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– Meu pai… – Jon hesitou.

– Continue, Jon. Diga o que quer dizer.

– Meu pai, uma vez, disse-me que há homens que não valem a pena – ele concluiu. – Um vassalo que é brutal ou injusto desonra tanto seu suserano como a si mesmo.

– Craster é somente dele mesmo. Não nos prestou juramento. Nem está sujeito às nossas leis. Seu coração é nobre, Jon, mas aprenda aqui uma lição. Não podemos pôr o mundo nos eixos. Não é esse o nosso propósito. A Patrulha da Noite tem outras guerras a travar.

Outras guerras. Sim. Tenho de me lembrar disso.

– Jarman Buckwell disse que posso precisar da minha espada em breve.

– Ah, ele disse? – Mormont não parecia contente. – Craster disse muitas coisas, e mais algumas, ontem à noite, e confirmou o suficiente dos meus temores para me condenar a uma noite sem sono no seu piso. Mance Rayder está reunindo seu povo nas Presas de Gelo. É por isso que as aldeias estão vazias. É a mesma história que Sor Denys Mallister obteve da selvagem que seus homens capturaram na Garganta, mas Craster acrescentou o onde, e isso faz toda a diferença.

– Está criando uma cidade, ou um exército?

– Bem, esta é questão. Quantos selvagens há lá? Quantos homens em idade de lutar? Ninguém sabe com certeza. As Presas de Gelo são cruéis, inóspitas, um deserto de pedra e gelo. Não sustentarão um número grande de pessoas por muito tempo. Só vejo um propósito nesta reunião. Mance Rayder pretende atacar em direção ao sul, para o interior dos Sete Reinos.

– Os selvagens já invadiram o reino antes – Jon ouvira histórias tanto da Velha Ama como de Meistre Luwin, em Winterfell. – Raymun Barba-Vermelha os levou ao sul nos tempos do avô do meu avô, e antes dele houve um rei chamado Bael, o Bardo.

– Sim, e muito antes deles houve Lorde Chifrudo e os reis irmãos Gendel e Gorne, e nos tempos antigos Joramun, que soprava o Berrante do inverno e evocava gigantes da terra. Cada um desses homens teve sua força quebrada na Muralha, ou foi quebrado pelo poder de Winterfell, do outro lado… Mas a Patrulha da Noite é apenas uma sombra do que foi. E quem resta para se opor aos selvagens além de nós? O Senhor de Winterfell está morto, e seu herdeiro levou suas forças para o sul a fim de lutar contra os Lannister. Os selvagens podem não ter uma chance como esta de novo. Eu conheci Mance Rayder, Jon. Ele é um perjuro, é certo… mas tem olhos para ver, e nenhum homem se atreveu alguma vez a chamá-lo de medroso.

– O que faremos? – Jon quis saber.

– Vamos encontrá-lo – Mormont respondeu. – Lutaremos com ele. Vamos pará-lo.

Trezentos, Jon pensou, contra a fúria dos selvagens. Seus dedos se abriram e se fecharam.

Theon

Era inegavelmente uma beleza. Mas o primeiro é sempre belo, Theon Greyjoy pensou.

– Ora, aí está um sorriso bonito – disse uma voz de mulher atrás de si. – O fidalgo gosta do que vê, é isso?

Theon virou-se para avaliar. Gostou do que viu. Percebeu, num relance, que era natural das ilhas; esguia, de pernas longas, com cabelo negro cortado curto, pele esfolada pelo vento, mãos fortes e seguras, uma adaga no cinto. O nariz era grande e afilado demais para sua cara magra, mas o sorriso compensava. Estimou que seria alguns anos mais velha do que ele, mas com menos de vinte e cinco anos. Movia-se como se estivesse habituada a ter um convés debaixo dos pés.

– Sim, é uma coisa bela – ele disse. – Embora nem de perto tão encantadora como você.

– O-ho – ela sorriu. – É melhor eu ter cuidado. Este fidalgo tem mel na língua.

– Prove-a, e verá.

– Então é assim? – ela perguntou, olhando-o com ousadia. Havia mulheres nas Ilhas de Ferro, não muitas, mas algumas, que tripulavam os dracares com seus homens, e dizia-se que o sal e o mar as modificavam, dando-lhes os apetites de um homem. – O fidalgo passou tanto tempo assim no mar? Ou não havia mulheres no lugar de onde veio?

– Havia bastante mulheres, mas nenhuma como você.

– E como o fidalgo pode saber como eu sou?

– Meus olhos podem ver seu rosto. Meus ouvidos podem escutar seu riso. E minha pica ficou dura como um mastro por você.

A mulher se aproximou e empurrou uma mão contra a parte da frente dos calções dele.

– Bem, não é mentiroso – ela confirmou, dando um apertão através do pano. – Dói muito?

– Violentamente.

– Pobre fidalgo – a mulher o largou e deu um passo para trás. – Acontece que sou mulher casada e recém-engravidada.

– Os deuses são bons – Theon respondeu. – Assim não há hipótese de lhe dar um bastardo.

– Mesmo assim, meu homem não lhe agradeceria.

– Não, mas você talvez sim.

– E por que faria isso? Já tive senhores antes. São feitos da mesma maneira que os outros homens.

– Alguma vez já teve um príncipe? – Theon quis saber. – Quando for enrugada e grisalha, e seus seios caírem para baixo da barriga, poderá contar aos filhos dos seus filhos que um dia amou um rei.

– Oh, é de amor que estamos falando agora? E eu que pensava que era só de picas e de bocetas.

– É amor o que lhe agrada? – Theon decidiu que gostava daquela mulher, fosse quem fosse; sua perspicácia aguçada era uma pausa bem-vinda na melancolia úmida de Pyke. – Devo dar seu nome ao meu dracar, tocar harpa para você e mantê-la numa sala de torre do meu castelo apenas com joias para vestir, como uma princesa numa canção?

– O fidalgo devia dar meu nome ao seu navio – ela disse, ignorando todo o resto. – Fui eu quem o construiu.

– Quem o construiu foi Sigrin. O carpinteiro do senhor meu pai.

– Sou Esgred. Filha de Ambrode e mulher de Sigrin.

Theon não sabia que Ambrode tinha uma filha, ou Sigrin uma mulher… Havia se encontrado apenas uma vez com o construtor de navios, o mais novo, e do mais velho quase não se lembrava.

– É desperdiçada com Sigrin.

– O-ho. Sigrin disse-me que este belo navio é desperdiçado com você.

Theon ficou irritado.

– Sabe quem eu sou?

– Príncipe Theon, da Casa Greyjoy. Quem haveria de ser? Diga-me a verdade, senhor, até que ponto ama esta sua nova donzela? Sigrin vai querer saber.

O dracar era tão novo, que ainda cheirava a piche e resina. Tio Aeron iria abençoá-lo na manhã seguinte, mas Theon tinha vindo de Pyke para dar uma olhada nele antes de ser lançado ao mar. Não era tão grande como o Grande Lula Gigante de Lorde Balon, ou o Vitória de Ferro do tio Victarion, mas parecia rápido e manobrável, mesmo parado sobre seu berço de madeira, na praia; um casco negro e esguio com cem pés de comprimento, um único grande mastro, cinquenta remos longos, um convés com capacidade para cem homens… e, à proa, o grande espigão de ferro em forma de ponta de seta.

– Sigrin fez um bom serviço para mim – admitiu. – É tão rápido como parece?

– Mais rápido… para um mestre que saiba como manejá-lo.

– Já se passaram alguns anos desde que velejei pela última vez – e nunca capitaneei um navio, na verdade. – Em todo caso, sou um Greyjoy, e um homem de ferro. O mar está no meu sangue.

– E seu sangue estará no mar, se velejar da maneira como fala – ela retrucou.

– Nunca trataria mal uma donzela tão bela.

– Bela donzela? – ela soltou uma gargalhada. – Esta beleza é uma cadela do mar, isso sim.

– Aí está, acabou de lhe dar o nome. Cadela do Mar.

Aquilo divertiu a mulher; ele viu o brilho nos seus olhos escuros.

– E o fidalgo que tinha dito que queria batizá-la em minha honra – disse a mulher numa voz de censura magoada.

– Foi o que fiz – Theon pegou sua mão. – Ajude-me, senhora. Nas terras verdes, acredita-se que uma mulher à espera de um bebê significa boa fortuna para qualquer homem que se deite com ela.