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— Do que está falando? — indagou Nynaeve. — Do que ela está falando, Liandrin?

Liandrin pôs uma das mãos no ombro de Nynaeve e a outra no de Egwene.

— Essas são as duas de quem lhe falaram. E há outra. — Indicou Elayne com um gesto de cabeça. — Ela é a Filha-herdeira de Andor.

As duas mulheres com ornamentos de raios nos vestidos se aproximavam do grupo em frente ao Portal dos Caminhos. Egwene notou que elas carregavam correntes de metal prateado enroladas nas mãos, e o soldado sem elmo avançava com elas. Ele sorria com naturalidade e não levou a mão ao cabo da espada que despontava atrás de seu ombro, mas Egwene ainda o observava com desconfiança. Liandrin não deu qualquer sinal de agitação, ou Egwene teria pulado em Bela naquele instante.

— Liandrin Sedai — perguntou, com urgência —, quem são essas pessoas? Elas também estão aqui para ajudar Rand e os outros?

De repente, o homem de nariz aquilino agarrou Min e Elayne pela nuca, e, no instante seguinte, tudo pareceu acontecer ao mesmo tempo. O homem gritou um impropério. Uma mulher berrou, ou talvez mais de uma; Egwene não conseguiu saber ao certo. De repente, a brisa virou uma ventania que carregava os gritos furiosos de Liandrin em nuvens de poeira e folhas e fazia as árvores se dobrarem e rangerem. Os cavalos empinavam e relinchavam. Uma das mulheres avançou e prendeu algo em torno do pescoço de Egwene.

Com o manto in lado como uma vela, Egwene se protegeu do vento e tocou o que parecia uma coleira de metal. Ela não abria. Sob seus dedos desesperados, parecia uma peça inteiriça, embora ela soubesse que deveria haver algum tipo de fecho. A corrente prateada que a mulher carregava enrolada se estendia sobre o ombro de Egwene, e a outra ponta estava ligada a um bracelete brilhante no pulso esquerdo da mesma mulher. Cerrando firme o punho, Egwene golpeou a outra com toda a sua força, direto no olho… Então cambaleou, caindo de joelhos, com a cabeça zumbindo. Parecia que um homem enorme socara seu rosto.

Quando voltou a enxergar, o vento já havia cessado. Diversos cavalos vagavam soltos, entre eles Bela e a égua de Elayne, e alguns dos soldados se levantavam, resmungando impropérios. Liandrin limpava o pó e as folhas de seu vestido com muita calma. Min estava de joelhos, grogue, apoiada nas mãos e tentando se levantar. O homem de nariz aquilino estava ao lado dela com uma das mãos sangrando. A faca de Min jazia logo além de seu alcance, com a lâmina manchada de vermelho de um dos lados. Nynaeve e Elayne não estavam à vista, e a égua de Nynaeve também sumira. Além disso, alguns soldados e uma das duplas de mulheres também haviam sumido. As outras duas ainda estavam ali, e Egwene pôde ver, então, que estavam ligadas por uma corrente prateada idêntica à que ainda a unia à mulher de pé a seu lado.

A mulher esfregava o rosto, agachada. Um hematoma já surgia em torno de seu olho esquerdo. Ela tinha cabelos escuros e longos e grandes olhos castanhos, era bem bonita, e parecia ser cerca de dez anos mais velha que Nynaeve.

— Essa foi sua primeira lição — disse, enfaticamente. Não havia qualquer animosidade na voz. Seu tom era quase amigável. — Não darei mais punições dessa vez, já que eu deveria ter ficado mais atenta, lidando com uma damane recém-capturada. Saiba o seguinte. Você é uma damane, uma Encolarada, e eu sou uma sul’dam, uma Senhora do Colar. Quando u ma damane e uma sul’dam estão ligadas, a damane sente o dobro de qualquer dor que a sul’dam sinta. É assim até a morte. Então você precisa se lembrar de que nunca deve atacar uma sul’dam, e de que precisa protegê-la ainda mais do que a si mesma. Eu me chamo Renna. Qual o seu nome?

— Eu não sou… isso que você disse — murmurou Egwene. Ela puxou a coleira mais uma vez, mas não teve mais efeito do que antes. Pensou em derrubar a mulher e tentar arrancar o bracelete do pulso dela, mas desistiu. Mesmo que os soldados não tentassem detê-la, já que até o momento estavam ignorando Renna e ela, Egwene tinha a desalentadora sensação de que o que a mulher dizia era verdade. Tocar seu olho esquerdo a fez estremecer de dor. Não parecia inchado, então talvez não fosse ganhar um hematoma para combinar com o de Renna, mas doía. Seu olho esquerdo e o olho esquerdo de Renna. Ela ergueu a voz.

— Liandrin Sedai? Por que está deixando que eles façam isso?

Liandrin bateu as mãos para tirar o pó, sem olhar para ela.

— A primeira coisa que você precisa aprender — disse Renna — é a obedecer sem demora.

Egwene engasgou. De repente sua pele começou a queimar e espetar como se ela rolasse em agulhas que a perfuravam da sola dos pés ao couro cabeludo. Começou a sacudir a cabeça quando a sensação de queimação aumentou.

— Muitas sul’dam — prosseguiu Renna, naquele tom quase amigável — acreditam que damanes não deveriam ter permissão para ter nomes, ou que devem ter apenas os nomes que recebem. Mas eu capturei você, de modo que ficarei encarregada do seu treinamento, e vou permitir que continue com seu próprio nome. Se você não me desagradar demais. Estou um pouco irritada com você, neste momento. Pretende levar isso adiante até que eu fique com raiva?

Tremendo, Egwene cerrou os dentes. Cravou as unhas nas palmas das mãos, resistindo para não se coçar violentamente. Idiota! É só seu nome.

— Egwene. — Conseguiu dizer. — Eu me chamo Egwene al’Vere. — A coceira ardente cessou no mesmo instante. Ela soltou um suspiro longo, trêmula.

— Egwene — disse Renna. — É um bom nome. — E, para horror da jovem, Renna lhe deu tapinhas na cabeça, como faria com um cão.

Percebeu então que era aquilo que detectara na voz da mulher mais cedo: uma certa boa vontade com um cão em treinamento, não o sentimento amistoso que alguém teria por outro ser humano.

Renna riu baixinho.

— Agora você está ainda mais irritada. Se for me bater de novo, lembre-se de dar um golpe fraco, porque vai sentir duas vezes mais dor. Não tente canalizar: você jamais fará isso sem uma ordem minha.

O olho de Egwene latejava. Ela se forçou a ficar de pé e tentou ignorar Renna, tanto quanto era possível ignorar alguém que segurava uma corrente atada a uma coleira em seu pescoço. Sua face ardeu quando a mulher riu mais uma vez. Ela queria ir até Min, mas o tanto de corrente que Renna deixava livre não chegaria até lá. Ela a chamou, em voz baixa.

— Min, tudo bem?

Sentando-se nos calcanhares bem devagar, Min assentiu. Então, levou a mão à cabeça, como se desejasse não tê-la movido.

Raios ribombavam, apesar do céu limpo, e caíam em meio às árvores a uma certa distância. Egwene deu um pulo, então sorriu de repente. Nynaeve ainda estava livre. Assim como Elayne. Se havia alguém capaz de libertá-la e a Min, esse alguém era Nynaeve. O sorriso se desfez em um olhar de ódio voltado para Liandrin. Por algum motivo, a Aes Sedai as traíra, e haveria troco. Algum dia. De algum jeito. O olhar não adiantou de nada: Liandrin não desviou a atenção da liteira.

Os homens sem camisa se ajoelharam, baixando a liteira até o nível do chão, e Suroth desceu, ajeitando a túnica com cuidado. Então foi até Liandrin, caminhando sobre sapatilhas macias. As duas mulheres eram do mesmo tamanho. Olhos castanhos encararam os olhos negros de frente.

— Você deveria me trazer duas — a firmou Suroth. — Em vez disso, tenho apenas uma, enquanto duas estão à solta. Uma delas é de longe muito mais poderosa do que me levaram a acreditar. Ela vai atrair cada uma de nossas patrulhas em um raio de duas léguas.

— Eu lhe trouxe três — respondeu Liandrin, muito calma. — Se não consegue contê-las, talvez nosso mestre deva encontrar outro de vocês para servi-lo. Você se apavora com coisas insignificantes. Se aparecerem patrulhas, mate-as.