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— Eu suspeitei que acabaria sendo apenas você e eu. — Turak girou a lâmina com facilidade, fazendo um círculo para um lado e depois para o outro. Os dedos de unhas longas moviam-se pelo cabo com delicadeza. As unhas não pareciam atrapalhá-lo em nada. — Você é jovem. Vamos ver o que é preciso para merecer a garça desse lado do oceano.

De repente, Rand viu. Imponente, na lâmina de Turak, havia uma garça. Apesar do pouco treinamento que tinha, estava frente a frente com um verdadeiro mestre espadachim. Mais do que depressa, jogou o manto com forro de lã para um lado, livrando-se do peso e do estorvo. Turak esperou.

Ele queria buscar o vazio desesperadamente. Estava claro que precisaria de toda a habilidade que conseguisse reunir, e mesmo assim tinha pouca chance de deixar a sala com vida. Precisava sair vivo dali. Egwene estava quase perto o suficiente para ele chamá-la com um grito, e precisava dar um jeito de libertá-la. Mas saidin esperava no vazio. A ideia fazia seu coração saltar ao mesmo tempo que lhe embrulhava o estômago. Mas, tão perto quando Egwene, estavam aquelas outras mulheres. Damane. Se tocasse saidin, se não conseguisse se impedir de canalizar, elas saberiam, dissera Verin. Saberiam e fariam perguntas. Tantas, tão perto. Talvez sobrevivesse a Turak apenas para morrer enfrentando as damane, e não podia morrer antes que Egwene estivesse livre. Rand ergueu a lâmina.

Turak aproximou-se com passos silenciosos. Lâmina retiniu contra lâmina como um martelo contra uma bigorna.

Desde o início, ficou claro para Rand que o homem o estava testando, pressionando-o apenas o suficiente para descobrir o que ele era capaz de fazer. Então avançava um pouco, e depois mais um pouco. Os pulsos e pés rápidos o mantinham vivo tanto quanto a habilidade com a espada. Sem o vazio, estava sempre um segundo atrasado. A ponta da espada pesada de Turak causou um corte ino e dolorido logo abaixo de seu olho esquerdo. Um retalho da manga de seu casaco pendia do ombro, mais escuro por estar molhado. Sob um corte seco debaixo do braço direito, preciso como o de um alfaiate, o rapaz conseguia sentir a umidade se espalhando pelas costelas.

A expressão do Grão-lorde era de desapontamento. Ele recuou um passo com um gesto de desgosto.

— Onde você encontrou essa lâmina, garoto? Ou será que neste lugar a garça é dada a gente com menos habilidade que você? Não importa. Aceite seu destino. É hora de morrer. — Ele avançou outra vez. O vazio envolveu Rand. Saidin fluiu para ele, brilhando com a promessa do Poder Único, mas foi ignorado. Não era mais di ícil do que ignorar um espinho serrilhado se contorcendo em sua carne. Recusou-se a ser preenchido pelo Poder, a se tornar um com a metade masculina da Fonte Verdadeira. Ele era um com a espada em suas mãos, um com o chão sob seus pés. Um com Turak.

Reconheceu as formas que o Grão-lorde usava. Eram um pouco diferentes das que aprendera, mas não o suficiente. A Andorinha Alça Voo foi enfrentada com Cortando A Seda. Lua na Água foi de encontro a O Perdiz da Floresta Dança. Contra Fita no Ar, Pedras Caindo do Penhasco. Eles se moviam pela sala como se dançassem, e a música vinha do aço contra aço.

O desapontamento e o desgosto sumiram dos olhos escuros de Turak, substituídos pela surpresa, e então pela concentração. O suor escorria pelo rosto do Grão-lorde conforme ele pressionava Rand mais e mais. Raio de Três Pontas contra Folha ao Sabor da Brisa.

Os pensamentos de Rand flutuavam para fora do vazio, longe dele próprio, quase despercebidos. Não era suficiente. Enfrentava um mestre da lâmina e, com o vazio e toda a sua habilidade, mal conseguia resistir. Por muito pouco. Precisava acabar com aquilo antes que Turak o fizesse. Saidin? Não! Às vezes é necessário Embainhar a Espada no próprio corpo. Mas aquilo também não ajudaria Egwene. Precisava acabar com aquilo naquele momento. Imediatamente.

Os olhos de Turak se arregalaram quando Rand avançou. Até o momento, ele apenas defendera. Agora atacava, e com tudo. O Javali Dispara Montanha Abaixo. Cada movimento da lâmina era uma tentativa de atingir o Grão-lorde. Tudo o que Turak podia fazer era recuar e se defender, atravessando a sala quase até a porta.

Em um instante, enquanto Turak ainda tentava enfrentar o Javali, Rand investiu. O Rio Erode a Margem. Ele se apoiou em um joelho, atravessando a lâmina na horizontal. Não precisava do arquejo de Turak ou da resistência da carne na lâmina para saber. Ouviu dois baques e virou o rosto, sabendo o que veria. Olhou para a própria lâmina, molhada e vermelha, e para onde jazia o Grão-lorde, com a espada caída de sua mão débil. Um líquido escuro manchava os pássaros do tapete sob seu corpo. Os olhos de Turak ainda estavam abertos, mas já tinham o véu da morte.

O vazio estremeceu. Enfrentara Trollocs antes, enfrentara Crias das Trevas. Jamais enfrentara um ser humano com uma espada, a não ser durante o treinamento ou em algum blefe. Acabei de matar um homem. O vazio tremeu, e saidin tentou preenchê-lo.

Ele lutou para se libertar, desesperado. A respiração estava di ícil enquanto olhava ao redor. Tomou um susto ao notar os dois serviçais ainda ajoelhados ao lado da porta. Esquecera deles, e não sabia o que fazer a respeito dos dois. Nenhum deles parecia estar armado, mas tudo que precisavam fazer era gritar.

Não olharam para ele, nem um para o outro. Em vez disso, fitaram o cadáver do Grão-lorde em silêncio. Puxaram adagas de dentro das túnicas, e Rand segurou a espada com mais firmeza, mas eles encostaram as pontas nos próprios peitos.

— Do nascimento à morte — entoaram em uníssono —, eu sirvo ao Sangue. — Então cravaram as adagas nos próprios corações. Tombaram para a frente quase sem sofrer, morrendo com as cabeças no chão como se em profunda reverência ao Lorde.

Rand olhou para eles, incrédulo. Loucos, pensou. Eu posso até enlouquecer um dia, mas esses dois já estavam malucos.

Estava se levantando, trêmulo, quando Ingtar e os outros voltaram correndo. Todos tinham feridas e cortes. O couro do casaco de Ingtar estava manchado em mais de um lugar. Mat ainda segurava a Trombeta e a adaga, com a lâmina mais escura que o rubi no cabo. O machado de Perrin também estava vermelho, e ele parecia prestes a vomitar.

— Você cuidou deles? — perguntou Ingtar, olhando para os cadáveres. — Então terminamos, se nenhum alarme foi dado. Aqueles tolos não pediram ajuda nem uma vez.

— Vou ver se os guardas ouviram alguma coisa — disse Hurin, correndo para a janela.

Mat sacudiu a cabeça.

— Rand, essa gente é louca. Sei que já disse isso antes, mas é mesmo verdade. Aqueles serviçais… — Rand prendeu a respiração, se perguntando se todos tinham se matado. Mat continuou: — Sempre que nos viam lutando, caíam de joelhos, com o rosto no chão e os braços ao redor da cabeça. Não se moviam nem gritavam. Não tentaram ajudar os soldados ou soar qualquer alarme. E ainda estão lá, pelo que sei.

— Bom, eu não contaria com isso, com eles ainda estarem ajoelhados — afirmou Ingtar, seco. — Partiremos agora, e o mais rápido possível.

— Vocês vão — respondeu Rand. — Egwene…

— Seu tolo! — ralhou Ingtar. — Já temos o que viemos buscar. A Trombeta de Valere. A esperança da salvação. De que pode valer uma garota, mesmo a que você ama, comparada à Trombeta e ao que ela representa?

— Por mim, o Tenebroso pode ficar com a Trombeta, se quiser. De que vale encontrá-la se eu abandonar Egwene nesse estado? Se eu fizesse isso, a Trombeta não poderia me salvar. O Criador não poderia me salvar. Eu estaria condenado pelas minhas próprias mãos.

Ingtar o encarou com uma expressão indecifrável.

— Você está sendo sincero, não é?