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E, na verdade, os três observadores têm razão. Ou melhor, têm razão segundo o seu ponto de referência, uma vez que o tempo é relativo à posição do observador. Não há um tempo único. Está claro isto?"

"Sim."

"Ora, tudo isto significa que não há um presente universal. O que é presente para um observador é passado para outro e futuro para um terceiro. Já viu o que isto significa? Uma coisa ainda não aconteceu e já aconteceu. Yin e yang. Esse acontecimento é inevitável porque, embora já tenha acontecido num ponto, ainda não aconteceu noutro, mas vai acontecer."

"Isso é uma coisa estranha, não é?"

"Muito", concordou o bodhisattva. "E, no entanto, é o que dizem as teorias da Relatividade. Além do mais, isto bate certo com a afirmação de Laplace de que o futuro, tal como o passado, já se

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encontra determinado." Apontou para Tomás. "Indo de encontro ao paradoxo dos gémeos, é importante estabelecer que a percepção temporal do observador depende da própria velocidade a que ele se movimenta. Quanto mais próximo da velocidade da luz o observador se move, mais devagar circula o seu relógio. Quer dizer, para esse observador o tempo é normal, claro, um minuto continua a ser um minuto. É só para quem está a mover-se a velocidade mais lenta que parece que o relógio do observador rápido é mais lento. Da mesma forma, o observador que circula próximo da velocidade da luz vai ver a Terra a rodopiar à volta do Sol a grande velocidade. Parecer-lhe-á que o tempo da Terra está acelerado, que se passa um ano em apenas um segundo, mas, na Terra, um ano continua a ser um ano."

"Isso é apenas teoria, não é?"

"Em bom rigor, isto já está provado", disse Tenzing. "Em 1972 foi colocado um relógio de alta precisão dentro de um jato muito rápido, para comparar depois a sua medição do tempo com a de outro relógio de alta precisão que ficou em terra. Quando o aparelho voou na direcção leste, o relógio que seguia a bordo perdeu quase sessenta nanossegundos em relação ao terrestre. Quando se dirigiu para oeste, o relógio voador ganhou mais de duzentos e setenta nanossegundos. Esta diferença deve-se, como é evidente, à associação da velocidade do jacto com a velocidade da rotação da Terra. De qualquer modo, tudo isto foi depois confirmado pelos astronautas do Space Shuttle."

"Hmm."

"Ora bem, chegamos agora ao ponto crucial, que é o da gravidade." O velho tibetano endireitou-se sobre a almofada. "Uma das coisas que Einstein descobriu é que o espaço-tempo é curvo. Quando algo se aproxima de um objeto muito grande, como o Sol, é atraído por essa enorme massa, como se, de repente, chegasse ao pé de um fosso. É isso que explica a gravidade. O espaço curva-se e, como espaço e tempo estão relacionados, o tempo também se curva. O que a Teoria da Relatividade Geral veio dizer é que a passagem do tempo é mais lenta em locais de alta gravidade e mais rápida nos locais de fraca gravidade. Isto tem várias consequências, todas elas relacionadas entre si. A primeira é que cada objecto existente no cosmos possui a sua própria gravidade, fruto das suas características, o que significa que o tempo passa de modo diferente em cada ponto do universo. A segunda consequência é que o tempo na Lua é mais rápido do que o tempo na Terra e o tempo na Terra é mais rápido do que o tempo no Sol. Quanto mais massa tem o objecto, mais lento é o tempo à sua superfície. Os objetos com maior gravidade que se conhecem são os buracos negros, o que significa que, se uma nave se aproximasse de um buraco negro, veria a história do universo acelerar e chegar ao fim diante dos olhos dos seus tripulantes."

"Isso é extraordinário", comentou Tomás. "Mas qual a relevância de tudo isso para a nossa questão?"

"Isto é relevante para lhe explicar que Einstein resolveu partir do princípio de que os seis dias da Criação, conforme são descritos pela Bíblia, devem ser vistos à luz da relação entre o tempo na Terra e o espaço-tempo no universo. Quando fala num dia, o Antigo Testamento está a referir-se, como é evidente, a um dia terrestre. Mas, segundo as teorias da Relatividade, quanto maior é a massa de um objecto, mais lenta é a passagem do tempo à sua superfície. E a pergunta que Einstein colocou foi esta: quanto tempo à escala temporal do universo é um dia na Terra?"

A pergunta ficou a pairar por um instante.

"Começo agora a perceber as contas e equações que li no manuscrito", murmurou Ariana. "Ele estava a medir a passagem do tempo à escala do universo."

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"Nem mais", sorriu Tenzing. "A própria Bíblia estabelece que a Terra só foi criada ao terceiro dia. Portanto, embora a medição fosse assente em dias terrestres, o Antigo Testamento está evidentemente a referir-se ao terceiro dia à escala do universo, uma vez que nos dois primeiros dias não existia Terra."

"Mas qual o ponto de referência para a medição?", quis saber a iraniana.

"Einstein baseou-se numa previsão feita em 1948 relativa à teoria do Big Bang: a existência de luz reminiscente do grande acto de criação do universo. Cada onda de luz funcionaria como um tique do grande tiquetaque universal. As ondas que chegam à Terra são esticadas dois vírgula doze frações de um milhão, quando comparadas com as ondas geradas pela luz na Terra. Isto significa, por exemplo, que, por cada milhão de segundos terrestres, o Sol perde dois vírgula doze segundos. A pergunta seguinte é: se o Sol perde mais de dois segundos em relação à Terra, quanto tempo perde todo o universo, que tem muito mais massa?"

"Espere aí", reagiu Ariana. "Que eu saiba, a gravidade do universo é diferente ao longo do tempo. No início, quando a matéria estava toda concentrada, a gravidade era maior do que mais tarde. Einstein considerou isso?"

"Claro que considerou." O budista juntou as duas mãos, como se estivesse a amassar um objeto. "Quando o universo começou, a matéria estava toda concentrada.

Isso significa que a força de gravidade era inicialmente enorme e, consequentemente, a passagem do tempo muito lenta." As mãos separaram-se devagar. "À medida que a matéria se foi afastando, a passagem do tempo foi acelerando porque a gravidade foi-se tornando menor."

"E quanto mais lento era o tempo antes?", insistiu a iraniana.

"Um milhão de milhão de vezes", disse Tenzing. "Essa conta é confirmada pela medição das ondas de luz primordiais."

"Mas depois foi acelerando."

"Claro."

"Em que proporção?"

"Cada duplicação do tamanho do universo abrandou o tempo por um factor de dois."

"E o que resultou dessas contas?"

O bodhisattva abriu os braços.

"Uma coisa extraordinária", exclamou. "O primeiro dia bíblico durou oito mil milhões de anos. O segundo dia durou quatro mil milhões, o terceiro durou dois mil milhões, o quarto durou mil milhões, o quinto durou quinhentos milhões de anos e o sexto dia durou duzentos e cinquenta milhões de anos."

"Isso tudo junto dá quanto?"

"Quinze mil milhões de anos."

Ariana ficou um longo instante especada a olhar para o velho budista.