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"Tomás? Tomás?"

O português sacudiu a cabeça, regressando ao presente.

"Hã?"

"Você está bem?"

Ariana olhava-o com ar intrigado, como se tentasse vislumbrar sinais de febre na tez pálida do historiador.

"O quê? Eu?", balbuciou ele. Endireitou-se. "Sim, sim. Estou bem, não se preocupe."

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"Olhe que não parece, sabe? Dá a impressão de não estar a prestar a mínima atenção ao que lhe estou a dizer." Inclinou a cabeça, num gesto muito seu. "Sente-se cansado?"

"Uh... sim, um pouco."

"Quer descansar, é?"

"Não, não. Vamos terminar isto agora e depois eu vou descansar à tarde. Pode ser?"

"Sim, tudo bem. Como queira."

Tomás suspirou e voltou a pousar os olhos no poema.

"Se quer que lhe diga, não sei como irei descodificar isto sem ter sequer uma idéia do tema do manuscrito de Einstein", comentou, agarrando-se a uma derradeira esperança de conseguir convencer a iraniana a fazer-lhe uma revelação que tornasse desnecessário o raide dessa noite. Fitou-a nos olhos com uma expressão de súplica.

"Oiça, não me pode revelar nem que seja um pouquinho? Só uma coisa pequenina."

Ariana olhou em redor, atrapalhada.

"Tomás, eu não posso..."

"Só uma idéia."

"Não, não pode ser. É também para o seu bem."

"Vá lá..."

"Não."

"Ouça, se não me disser nada, nós não vamos conseguir avançar. Eu preciso que me dê uma direção."

A iraniana observou-o com intensidade, indecisa sobre o que fazer. Poderia revelar alguma coisa? Se revelasse, o que revelaria? Quais as consequências de o fazer? Ponderou a questão durante alguns segundos e tomou por fim uma decisão.

"Eu não lhe vou revelar o conteúdo do manuscrito porque isso não só poria em causa a segurança nacional do Irão como o colocaria a si, e também a mim, em perigo", disse, baixando a voz. "A única coisa que lhe posso dizer é que nós próprios estamos intrigados com o documento e acreditamos que só a decifração das charadas nos permitirá perceber tudo."

"Vocês estão intrigados, é?"

"Sim."

"Porquê?"

Ariana esboçou um gesto impaciente.

"Não lhe posso dizer. Se calhar até já falei demais."

"Mas o que tem ele assim de tão intrigante?"

"Não lhe posso dizer, já disse. A única coisa que posso fazer é enquadrar a produção desse manuscrito na vida de Einstein. Interessa-lhe saber isso?"

Tomás hesitou.

"Bem... sim, por que não? Acha que é relevante?"

"Não sei. Se calhar não é."

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"Ou se calhar é, quem sabe?" O historiador resolveu-se enfim. "Está bem, conte lá."

Ariana ajeitou-se no sofá, procurando coordenar as idéias.

"Diga-me uma coisa, Tomás. O que sabe você de física?"

O português riu-se.

"Pouco", disse. "Como sabe, eu sou historiador e criptanalista, a minha área de interesses não é propriamente a física, não é? O meu pai é que é lá das matemáticas e tem interesse por essas áreas, afinal de contas passou a vida à volta de equações e de teoremas. Mas eu não, prefiro muito mais os hieróglifos e as escritas hebraica e aramaica, gosto é do cheiro a pó das bibliotecas e do bafo abolor exalado pelos velhos manuscritos e pelos papiros. É esse o meu mundo."

"Eu sei disso. Mas o que eu preciso de perceber é se você entende qual é a pesquisa fundamental da física neste momento."

"Não faço a mínima idéia."

"Nunca ouviu falar na Teoria de Tudo?"

"Não."

A iraniana passou as mãos pelos seus belos cabelos negros, ponderando o melhor modo de lhe explicar as coisas.

"Vamos lá a ver, sabe ao menos o que é a Teoria da Relatividade..."

"Claro. Isso é elementar."

"Digamos que a busca da Teoria de Tudo começou com a Teoria da Relatividade.

Até Einstein, a física assentava no trabalho de Newton, que dava perfeita conta do recado na explicação do funcionamento do universo tal como ele é percepcionado pelos seres humanos. Mas havia dois problemas relacionados com a luz que não se conseguia resolver. Um era saber por que razão um objeto aquecido emitia luz e o outro era perceber o valor constante da velocidade da luz."

"Devo então supor que foi Einstein quem fez luz sobre o problema da luz", gracejou Tomás.

"Nem mais. Einstein concluiu em 1905 a sua Teoria da Relatividade Restrita, onde estabeleceu uma ligação entre o espaço e o tempo, dizendo que ambos são relativos. Por exemplo, o tempo muda porque há movimento no espaço. A única coisa que não é relativa, mas absoluta, é a velocidade da luz. Ele previu que, a velocidades próximas da luz, o tempo abranda e as distâncias contraem-se."

"Isso já eu sei."

"Ainda bem, porque assim não perco muito tempo com isto. A questão é que, se tudo é relativo, com excepção da velocidade da luz, então até a massa e a energia são relativas. Mais do que relativas, massa e energia são as duas faces de uma mesma moeda."

"Essa não é aquela famosa equação?"

Ariana rabiscou a equação numa folha de rascunho.

E = mc2

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"Sim. Energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade da luz."

"Se bem me lembro, essa é a equação que está por detrás das bombas atômicas."

"Exato. Como você sabe, a velocidade da luz é enorme. O quadrado da velocidade da luz é um número tão grande que isto implica que uma minúscula porção de massa contém uma brutal quantidade de energia. Por exemplo, você pesa para aí uns oitenta quilos, não pesa?"

"Mais ou menos."

"Isso significa que você contém no seu corpo matéria com energia suficiente para abastecer de eletricidade uma pequena cidade durante uma semana inteira. A única dificuldade é transformar essa matéria em energia."

"Isso não tem a ver com a força forte que mantém unido o núcleo dos átomos?"

Ariana inclinou a cabeça e ergueu o sobrolho.

"Afinal você sempre sabe umas coisinhas de física..."

"Uh... devo ter lido isso algures."

"Pois. Bem, fique então com a idéia de que energia e massa são as duas faces da mesma moeda. Isto significa que se pode transformar uma coisa na outra, ou seja, energia transformar-se em matéria ou matéria em energia."

"Está a dizer que é possível fazer uma pedra a partir da energia?"

"Sim, teoricamente isso é possível, embora a transformação de energia em massa seja algo que nós normalmente não observamos. Mas acontece. Por exemplo, se um objecto se aproximar da velocidade da luz, o tempo contrai-se e a sua massa aumenta.

Nessa situação, a energia do movimento dá lugar à massa."

"Isso já alguma vez foi observado?"

"Sim. No Acelerador de Partículas do CERN, na Suíça. Os electrões foram acelerados a tal velocidade que aumentaram quarenta mil vezes de massa. Há mesmo fotografias do rasto de protões depois de choques, veja lá."

"Caramba."

"É, aliás, por isso que nenhum objeto pode atingir a velocidade da luz. Se o fizesse, a sua massa tornar-se-ia infinitamente grande, o que requereria uma energia infinita para movimentar esse objeto. Ora, isso não pode ser, não é? Daí que se diga que a velocidade da luz é a velocidade limite no universo. Nada a pode igualar, porque, se um corpo a igualasse, a sua massa tornar-se-ia infinitamente grande."