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As Grandes Árvores já eram visíveis acima dos telhados, com os largos topos erguendo-se a mais de cem braças do chão. Carvalhos, olmos, folhas-de-couro e abetos, todos enormes, pareciam pequenos perto delas. Uma espécie de muro cercava o bosque, a cerca de duas milhas de onde estavam, mas era composto apenas por uma série de arcos de pedra, cada um com cinco braças de altura e o dobro de largura. Do lado de fora do muro, carruagens, carroças e pessoas enchiam a rua. Já do lado de dentro havia uma espécie de área selvagem. O bosque não tinha a aparência inofensiva de um parque e tampouco o caos completo das profundezas das florestas. Em vez disso, parecia o ideal da natureza, como se aquela fosse uma mata perfeita, a floresta mais bela que podia existir. Algumas das folhas já começavam a mudar de cor, e mesmo as pequenas manchas de laranja, amarelo e vermelho naquela imensidão verde, aos olhos de Egwene, pareciam ter a aparência exata que as folhas do outono deveriam ter.

Algumas pessoas passeavam pelos arcos, mas ninguém prestou atenções às quatro mulheres que entraram a cavalo na mata. Logo perderam a cidade de vista, e até mesmo os sons foram abafados, e pouco depois bloqueados, pelo bosque. Após poucos passos já pareciam estar a milhas da cidade mais próxima.

— Ela disse que nos encontraria na orla norte do bosque — murmurou Nynaeve, olhando ao redor. — Não há nenhum ponto mais ao norte do que… — Ela parou de falar quando dois cavalos saíram de trás de um sabugueiro. Uma égua escura e lustrosa, levando uma mulher, e um cavalo de carga com poucos volumes.

A égua escura empinou quando Liandrin puxou as rédeas com força. O rosto da Aes Sedai era uma máscara de fúria.

— Eu disse para não contarem a ninguém! Ninguém!

Egwene notou que o cavalo de carga levava algumas lanternas presas em hastes, o que achou estranho.

— Elas são nossas amigas — começou Nynaeve, empertigando-se em sua sela, mas Elayne a interrompeu.

— Perdoe-nos, Liandrin Sedai. Elas não nos contaram nada, nós é que ouvimos a conversa. Não tivemos a intenção de ouvir nada que não devêssemos, mas acabamos ouvindo. Também queremos ajudar Rand al’Thor. E os outros, é claro — acrescentou, depressa.

Liandrin fitou Elayne e Min. A luz do sol do fim da tarde, filtrada pelos galhos, sombreava os rostos das duas, escondidos sob os capuzes dos mantos.

— Então — respondeu a Aes Sedai, por fim, ainda observando as meninas. — Eu havia providenciado para que cuidassem de vocês. Mas, já que estão aqui, estão aqui. Quatro podem fazer a jornada tão bem quanto duas.

— Cuidassem de nós, Liandrin Sedai? — perguntou Elayne. — Não entendi.

— Criança, você e essa outra são conhecidas como amigas dessas duas. Não acha que algumas pessoas as interrogariam quando elas desaparecessem? Acredita que seria gentil com você, a Ajah Negra, só porque você é herdeira de um trono? Se permanecessem na Torre Branca, poderiam não ter sobrevivido a esta noite. — Depois disso, todas ficaram em silêncio. Até que Liandrin virou a égua e as chamou: — Sigam-me.

A Aes Sedai as levou mais para o interior do bosque, até chegarem a uma cerca de ferro alta e robusta, encimada por uma massa de espinhos afiados como navalha. Curvando-se ligeiramente, como se envolvesse uma área enorme, a cerca se perdia de vista entre as árvores. E havia um portão, com uma grande fechadura trancada. Liandrin tirou uma chave do manto, abriu a fechadura, sinalizou para que passassem, trancou-a de volta, atrás delas, e imediatamente foi para a frente do grupo e prosseguiu a cavalgada. Um esquilo chiou para elas, de um galho acima, e de algum lugar veio o martelar agudo de um pica-pau.

— Para onde estamos indo? — indagou Nynaeve. Liandrin não respondeu, e a Aceita olhou para as outras, irritada. — Por que estamos adentrando mais essa floresta? Precisamos cruzar uma ponte ou pegar um navio, se vamos sair de Tar Valon. E não tem pontes nem navios nessa…

— Tem isso — anunciou Liandrin. — Ela mantém afastados aqueles que poderiam se ferir, essa cerca, mas hoje a necessidade urge. — Ela gesticulou, indicando uma placa alta e grossa que parecia pedra. Estava fincada no chão, e um dos lados fora esculpido com um intrincado padrão de vinhas e folhas.

Egwene sentiu um nó na garganta. Entendeu na mesma hora por que Liandrin trouxera lanternas, e não gostou nada daquilo. Ouviu Nynaeve sussurrar:

— Um Portal dos Caminhos… — Ambas se lembravam bem demais dos Caminhos.

— Já passamos por eles uma vez — lembrou, tanto a si mesma quanto a Nynaeve. — Podemos passar de novo. — Se Rand e os outros precisam de nós, temos que ajudá-los. Simples assim.

— Isso é mesmo…? — começou Min, com a voz engasgada, e não conseguiu terminar.

— Um Portal dos Caminhos — completou Elayne, em um sussurro. — Eu achava que os Caminhos não podiam mais ser usados. Achava que usá-los não era mais permitido.

Liandrin já desmontara e retirara a folha de Avendesora, de três pontas, dos entalhes. O bloco de pedra se abriu, como duas grandes portas feitas de vinhas vivas, revelando o que parecia ser um espelho opaco e prateado que refletia uma imagem pálida do exterior.

— Vocês não precisam vir — disse Liandrin. — Podem esperar por mim aqui, em segurança, dentro da cerca, até eu vir buscá-las. Ou talvez a Ajah Negra as encontre antes de qualquer outro. — O sorriso que ela deu não foi agradável. Atrás dela, o Portal dos Caminhos terminou de se abrir.

— Eu não disse que não iria — respondeu Elayne, mas lançou um olhar demorado à floresta que escurecia.

— Se é para fazer isso — começou Min, rouca —, então vamos de uma vez. — Ela olhava fixamente para o Portal, e Egwene julgou tê-la ouvido murmurar: — Que a Luz o queime, Rand al’Thor.

— Preciso entrar por último. Todas vocês, para dentro. Eu sigo. — Ela também olhava para a floresta, como se pensasse que alguém poderia tê-las seguido. — Rápido! Rápido!

Egwene não sabia o que Liandrin tentava ver, mas, qualquer um que aparecesse provavelmente tentaria impedi-las de usar o Portal. Rand, seu idiota cabeça de lã, pensou, por que não podia se meter em algum problema que não me obrigasse a agir como a heroína de alguma história?

Ela enfiou os calcanhares nos flancos de Bela, e a égua peluda, indócil por todo o tempo que passou no estábulo, saltou à frente.

— Devagar! — gritou Nynaeve, mas era tarde demais.

Egwene e Bela avançaram em direção aos próprios re flexos. Dois cavalos peludos tocaram os narizes, parecendo fluir um para dentro do outro. Então Egwene se fundiu com a própria imagem com um calafrio. O tempo pareceu se alongar, como se aquele frio se arrastasse por um fio de cabelo por vez, levando minutos para passar por cada um deles.

De repente, Bela tropeçou tão rápido no breu que quase caiu com uma cambalhota. Ela se recuperou e ficou parada, tremendo, enquanto Egwene desmontava depressa, tateando as patas da égua no escuro para ver se ela se machucara. Estava quase grata pela escuridão, que escondia seu rosto rubro. Sabia que o tempo, assim como as distâncias, eram diferentes do outro lado de um Portal dos Caminhos. Agira sem pensar.

Havia apenas a escuridão ao seu redor, em todas as direções, exceto pelo retângulo do Portal aberto, que parecia uma janela de vidro fumê pelo lado de dentro. Ele não deixava a luz passar, e o negrume parecia fazer pressão no vidro. Através dele, Egwene conseguia ver as outras, que se moviam devagar, pouco a pouco, como figuras de um pesadelo. Nynaeve insistia em distribuir as lanternas nas varas e acendê-las, ao que Liandrin concordava de má vontade, insistindo para que se apressassem.

Quando Nynaeve passou pelo Portal, conduzindo a égua cinza com extrema lentidão, Egwene quase correu para abraçá-la. Pelo menos metade da vontade foi por causa da lanterna que a Sabedoria carregava. A área que o fogo iluminava era menor do que deveria ser: a escuridão parecia resistir à luz, tentando empurrá-la de volta para a lanterna. E Egwene começara a sentir a escuridão pressioná-la, como se tivesse peso. Em vez de se mover, a jovem se contentou em falar: