– E o que sabem de navios nas terras verdes? Ou de mulheres, aliás? Seja como for, parece-me que inventou isso.
– Se eu confessar, ainda me amará?
– Ainda? Quando foi que o amei?
– Nunca – Theon admitiu. – Mas estou tentando reparar essa falta, minha querida Esgred. O vento é frio. Venha a bordo do meu navio e deixe-me aquecê-la. De manhã, meu tio Aeron despejará água do mar na sua proa e resmungará uma prece ao Deus Afogado, mas eu preferiria abençoá-lo com o leite da minha virilha, e da sua.
– O Deus Afogado pode não ver isso com bons olhos.
– Que se lixe o Deus Afogado. Se nos incomodar, afogo-o de novo. Partimos para a guerra dentro de uma quinzena. Quer me enviar para a batalha sem conseguir dormir, cheio de desejo?
– De bom grado.
– Donzela cruel. Meu navio tem o nome certo. Se conduzi-lo para os rochedos distraído por sua causa, poderá se culpar.
– Pretende conduzir com isto? – Esgred voltou a roçar a parte da frente dos calções de Theon e sorriu quando um dedo delineou o contorno de ferro do seu membro.
– Volte para Pyke comigo – ele disse de repente, pensando: O que dirá Lorde Balon? E por que devo me importar? Sou um homem-feito, se quiser trazer uma mulher para a cama é problema meu e de mais ninguém.
– E o que eu faria em Pyke? – a mão dela ficou onde estava.
– Meu pai vai dar esta noite um banquete aos seus capitães – banqueteava-os todas as noites enquanto esperava a chegada dos retardatários, mas Theon não viu necessidade de lhe dizer isso.
– Quer me nomear seu capitão por uma noite, senhor meu príncipe? – ela tinha o sorriso mais malicioso que Theon já vira numa mulher.
– Poderia fazê-lo. Se soubesse que me levaria a salvo até o porto.
– Bem, sei qual é a ponta do remo que entra no mar, e não há ninguém melhor do que eu com cordas e nós – com uma mão só, desamarrou os cordões dos calções dele, depois sorriu, e afastou-se com um movimento ligeiro. – Pena que seja uma mulher casada e recém-engravidada.
Excitado, Theon voltou a se amarrar.
– Tenho de voltar ao castelo. Se não vier comigo, posso me perder por desgosto, e todas estas ilhas ficarão mais pobres.
– Isso não pode ser… Mas eu não tenho cavalo, senhor.
– Pode levar a montaria do meu escudeiro.
– E obrigar seu pobre escudeiro a voltar a Pyke a pé?
– Então divida a minha.
– O senhor gostaria bastante disso – de novo o sorriso. – Bom... Eu iria atrás de você, ou à sua frente?
– Você faria o que quisesse.
– Gosto de ficar por cima.
Onde esta devassa esteve durante toda a minha vida?
– O palácio do meu pai é sombrio e úmido. Precisa de Esgred para fazer o fogo arder.
– O fidalgo tem mel na língua.
– Não foi assim que começamos?
Ela ergueu as mãos:
– E é aqui que terminamos. Esgred é sua, querido príncipe. Leve-me para o seu castelo. Deixe-me ver as suas orgulhosas torres que se erguem do mar.
– Deixei o cavalo na estalagem. Venha.
Caminharam juntos ao longo da margem, e quando Theon tomou seu braço, ela não se afastou. Gostava do modo como ela caminhava; havia naquele andar uma ousadia, em parte passeio, em parte balanço, que sugeria que ela seria igualmente ousada sob os lençóis.
Theon nunca vira Fidalporto tão cheio de gente, repleto das tripulações dos dracares que enchiam a costa pedregosa e balançavam, ancorados bem para lá da rebentação. Os homens de ferro não dobravam os joelhos frequentemente ou com facilidade, mas Theon reparou que tanto remadores como o povo da vila caíam no silêncio quando eles passavam e o cumprimentavam inclinando respeitosamente a cabeça. Finalmente aprenderam quem eu sou, pensou. E já era mais que hora.
Lorde Goodbrother de Grande Wyk tinha chegado na noite anterior com sua força principal, quase quarenta dracares. Seus homens estavam por toda a parte, ilustres com suas faixas listradas de pelo de cabra. Dizia-se na estalagem que as prostitutas de Otter Gimpknee estavam sendo comidas, até ficarem com as pernas tortas, por rapazes sem barbas com faixas. Theon só desejava que fizessem bom proveito. Pior antro de rameiras esperava nunca ver. A atual companhia era mais do seu agrado. Que fosse casada com o carpinteiro do pai, e além disso estivesse grávida, só lhe despertava mais a curiosidade.
– O senhor meu príncipe já começou a escolher sua tripulação? – Esgred perguntou enquanto abriam caminho para os estábulos. – Ei, Bluetooth – ela gritou para um navegador que passou por perto, um homem alto com traje de pele de urso e capacete com asas de corvo. – Como vai sua noiva?
– Com uma grande barriga, e falando em gêmeos.
– Já? – Esgred deu aquele sorriso malicioso. – Meteu depressa o remo na água.
– Sim, e remei, remei e remei – rugiu o homem.
– Um homem grande – observou Theon. – Bluetooth, não é? Deveria escolhê-lo para a minha Cadela do Mar?
– Só se pretender insultá-lo. Bluetooth tem um belo navio só dele.
– Estive longe tempo demais para distinguir um homem dos outros – Theon admitiu. Procurara por alguns dos amigos com quem brincava quando criança, mas tinham partido, morrido ou se transformado em estranhos. – Meu tio Victarion emprestou-me seu timoneiro.
– Rymolf Stormdrunk? Um bom homem, desde que esteja sóbrio – a mulher viu mais rostos que conhecia e chamou um trio que passava: – Uller, Qarl. Onde está seu irmão, Skyte?
– Temo que o Deus Afogado tenha precisado de um remador forte – respondeu o homem troncudo com veios grisalhos na barba.
– O que ele quer dizer é que Eldiss bebeu vinho demais e sua gorda barriga estourou – disse o jovem de bochechas rosadas ao seu lado.
– O que está morto não pode morrer – Esgred rebateu.
– O que está morto não pode morrer.
Theon murmurou as palavras com eles.
– Parece conhecer muita gente – ele disse à mulher depois de os homens passarem.
– Todos os homens gostam da mulher do construtor de navios. E é bom que gostem, a menos que queiram que seu navio afunde. Se precisa de homens para puxar os seus remos, encontrará piores do que aqueles três.
– Fidalporto não tem falta de braços fortes – Theon já pensara bastante no assunto. Era guerreiros que queria, e homens que lhe fossem leais, e não ao senhor seu pai ou aos tios. Por ora representava o papel de um jovem príncipe obediente, enquanto esperava que Lorde Balon revelasse seus planos por inteiro. Mas se por acaso não gostasse desses planos ou da parte que neles desempenhava, bem…
– A força não basta. Os remos de um dracar devem se mover como um só para obter a velocidade máxima. Se for sensato, escolherá homens que já remaram juntos antes.
– Sábio conselho. Talvez queira me ajudar a escolhê-los – que ela acredite que quero a sua sabedoria; as mulheres gostam disso.
– Talvez. Se me tratar com gentileza.
– De que outra forma a trataria?
Theon acelerou o passo ao se aproximarem do Myraham, que balançava alto e vazio junto ao cais. O capitão tentara zarpar há uma quinzena, mas Lorde Balon não permitiu. Nenhum dos mercadores que aportaram em Fidalporto tinha sido autorizado a voltar a partir; o pai não queria que nenhuma notícia da reunião das suas forças chegasse ao continente antes de estar pronto para atacar.
– Senhora – chamou uma voz suplicante vinda do castelo de proa do navio mercante. A filha do capitão debruçava-se sobre a amurada, olhando-o. O pai a proibira de ir à terra firme, mas sempre que Theon vinha a Fidalporto vislumbrava-a vagando desamparadamente pelo convés. – Senhora, um momento – ela chamou novamente. – Se agradar ao senhor.