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Massageando um lábio inchado, Min examinou o vestido com raios e as botas macias que haviam estendido no chão.

— Pode ser que sirva em você, Nynaeve. Não vai caber em Elayne ou em mim.

A outra jovem tirava palha do cabelo.

— Eu percebi. Mas você nunca foi uma opção mesmo. Elas a conhecem bem demais. — Nynaeve despiu-se depressa. Jogou as roupas de lado e pôs o vestido da sul’dam. Min ajudou com os botões.

Nynaeve mexeu os dedos nas botas. Estavam um pouco apertadas. O vestido também estava apertado no peito, mas folgado no restante do corpo. A bainha ia quase até o chão, mais baixa do que a sul’dam usava, mas ficaria ainda pior nas outras duas. Pegando o bracelete, ela respirou fundo e o prendeu no pulso esquerdo. As extremidades se fundiram, ele parecia sólido. A sensação era de nada além de um bracelete. Receara que não fosse assim.

— Pegue o vestido, Elayne. — Tinham escondido ali um par de vestidos que tingiram, um dela e um de Elayne, com o mesmo tom cinza-escuro que as damane usavam, ou o mais próximo que conseguiram. A menina não se moveu, exceto para encarar o colar aberto e umedecer os lábios. — Elayne, você precisa usar o colar. Muitas delas já viram Min, para ela correr o risco. Eu o usaria se o vestido coubesse em você. — Ela achava que enlouqueceria se precisasse usar a coleira, então não conseguiu usar um tom severo com Elayne.

— Eu sei — suspirou a jovem. — Só queria saber melhor sobre o que essa coisa faz com quem usa. — Ela tirou o cabelo louro acobreado do caminho. — Min, por favor, me ajude. — A outra começou a desabotoar as costas do vestido de Elayne.

Nynaeve conseguiu pegar a coleira prateada sem vacilar.

— Só há um jeito de descobrir. — Após um breve momento de hesitação, ela se abaixou e a prendeu no pescoço da sul’dam. Se alguém merece isso, é ela, disse a si mesma, com firmeza. — Ela talvez possa nos dizer algo de útil, de qualquer forma. — Os olhos azuis da mulher fitaram a corrente prateada que ia de seu pescoço ao pulso de Nynaeve, a quem encarou com desprezo.

— Não é assim que funciona — tentou dizer Min, mas Nynaeve mal pôde ouvir.

Ela estava… ciente… da outra mulher, do que ela sentia, da corda apertando os tornozelos e os pulsos atrás das costas, do gosto rançoso de peixe dos trapos na boca, da palha pinicando através do tecido ino do que ela usara por baixo do vestido. Não era como se ela, Nynaeve, sentisse aquelas coisas. Em sua cabeça havia um aglomerado de sensações que sabia pertencerem à sul’dam.

Engoliu em seco, tentando ignorá-las, mas elas não iam embora. Então se dirigiu à mulher amarrada:

— Não vou machucá-la se responder às minhas perguntas. Nós não somos Seanchan, mas, se você mentir para mim… — Ela ergueu a corrente de forma ameaçadora.

Os ombros da mulher tremeram, e os lábios se entortaram em volta da mordaça. Levou apenas um instante para Nynaeve perceber que a sul’dam estava rindo.

Ela cerrou os dentes, mas então teve uma ideia. Aquele aglomerado de sensações em sua cabeça pareciam ser tudo o que a outra mulher sentia, fisicamente. Experimentou acrescentar sensações àquilo.

A sul’dam deu um berro que a mordaça não abafou muito bem, e seus olhos se arregalaram de repente. Sacudindo as mãos como se tentasse afastar alguma coisa, ela se arrastou pela palha em uma vã tentativa de escapar.

Nynaeve ficou boquiaberta, e apagou a sensação extra mais do que depressa. A sul’dam arquejava, choramingando.

— O quê… O que você… fez com ela? — perguntou Elayne, com a voz débil.

Min apenas olhava, estupefata.

Nynaeve respondeu em um tom áspero:

— O mesmo que Sheriam fez quando você jogou um copo em Marith. — Luz, isso é nojento!

Elayne engoliu em seco bem alto.

— Ah!

— Mas um a’dam não deveria funcionar assim — a firmou Min. — Elas sempre dizem que não funciona em mulheres incapazes de canalizar.

— Não me importa como deveria funcionar, contanto que funcione.

Nynaeve segurou a corrente de metal prateado bem onde ela se ligava à coleira. Então ergueu a outra apenas o suficiente para encará-la nos olhos.

— Você me ouça, e ouça bem. Quero respostas, e, se não recebê-las, farei você achar que arranquei seu couro. — Uma expressão de puro terror passou pelo rosto da mulher, e Nynaeve sentiu o estômago embrulhar de repente, quando se deu conta de que a sul’dam entendera a ameaça de forma literal. Se ela acha que eu posso, é porque sabe. É isso que essa corrente faz. Ela fez força para se controlar, tentando se impedir de arrancar o bracelete do pulso. Em vez disso, endureceu a expressão. — Está pronta para responder? Ou precisa de mais persuasão?

O balançar de cabeça frenético foi resposta suficiente. Quando Nynaeve removeu a mordaça, a mulher parou apenas para engolir uma vez antes de começar a tagarelar.

— Eu não vou denunciá-las. Eu juro. Só tirem isso do meu pescoço. Eu tenho ouro. Levem. Eu juro. Nunca contarei a ninguém.

— Fique quieta — ordenou Nynaeve, e a mulher se calou no mesmo instante. — Qual é seu nome?

— Setah. Por favor, vou responder, mas por favor… tire isso de mim! Se alguém vir isso em mim… — Os olhos da mulher baixaram para fitar a corrente, e então se fecharam com força. — Por favor? — sussurrou.

Nynaeve se deu conta de uma coisa: jamais conseguiria fazer Elayne usar aquela coleira.

— É melhor acabarmos logo com isso — falou a Filha-herdeira, com a voz firme. Estava apenas com a roupa de baixo. — Espere um momento para eu colocar esse outro vestido e…

— Ponha suas roupas de novo — mandou Nynaeve.

— Alguém tem que fingir ser damane — argumentou Elayne —, ou nunca chegaremos a Egwene. Esse vestido cabe em você, e não pode ser Min. Só resta eu.

— Eu disse para vestir suas roupas. Temos alguém para ser a Encolarada. — Nynaeve puxou a corrente que prendia Setah, e a sul’dam ofegou.

— Não! Não, por favor! Se alguém me vir… — Ela parou, diante do olhar frio de Nynaeve.

— Pelo que sei, você é pior do que uma assassina, pior do que uma Amiga das Trevas. Não consigo pensar em nada pior do que você. O fato de eu ter de usar essa coisa no meu pulso, ter que fingir ser o mesmo que você, mesmo que por apenas uma hora, me dá náuseas. Então, se acha que eu evitaria fazer qualquer coisa a você, pense outra vez. Você não quer ser vista? Bom. Nós também não. Mas ninguém olha de verdade para uma damane. Enquanto ficar de cabeça baixa, como uma Encolarada deve fazer, ninguém vai notar sua existência. Mas é bom que você dê o seu melhor para garantir que nós também não sejamos vistas. Se formos, tenho certeza de que você também será. E se isso não for o suficiente para conter sua língua, prometo que farei você amaldiçoar o primeiro beijo que sua mãe deu no seu pai. Estamos entendidas?

— Sim — respondeu Setah, com a voz fraca. — Eu juro.

Nynaeve precisou remover o bracelete para que passassem o vestido tingido de Elayne pela corrente e pela cabeça de Setah. Não cabia direito na mulher, ficava folgado no peito e apertado no quadril, mas o de Nynaeve ficaria tão ruim quanto, e curto demais. A Sabedoria torcia para que as pessoas de fato não olhassem para as damane. Ela recolocou o bracelete com relutância.

Elayne recolheu as roupas de Nynaeve, envolveu-as no outro vestido tingido e fez uma trouxa. O tipo de trouxa que uma mulher vestida como camponesa carregaria enquanto segue uma sul’dam e uma damane.