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— Bela está bem. E eu não quebrei o pescoço, como merecia.

Já houvera luz nos Caminhos, antes que a mácula do poder com o qual haviam sido construídos, a mácula que o Tenebroso deixara em saidin, começasse a corrompê-los.

Nynaeve entregou a vara da lanterna a Egwene e se virou para tirar outra debaixo dos arreios de sua sela.

— Se sabe que merecia, então você não merecia. — De repente, a Sabedoria riu baixinho. — Às vezes acho que foram os ditados como esse, mais do que qualquer outra coisa, que criaram o título de Sabedoria. Bem, vou dizer outro: Se você quebrar o pescoço eu o coloco no lugar só para poder quebrá-lo de novo eu mesma.

Aquilo foi dito em um tom leve, e Egwene percebeu que também ria. Até que se lembrou de onde estava. A alegria de Nynaeve também não durou muito.

Min e Elayne atravessaram o Portal, hesitantes, conduzindo os cavalos e carregando as lanternas. Pensavam que, no mínimo, haveria monstros do outro lado, à espera. A princípio, pareceram aliviadas por não encontrarem nada além de escuridão, mas a opressão daquele véu negro logo as deixou inquietas, passando o peso de um pé para o outro, nervosas. Liandrin colocou a folha de Avendesora no lugar e atravessou o Portal montada, puxando o cavalo de carga.

A Aes Sedai não esperou que o portal terminasse de fechar: jogou a corda do cavalo de carga para Min sem dizer uma palavra e começou a seguir uma linha branca, fracamente iluminada pela luz de sua lanterna, conduzindo-as pelo interior dos Caminhos. O chão parecia de pedra, carcomido e corroído por ácido. Egwene subiu depressa no dorso de Bela, mas não seguiu a Aes Sedai mais rápido do que as outras. Não parecia haver nada no mundo além daquele chão áspero sob os cascos dos cavalos.

Reta como uma flecha, a linha branca seguia pela escuridão até uma grande placa de pedra coberta de escritos Ogier incrustados em prata. Os mesmos buracos que marcavam o chão também interrompiam as inscrições, em alguns lugares.

— Um Guia — murmurou Elayne, mexendo-se na sela para olhar em volta, inquieta. — Elaida me ensinou um pouco sobre os Caminhos. Ela não falava muita coisa. Não o suficiente — acrescentou, taciturna. — Ou talvez tenha falado demais.

Liandrin, muito calma, comparou o Guia com o pergaminho. Guardou-o de volta em um bolso do manto antes de Egwene conseguir ler o que havia nele.

O halo de luz de suas lanternas parava de forma abrupta, em vez de diminuir aos poucos, mas era grande o bastante para Egwene notar uma grossa balaustrada de pedra, desgastada em alguns pontos, enquanto a Aes Sedai se afastava do Guia. Uma Ilha, foi como Elayne a chamou. Na escuridão, era di ícil saber o tamanho da Ilha, mas Egwene achava que devia ter cerca de cem passos de largura.

Pontes de pedra e rampas atravessavam a balaustrada, cada uma identificada por um marco de pedra ao lado, com uma única linha na escrita Ogier. As pontes pareciam se estender rumo ao nada. As rampas subiam ou desciam. Era impossível ver mais que o início de qualquer uma pela qual passavam.

Parando apenas para olhar os marcos de pedra, Liandrin conduziu o grupo por uma rampa que descia. Logo não havia nada além da rampa e da escuridão. Um silêncio abafado pairava sobre tudo, e Egwene tinha a sensação de que mesmo o barulho dos cascos dos cavalos na pedra áspera não era ouvido muito além da luz.

A rampa descia mais e mais, espiralando-se até chegar a outra Ilha, com uma balaustrada quebrada posicionada entre diversas pontes e rampas. Ela também tinha um Guia, que Liandrin comparou ao pergaminho. Aquela Ilha parecia ser de pedra sólida, assim como a primeira. Egwene desejou não ter tanta certeza de que a primeira Ilha estava bem acima de suas cabeças.

Nynaeve falou de repente, verbalizando pensamentos de Egwene. Sua voz tinha um tom firme, mas ela teve que parar no meio para engolir em seco.

— Po-pode ser — respondeu Elayne, com a voz fraca. Ela olhou para o alto, mas logo seus olhos se voltaram para o chão. — Elaida disse que as leis da natureza não se aplicam aos Caminhos. Pelo menos, não da mesma forma que do lado de fora.

— Luz! — murmurou Min, antes de erguer a voz. — Quanto tempo você quer que a gente fique aqui?

As tranças cor de mel da Aes Sedai balançaram quando ela se virou para encará-las.

— Até que eu as deixe sair — respondeu, direta. — Quanto mais me incomodarem, mais tempo vai levar. — Ela voltou a estudar o pergaminho e o Guia.

Egwene e as outras se calaram.

Liandrin as levou de Guia em Guia, atravessando rampas e pontes que pareciam se elevar sem suportes por entre a escuridão infindável. A Aes Sedai prestava pouca atenção às outras, e Egwene se perguntou se a mulher voltaria caso alguma delas ficasse para trás. Talvez suas amigas tenham pensado o mesmo, pois seguiam coladas aos calcanhares da égua escura.

Egwene ficou surpresa ao perceber que ainda sentia a atração de saidar. Sentia tanto a presença da metade feminina da Fonte Verdadeira quanto o desejo de tocá-la, de canalizar seu luxo. De alguma forma, pensara que a mácula da Sombra nos Caminhos a ocultaria. E também conseguia sentir a mácula, de certo modo. Era fraca, e nada tinha a ver com saidar, mas Egwene tinha certeza de que buscar a Fonte Verdadeira naquele lugar seria como estender o braço através de uma fumaça imunda e oleosa para alcançar um copo limpo. O que quer que fizesse seria maculado. Pela primeira vez em semanas, não foi difícil resistir à tentação de canalizar.

A noite fora dos Caminhos já devia estar muito avançada quando Liandrin desmontou de repente, em uma Ilha. A Aes Sedai então anunciou que parariam para cear e dormir, e que trouxera comida com o cavalo de carga.

— Dividam com parcimônia — disse, sem se importar em determinar quem o faria. — Levaremos quase dois dias para chegar à Ponta de Toman. Eu não faria vocês chegarem com fome caso fossem tolas o bastante para não trazer comida. — Ela tirou a sela e prendeu a égua de forma brusca, mas depois se sentou e esperou que uma delas lhe trouxesse algo para comer.

Elayne levou para ela pão de massa fina e queijo. A Aes Sedai deixou claro que não queria a companhia das outras, de modo que as mais jovens comeram um pouco afastadas, sentadas nas próprias selas, mantendo-se bem unidas. A escuridão que se estendia além das lanternas era um péssimo tempero.

Depois de um tempo, Egwene perguntou:

— Liandrin Sedai, e se encontrarmos o Vento Negro? — Min murmurou o nome interrogativamente, mas Elayne apenas gemeu. — Moiraine Sedai disse que não se pode matá-lo, nem mesmo feri-lo, e consigo sentir a mácula deste lugar esperando para distorcer qualquer coisa que a gente tente fazer com o Poder.

— Vocês não vão sequer pensar na Fonte a menos que eu mande — retrucou Liandrin, ríspida. — Ora, se alguém como você tentasse canalizar aqui, nos Caminhos, poderia muito bem enlouquecer, como um homem. Nem o treinamento para lidar com a mácula dos homens que fizeram este lugar vocês têm. Se o Vento Negro aparecer, cuidarei dele. — Ela comprimiu os lábios, olhando para um pedaço de queijo branco. — Não sabe tanto quanto pensa Moiraine. — E enfiou o queijo na boca com um sorriso.

— Eu não gosto dela — murmurou Egwene, baixo o bastante para que a Aes Sedai não ouvisse.

— Se Moiraine consegue trabalhar com ela — a firmou Nynaeve, em voz baixa —, nós também conseguimos. Não que eu goste de Moiraine mais do que dela, mas se as duas estão se metendo com Rand e os outros de novo… — Ela se aquietou, apertando o manto. A escuridão não era fria, mas era como se devesse ser.