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Raios lampejaram outra vez a uma curta distância, e momentos depois ouviu-se o que parecia um trovão não muito longe de onde os raios haviam caído. Uma nuvem de poeira se elevou no ar. Nem Liandrin nem Suroth pareceram notar.

— Eu ainda poderia voltar para Falme com duas novas damane — suspirou Suroth. — Para mim é uma pena permitir que uma… Aes Sedai — falou como se fosse um insulto — continue livre.

A expressão de Liandrin não se alterou, mas Egwene viu um halo envolvê-la de repente.

— Cuidado, Grã-lady — alertou Renna. — Ela está a postos!

Houve uma agitação entre os soldados, que sacaram espadas e lanças, mas Suroth se limitou a juntar as mãos à frente do rosto, sorrindo para Liandrin por cima das unhas compridas.

— Você não fará nada contra mim, Liandrin. Nosso mestre desaprovaria, já que tenho certeza de que sou mais necessária aqui do que você, e você o teme mais do que teme se tornar damane.

Liandrin sorriu, embora manchas brancas de raiva, marcassem suas bochechas.

— E você, Suroth, o teme mais do que teme que eu a transforme em cinzas aí onde está.

— Exatamente. Ambas o tememos. Ainda assim, mesmo as necessidades de nosso mestre mudarão com o tempo. Cedo ou tarde, todas as marath’damane serão encolaradas. Talvez seja eu quem coloque o colar nesse seu pescoço adorável.

— Como disse, Suroth, elas mudarão, as necessidades de nosso mestre. Vou lembrá-la disso no dia em que diante de mim você se ajoelhar.

Uma enorme folha-de-couro, a mais ou menos uma milha de distância, de repente irrompeu em chamas.

— Isso está ficando cansativo — a firmou Suroth. — Elbar, chame-os de volta. — O homem de nariz aquilino puxou uma trombeta menor que o próprio punho. O instrumento produziu um som rouco e agudo.

— Aquela mulher, Nynaeve, você precisa encontrá-la — relembrou Liandrin, ríspida. — Elayne não tem qualquer importância, mas quando vocês partirem a mulher e essa garota precisam estar nos navios.

— Eu sei muito bem o que foi ordenado, marath’damane, embora gostaria muito de saber por quê.

— O quanto lhe foi dito, criança — retrucou Liandrin, com desdém —, é o quanto lhe é permitido saber. Lembre-se de que você serve e obedece. Precisam ser enviadas para o outro lado do Oceano de Aryth, essas duas, e mantidas lá.

Suroth bufou.

— Não vou continuar aqui para encontrar essa Nynaeve. Minha utilidade para nosso mestre acabará se Turak me entregar aos Inquiridores da Verdade. — Liandrin abriu a boca para responder, irritada, mas Suroth se recusou a deixar que ela dissesse uma palavra sequer. — A mulher não permanecerá livre por muito tempo. Nenhuma das duas. Quando partirmos desse pedaço miserável de terra, levaremos, encolarada e acorrentada, toda mulher capaz de canalizar o mínimo que seja. Se você quiser ficar e procurar por ela, faça isso. Em breve haverá patrulhas aqui, atrás da escória que ainda se esconde nos campos. Algumas patrulhas também levam damane, e não vão se importar com a que mestre você serve. Caso sobreviva ao encontro, a corrente e o colar vão lhe ensinar uma vida nova, e eu acredito que nosso mestre não se preocupará em acabar com uma mulher tola o suficiente para se permitir ser capturada.

— Se for permitido que qualquer uma delas permaneça aqui — a firmou Liandrin, tensa —, nosso mestre vai se ocupar com você, Suroth. Leve as duas ou pague o preço. — Ela seguiu para o Portal dos Caminhos, segurando firme as rédeas da égua. Não demorou para que ele começasse a se fechar às suas costas.

Os soldados que estavam perseguindo Nynaeve e Elayne voltaram a galope junto com as duas mulheres unidas pela corrente, pela coleira e pelo bracelete. Damane e sul’dam cavalgando lado a lado. Três homens conduziam cavalos com cadáveres deitados nas selas. Egwene sentiu uma onda de esperança ao notar que todos os cadáveres usavam armadura. Não haviam capturado Nynaeve ou Elayne.

Min começou a se levantar, mas o homem de nariz aquilino pisou entre suas omoplatas e a empurrou de volta para o chão. Ofegante, ela se contorceu, sem forças.

— Peço permissão para falar, Grã-lady — disse ele. Suroth fez um leve gesto com a mão, e ele continuou: — Essa camponesa me feriu. Se a Grã-lady não tiver utilidade para ela… — Suroth fez outro gesto discreto, já lhe dando as costas, e ele ergueu a mão acima do ombro para puxar o cabo da espada.

— Não! — gritou Egwene. Ela ouviu Renna xingar baixinho, e de repente as agulhadas ardente cobriram sua pele outra vez, pior do que antes, mas ela não parou. — Por favor! Grã-lady, por favor! Ela é minha amiga! — Uma dor que ela jamais sentira a atingiu em meio à queimação. Cada músculo se contorceu em câimbras, e ela caiu com o rosto no chão, gemendo. Mas ainda conseguia ver a pesada lâmina curva de Elbar sendo desembainhada, pôde ver o homem erguê-la com ambas as mãos. — Por favor! Ah, Min!

De repente, foi como se a dor nunca tivesse existido. Restava apenas a lembrança. As sapatilhas de veludo azul de Suroth, já sujas de terra, surgiram em frente a seu rosto, mas era para Elbar que a mulher olhava. Ele permaneceu ali, parado, com a espada acima da cabeça e todo o peso no pé nas costas de Min… e não se moveu.

— Esta camponesa é sua amiga? — indagou Suroth

Egwene começou a se levantar, mas, ao notar a Grã-lady erguer as sobrancelhas em surpresa, permaneceu onde estava e apenas levantou a cabeça. Precisava salvar Min. Se para isso eu precisar me humilhar… Ela abriu a boca e esperou que os dentes trincados passassem por um sorriso.

— Sim, Grã-lady.

— E, se eu poupá-la e permitir que ela a visite de vez em quando, você vai se esforçar para aprender o que lhe ensinarem?

— Vou, Grã-lady. — Ela prometeria muito mais para impedir que aquela espada rachasse o crânio de Min. E vou até cumprir a promessa , pensou, amargamente, enquanto for preciso.

— Ponha a garota no cavalo em que veio, Elbar — disse Suroth. — Amarre-a, se ela não conseguir ficar sentada. Se esta damane se provar uma decepção, talvez eu permita que você corte a cabeça da garota. — Ela já estava voltava para a liteira.

Renna puxou Egwene com força para fazê-la levantar e a empurrou até Bela, mas Egwene só tinha olhos para Min. Elbar não foi mais gentil com Min do que Renna com ela, mas parecia estar tudo bem com a amiga. Pelo menos Min não aceitou a tentativa de Elbar de amarrá-la atravessada na sela e subiu no cavalo com pouca ajuda.

O estranho grupo partiu para o oeste, com Suroth na frente e Elbar logo atrás da liteira, mas perto o bastante para atender a qualquer chamado imediatamente. Renna e Egwene cavalgavam atrás, acompanhando Min e a outra sul’dam acorrentada à damane, atrás dos soldados. A mulher que deveria ter posto a coleira em Nynaeve mexia com a corrente prateada que ainda carregava, parecendo irritada. Florestas esparsas cobriam o terreno plano, e a fumaça da folha-de-couro em chamas logo se tornou apenas uma mancha no céu atrás deles.

— Você foi honrada — comentou Renna, depois de um tempo —, pela Grã-lady ter falado com você. Em outra circunstância, eu a deixaria usar uma fita para marcar a honra. Mas já que você chamou a atenção dela para si…

Egwene gritou quando sentiu uma vara acertá-la nas costas, depois na perna e no braço. Os golpes pareciam vir de todas as direções. Ela sabia que não havia como bloqueá-los, mas não conseguia se impedir de mover os braços como se para deter a vara. Mordeu o lábio para abafar os gemidos, mas as lágrimas ainda desciam pelo rosto. Bela relinchava e dançava, mas Renna segurava a corrente prateada, impedindo-a de se afastar com Egwene. Nenhum dos soldados sequer olhou para trás.

— O que você está fazendo com ela? — gritou Min. — Egwene? Pare com isso!