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— A Garça Atravessando os Juncos — observou Ingtar. Estava sentado, recostado em uma árvore, deslizando uma pedra de amolar pela lâmina da espada e observando Rand. — Você não deveria perder tempo com essa. Deixa a guarda completamente aberta.

Por um instante, Rand se equilibrou na ponta de um dos pés, segurando a espada acima da cabeça com ambas as mãos, apontando a lâmina para a frente, guarda reversa. Depois, com um movimento suave, passou a se equilibrar no outro pé.

— Lan disse que é uma boa forma para treinar o equilíbrio. — Algo que achava di ícil. Quando estava envolto no vazio, tinha a impressão de que seria capaz de manter o equilíbrio até em cima de um pedregulho rolando, mas não se atrevia a buscá-lo. A vontade era grande demais. Não podia confiar que não faria algo errado.

— Você sempre vai usar sem querer as posições que pratica demais. Até dá para enfiar a espada no oponente desse jeito, se for rápido, mas não antes de ter a lâmina dele entre suas costelas. Isso é praticamente um convite. Acho que eu não seria capaz de lutar contra alguém com a guarda tão aberta e não enfiar a espada nele, mesmo que ele pudesse me acertar também.

— É só para treinar o equilíbrio, Ingtar. — Rand se balançou sobre apenas um pé e teve que colocar o outro no chão, para não cair. Embainhou a espada com força e pegou o manto cinza que usava como disfarce. O tecido já estava comido por traças, e a bainha, toda esfiapada. Mas a lã era grossa, e o vento já estava mais forte, trazendo o frio do oeste. — Queria que eles voltassem logo.

Como se sua frase tivesse sido um sinal, Uno anunciou, com certa urgência:

— Tem alguns desgraçados cavalgando em nossa direção, milorde. — As bainhas tilintaram quando os homens que ainda não estavam com as espadas na mão as sacaram. Alguns saltaram nas selas, puxando as lanças.

A tensão se dissipou quando Hurin entrou na clareira trotando, à frente dos outros dois. Mas voltou quando ele informou:

— Achamos o rastro, Lorde Ingtar.

— Nós o seguimos quase até Falme — completou Mat, enquanto descia do cavalo. Um rubor em suas bochechas pálidas dava a falsa impressão de um rosto saudável, mas ele estava magro demais. Os shienaranos se reuniram em volta dos recém-chegados, tão empolgados quanto o rapaz. — É só de Fain, mas não tem outro lugar para onde ele possa ter ido. E ele deve estar com a adaga.

— Também encontramos Mantos-brancos — comentou Perrin, apeando. — Centenas.

— Mantos-brancos?! — exclamou Ingtar, franzindo a testa. — Aqui?! Bem, se eles não nos importunarem, não vamos importuná-los. Talvez isso nos ajude a chegar à Trombeta, se os Seanchan ficarem ocupados com eles. — Seu olhar recaiu sobre Verin, ainda sentada ao lado do fogo. — Imagino que vá me dizer que eu deveria tê-la ouvido, Aes Sedai. O homem foi mesmo para Falme.

— Há de ser o que a roda tecer — respondeu Verin, calma. — Na companhia de ta’veren, o que acontece é o que deveria acontecer. Pode ser que o Padrão exigisse esses dias a mais. Tudo é colocado com precisão em seu devido lugar, e, se tentamos mudar algo, ainda mais quando ta’veren estão envolvidos, a tessitura se altera para nos colocar de volta dentro do Padrão, como deveríamos estar. — Fez-se um silêncio desconfortável, que ela pareceu não notar. A mulher continuava parada, rabiscando com o graveto. — Agora, acho que precisamos fazer planos. O Padrão nos leva a Falme, por fim. A Trombeta de Valere foi levada para lá.

Ingtar se agachou em frente a ela, do outro lado da fogueira.

— Quando muita gente a firma a mesma coisa, eu tendo a acreditar. E o povo daqui a firma que os Seanchan não parecem se importar com quem entra ou sai de Falme. Vou à cidade com Hurin e alguns outros. Depois que ele seguir a trilha de Fain até a Trombeta… bem, veremos o que acontece.

Com o pé, Verin apagou um círculo que riscara na terra. Desenhou então duas linhas curtas que se tocavam nas pontas.

— Ingtar e Hurin. E Mat, já que ele consegue sentir a adaga, se chegar perto o suficiente. Você quer ir, não quer, Mat?

Mat parecia abatido, mas assentiu como se tivesse um espasmo.

— Eu tenho que ir, não é mesmo? Preciso encontrar aquela adaga.

Uma terceira linha foi rabiscada junto às outras, formando um desenho similar a uma pegada de pássaro. Verin olhou de esguelha para Rand.

— Eu vou — a firmou ele. — Foi por isso que vim. — Uma estranha luz se acendeu nos olhos da Aes Sedai, o brilho do olhar de alguém que sabe das coisas, que o deixou desconfortável. — Para ajudar Mat a encontrar a adaga — a firmou, ríspido — e Ingtar a encontrar a Trombeta. — E Fain, acrescentou para si mesmo. Preciso encontrar Fain, se já não for tarde demais.

Verin rabiscou uma quarta linha, fazendo o desenho lembrar uma estrela torta.

— E quem mais? — perguntou, em voz baixa. Segurava o graveto, a postos.

— Eu — respondeu Perrin, um segundo antes de Loial acrescentar, em sua voz musicaclass="underline"

— Acho que também gostaria de ir. — Uno e todos os outros shienaranos começaram a pedir para se juntar ao grupo.

— Perrin falou primeiro — declarou Verin, como se aquilo resolvesse a questão. Ela acrescentou uma quinta linha e traçou um círculo ao redor delas. Os cabelos da nuca de Rand se eriçaram. Era o mesmo desenho que ela apagara no início. — Cinco cavalgam adiante — murmurou.

— Ah, eu realmente gostaria de conhecer Falme — protestou Loial. — Nunca vi o Oceano de Aryth. Além disso, posso carregar o baú, se a Trombeta ainda estiver nele.

— É melhor me deixar ir também, milorde. — disse Uno. — O senhor e Lorde Rand vão precisar de mais uma espada de cobertura, se esses Seanchan chamejados tentarem impedi-los de avançar.

Todos os outros soldados informaram que se sentiam da mesma forma.

— Não sejam tolos — ralhou Verin, severa. O olhar dela os silenciou. — Não dá para todos irem. Não importa se os Seanchan parecem não se incomodar com estranhos, eles com certeza notarão vinte soldados. E vocês não pareceriam outra coisa, mesmo sem as armaduras. E um ou dois não vão fazer diferença. Cinco é um número pequeno o bastante para não chamar atenção, e é adequado que três deles sejam os três ta’veren que nos acompanham. Não, Loial, você também precisa ficar. Não há Ogier na Ponta de Toman. Você atrairia tantos olhares quanto todos os outros juntos.

— E quanto a você? — perguntou Rand.

Verin sacudiu a cabeça.

— Você se esquece das damane. — Ela apertou os lábios com desgosto, ao dizer aquilo. — A única forma de ajudá-los seria canalizando, o que não ajudaria em nada se atraísse damane até vocês. Mesmo que não estejam perto o suficiente para ver, é possível sentir uma mulher canalizando. Ou homem, por sinal. É preciso tomar cuidado para canalizar apenas uma pequena quantidade do Poder.

Ela não olhou para Rand. Ele teve a sensação de que ela fazia questão de não olhá-lo, e Mat e Perrin de repente voltaram a atenção para os próprios pés.

— Um homem — bufou Ingtar. — Verin Sedai, por que juntar mais problemas? Já temos muito com que nos preocupar sem supor que eles também tenham homens canalizando. Mas seria bom se você fosse. Se precisarmos de você…

— Não. Os cinco precisam ir sozinhos. — Ela passou o pé outra vez sobre o desenho da roda, apagando um pedaço. Ela encarou os cinco um a um, concentrada, com a testa franzida. — Cinco cavalgam adiante.