim para os dois um pequeno recanto confortável.

Enquanto se ajoelhava para esfolar o coelho, Sam tirou as botas.

– Acho que tem musgo crescendo entre os meus dedos – o jovem gordo declarou em tom fúnebre, mexendo os dedos. – O coelho vai ficar bom. Nem me importo com o sangue e tudo o mais – ele afastou os olhos. – Bem, só um pouquinho…

Jon enfiou o coelho num espeto, limitou a fogueira com um par de pedras e equilibrou a refeição em cima delas. O coelho era uma tanto descarnado, mas enquanto assava cheirava como um banquete de rei. Outros patrulheiros deram-lhes olhares invejosos. Até Fantasma levantava a cabeça com ar faminto, com as chamas brilhando nos seus olhos vermelhos enquanto farejava.