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“Tem trezentos metros de altura”, comentou orgulhosamente o cocheiro. “É a mais alta construção do mundo, maior do que as pirâmides do Egipto. “ Foram instalar-se no Hotel Scribe e, sem perderem tempo, apanharam em Châtelet o chemin de fer metropolitain em direcção à Place d'Italie, tudo numa grande excitação, não imaginavam ser possível andar num comboio por baixo da terra, que maravilha, que prodígio, na Place d'Italie apanharam outro metropolitain e foram dar à Place du Trocadéro, a estação da Exposição Universal, dirigiram-se ali a um dos guichets de acesso ao recinto e Paul puxou da carteira.

“Quanto são seis bilhetes? “

“Como já é meio-dia, é um franco por pessoa”, indicou o recepcionista.

“Ah é? E se tivéssemos chegado mais cedo?

“Até às dez da manhã são dois francos por pessoa, msieu. Depois das dez passa a um franco. “

Uma enorme multidão enchia o Trocadéro, tornando difícil a circulação. Os Chevallier entraram no recinto e deram imediatamente de caras com o exótico pavilhão de Madagáscar, um grupo de homens com chapéus de palha e capas às riscas a cantar alegres canções malgaches num palco sobre o passeio, uma multidão em redor a apreciar o espectáculo de som e festa, viam-se camelots a venderem postais, elegantes senhoras com vistosas sombrinhas, cavalheiros de bengala e cartola, crianças vestidas como adultos, um mar de gente aqui e ali, vagueando, fluindo tudo num imenso bulício, era a belle époque em todo o seu esplendor.

“Vamos ver, pai, vamos ver”, implorou Agnès aos pulos, apontando para os animados músicos malgaches.

Claudette fez coro.

“On va?“

Mas Paul, previamente aconselhado pelos amigos a não perder a cabeça com a primeira atracção que lhe aparecesse pela frente e preocupado em gerir o tempo, abanou a cabeça.

“Agora não, meninas. Vamos primeiro dar uma volta e só depois é que escolhemos o que iremos assistir”

“Mas eu quero ouvir aquela música”, insistiu Agnès. “É divertida. “

“Depois, filha, depois”

Os seis penetraram no parque do Trocadéro e deram com a exposição colonial e a sua miscelânea de estilos arquitectónicos, colunas do antigo Egipto, pagodes de Brama, telhados revirados do Japão, cúpulas árabes, casas de bambu, palhotas, tendas, medinas, 29

tudo povoado de povos indígenas que enchiam a praça com um colorido exotismo, eram beduínos, chineses, bosquí-manos, índios, bantus, sikhs, mongóis, melanésios. Desceram o parque pelo corredor direito, à esquerda um lago a cair em degraus comn uma cascata geométrica, à direita as colónias francesas, Martinica, Guadalupe, Guiana, Reunião, Tonquim, do outro lado do lago as colónias estrangeiras, a Ásia russa, o Transval, as colónias portuguesas, as Índias holandesas, nada disto interessava, eram outros impérios, a não ser talvez aquele estranho edifício na esquina, “c'est quoi ça?”, é uma réplica do templo javanês de Tchandi-Sari entalado entre duas casas dos planaltos de Samatra. Mantiveram-se no corredor das colónias francesas e deram, à direita, com a porta de uma casa de Tunes, depois surgiram as construções do oásis de Tozeur, pórticos da mesquita de Sidi-Mahrès, o minarete da mesquita de Barbier, um café de Sidi-bu-Said, ruelas de souks, é a Tunísia, “c'est pas rigolo?“, à direita o palácio da Argélia, um edifício esbranquiçado e ornado com frisos e cantarias de azulejos, ao lado a velha Argel com a sua pitoresca casbah, terraços abertos, cúpulas e minaretes coroados com crescentes islâmicos, um restaurante de couscous lá dentro, raparigas de Ouled-Nails a atraírem uma embasbacada multidão com a sua atrevida dança do sabre, “uh la la! “, do outro lado encontravam-se as colónias inglesas, não interessava.

Agnès mostrava-se estupefacta com a variedade cultural que se espalhava em redor.

Tudo lhe parecia estranho, exótico, quase mágico, exuberante de diversidade, tão diferente do que estava habituada a ver, e olhava para o pai como fonte de respostas para as múltiplas dúvidas que a assaltavam.

“Mas, papá, por que é que eles têm a pele escura?

“É por causa do sol, filha. “

A menina olhou para a brancura marmórea do seu braço, a pele exibia um tom claro de leite, alvo e suave como marfim.

“Mas eu também apanho sol e sou clarinha. “

“É que eles, lá na sua terra, apanham muito mais sol do que nós, são meses e meses de sol, sem quase verem nuvens. “

Agnès fez um olhar céptico.

“Meses de sol? Então não têm Inverno? “

“Parece que não. O monsieur Dongot, aquele gorducho que às vezes vai lá à loja para comprar umas remessas para Hué, o do bigode, sabes? Pois ele anda pelas Indochinas e contou-me que nos trópicos nunca usam casaco e que a água da praia é tão quente que parece que foi aquecida numa chaleira. “

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Agnès ficou alguns minutos a mirar as figuras exóticas que se moviam em torno de si, imaginando-as num mundo de sol e águas escaldantes, um mundo onde não eram precisos casacos e as pessoas se tornavam escuras com o calor. Era difícil acreditar em tal, mas se o pai o dizia...

A figura dominante da Torre Eiffel impôs-se finalmente sobre o parque do Trocadéro. Os Chevallier admiraram aquele monumento em ferro que os atraía do outro lado do rio como se fosse um íman, um magneto fascinante, impo-nente, poderoso, gigantesco. Cruzaram a Pont d'Iena, alargada especialmente para a Exposição, e, por entre dois trinck-hall, entraram no Champ-de-Mars, o colosso metálico rasgando o céu diante de si, o espaço em redor ocupado por vistosos edifícios de ferro e vidro, à direita o Cinéorama e o Palais de la Femme, atrás destes o Palais de l’Optique, à esquerda o Crédit Lyonnais, o quiosque dos tabacs étrangers, o exótico Panorama du Tour du Monde com a sua rica e complexa fachada dominada por um pagode japonês, um minarete turco e uma torre de Angkor, dançarinas cambojanas a a traírem mirones frente à porta principal, ao lado o pequeno chalet de madeira do Club Alpin e a seguir o Palais du Costume. Por baixo da Torre Eiffel estendia-se um jardim geométrico francês, com dois kiosques à la musique a executarem ruidosas marchas militares, e de ambos os lados desenhavam-se pequenos lagos sinuosos integrados num harmonioso jardim paisagístico inglês, muita relva entre rochas, lombas e rica vegetação tropical, fetos arborescentes, palmeiras de estipes esguias, arbustos viçosos, caminhos a serpentearem pela verdura, pontes sobre a água, nenúfares a deslizarem suavemente à superfície, serenos, delicados.

Os Chevallier foram almoçar uns crêpes au fromage et jambon ao restaurante entre o Palais du Costume e o edifício dos Postes et Télégraphes, com vista para o lago e para a Torre Eiffel.

“Papá, o que é que monsieur Dongot diz das pessoas que ele para lá viu?“, quis saber Agnès enquanto saboreava o queijo derretido dentro do crepe.

“ Que viu onde Na Indochina “

“ Sim. “

“Ele diz que são uns selvagens, uns primitivos, parecem uns chineses escuros e só comem arroz. “