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— O que é esse Vento Negro? — perguntou Min. Quando Elayne explicou, usando muitas palavras de Elaida e da mãe, Min soltou um suspiro desanimado. — O Padrão tem muito pelo que se explicar. Não sei se algum homem vale isso.

— Você não precisava ter vindo — lembrou Egwene. — Poderia ter ido embora a qualquer momento. Ninguém a impediria de sair da Torre.

— Ah, eu poderia ter saído por aí — respondeu Min, com uma careta —, com tanta facilidade quanto você ou Elayne. O Padrão não se importa muito com o que queremos. Egwene, e se, depois de tudo pelo que você está passando por ele, Rand não se casar com você? E se ele se casar com alguma mulher que você nunca viu antes, com Elayne, ou comigo? E aí?

Elayne riu.

— Minha mãe nunca aprovaria.

Egwene ficou em silêncio por um tempo. Rand poderia não viver o suficiente para se casar com quem quer que fosse. E se vivesse… Ela não conseguia imaginá-lo ferindo alguém. Nem mesmo depois de ter enlouquecido? Devia haver alguma forma de impedir aquilo, alguma forma de mudar as coisas. As Aes Sedai sabiam tanto, podiam fazer tanta coisa… Se elas pudessem impedir, por que não o fariam? A única resposta possível era que não podiam, e não era a que ela queria.

Ela tentou deixar a voz descontraída.

— Eu não acredito que vá mesmo me casar com ele. É raro Aes Sedai se casarem, você sabe. Ou mesmo você, Elayne. Eu acho que ele não… — Sua voz embargou, e ela tossiu para disfarçar. — Eu acho que ele não vai chegar a se casar. Mas, se acontecer, desejo tudo de bom para quem for escolhida, mesmo que seja uma de vocês. — Ela achou que sua voz soava sincera. — Ele é teimoso como uma mula e insensato até demais, mas é gentil. — Sua voz vacilou, mas ela conseguiu transformar o tremor em uma risada.

— Por mais que diga que não se importa — respondeu Elayne —, eu acho que você aprovaria menos ainda do que minha mãe. Ele é interessante, Egwene. Mais do que qualquer homem que já conheci, mesmo sendo um pastor. Se você for tola o bastante para jogá-lo fora, só vai ter a si mesma para culpar se eu resolver enfrentar você e minha mãe juntas. Não seria o primeiro Príncipe de Andor sem títulos. Mas você não vai ser tão boba, então não tente fingir. Não tenho dúvidas de que você vai escolher a Ajah Verde e vai torná-lo um dos seus Guardiões. As únicas Verdes que conheço com apenas um Guardião são casadas com eles.

Egwene se obrigou a entrar na brincadeira, dizendo que, caso se tornasse Verde, teria dez Guardiões.

Min a observava, franzindo a testa, e Nynaeve observava Min, pensativa. Todas já estavam em silêncio na hora que trocaram as roupas por outras mais adequadas para viagem, que trouxeram nos alforjes. Não era fácil manter a animação naquele lugar.

Como era de se esperar, o sono não veio fácil para Egwene, e foi cheio de sonhos ruins. Não sonhou com Rand, mas com o homem de olhos de fogo. O rosto dele não estava mascarado dessa vez. E era um rosto horrível, coberto de queimaduras quase curadas. Ele apenas a olhou e riu, mas foi pior do que os sonhos que se seguiram, em que estava eternamente perdida nos Caminhos, com o Vento Negro a persegui-la. Ficou agradecida quando o bico da bota de montaria de Liandrin cutucou suas costelas para acordá-la, e sentia-se como se não tivesse dormido nada.

Liandrin forçou uma marcha acelerada no dia seguinte, ou o que se passava por dia. Não tinham nada além das lanternas como sol, e sequer puderam parar para dormir até estarem quase caindo das selas. A pedra era uma cama dura, mas Liandrin as acordou sem delicadeza algumas horas depois, mal esperando que montassem antes de prosseguir viagem. Rampas e pontes, Ilhas e Guias. Egwene viu tantas no breu que até perdeu a conta. Perdera a conta das horas ou dos dias havia muito. A Aes Sedai permitia apenas breves paradas para comer e descansar os cavalos, e a escuridão pesava sobre os ombros. Todas se curvavam nas selas como sacas de grãos, a não ser Liandrin. A mulher parecia não se afetar com o cansaço ou a escuridão. Estava descansada como estivera na Torre Branca, e tão fria quanto antes. Não deixava que ninguém visse o pergaminho que comparava com os Guias e, quando Nynaeve perguntou do que se tratava, guardou-o, respondendo com um curto:

— Nada que vocês pudessem compreender.

E então, enquanto Egwene piscava, cansada, Liandrin se afastou de um Guia. Não foi em direção a outra ponte ou rampa: seguiu uma linha branca esburacada que avançava escuridão adentro. Egwene encarou as amigas, e as quatro logo se apressaram em seguir a mulher. À frente, à luz da lanterna, a Aes Sedai já removia a folha de Avendesora do intrincado padrão de um Portal dos Caminhos.

— Chegamos — disse Liandrin, sorrindo. — Trouxe vocês aonde devem ir.

40

Damane

Egwene desmontou enquanto o Portal dos Caminhos se abria, e, quando Liandrin apressou-as com um gesto, conduziu Bela para fora com muito cuidado. Mesmo assim, ela e a égua tropeçaram na vegetação que o Portal achatara ao abrir, pois de repente pareceram se mover ainda mais devagar. Várias moitas densas cercavam e ocultavam o Portal dos Caminhos. Havia apenas algumas poucas árvores por perto, e uma brisa matinal agitava a folhagem um pouco mais colorida do que a de Tar Valon.

Observando suas amigas saírem, Egwene ficou parada um bom tempo antes de perceber que havia outras pessoas por perto, um pouco escondidas do outro lado do Portal. Quando as notou, passou a observá-las, preocupada. Eram o grupo mais estranho que já tinha visto, e tinha ouvido rumores demais sobre a guerra na Ponta de Toman.

Eram pelo menos cinquenta homens de armadura, com placas de aço sobrepostas cobrindo o torso e elmos negros opacos em forma de cabeças de insetos. Estavam montados ou parados ao lado dos cavalos, e todos olhavam para ela e as mulheres que saíam, encarando o Portal dos Caminhos, murmurando entre si. O único que estava com a cabeça exposta, um sujeito alto, de pele escura e nariz aquilino que apoiava o elmo pintado e folheado na cintura, olhava a cena, estupefato. Também havia mulheres entre os soldados. Duas delas usavam vestidos simples, de um cinza-escuro, e enormes coleiras de prata, e observavam atentamente as que saíam do Portal. Atrás de cada uma havia outra mulher, perto o suficiente para sussurrar em seu ouvido. Duas outras mulheres, um pouco mais afastadas das quatro, usavam grandes saias divididas que mal chegavam aos tornozelos, com bordados de raios bifurcados no peito e nas saias. A mais estranha de todas, no entanto, era a última mulher. Estava reclinada em uma liteira carregada por oito homens musculosos sem camisa e de calças pretas folgadas. As laterais de sua cabeça eram raspadas, de modo que apenas uma alta crista de cabelos negros descia por suas costas. Uma longa túnica creme com bordados de flores e pássaros emoldurados por linhas azuis havia sido arrumada com cuidado para mostrar a saia branca plissada. Suas unhas tinham cerca de uma polegada de comprimento, e as duas primeiras de cada mão estavam pintadas de azul.

— Liandrin Sedai — perguntou Egwene, nervosa —, sabe quem são essas pessoas? — Suas amigas mexiam nas rédeas como se considerassem montar e sair em disparada, mas Liandrin recolocou a folha de Avendesora e avançou com confiança enquanto o Portal dos Caminhos fechava.

— Grã-lady Suroth? — falou Liandrin. Sua voz a meio caminho entre uma pergunta e uma afirmação.

A mulher na liteira concordou com um minúsculo meneio de cabeça.

— Você é Liandrin. — O sotaque era arrastado, e Egwene demorou a entender suas palavras. — Aes Sedai — acrescentou Suroth, comprimindo os lábios, e houve um burburinho entre os soldados. — Você precisa se apressar, Liandrin. Há patrulhas, e não seria agradável ser encontrada. Você não acharia as atenções dos Inquiridores da Verdade mais agradáveis do que eu. Pretendo estar de volta a Falme antes que Turak descubra que saí.