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Ouviu um som no corredor, e levantou a cabeça assim que a porta abriu. Egwene estava ali, encarando-os à luz do fogo e do lampião.

— Ah… — Foi tudo o que disse.

As bochechas de Min ruborizaram. Por que estou agindo como se tivesse feito algo errado? Idiota!

— Eu… Eu só estou mantendo ele quente. Rand está inconsciente. E frio como gelo.

Egwene não avançou para dentro do quarto.

— Eu… Eu senti ele me puxando. Precisando de mim. Elayne também sentiu. Pensei que devia ter algo a ver com… com o que ele é, mas Nynaeve não sentiu nada. — Ela respirou fundo, soltando um suspiro trêmulo. — Elayne e Nynaeve estão pegando os cavalos. Encontramos Bela. Os Seanchan deixaram a maior parte dos cavalos para trás. Nynaeve disse que precisamos partir assim que der, e… e… Min, agora você sabe o que ele é, não sabe?

— Sei. — Min queria tirar o braço de debaixo da cabeça de Rand, mas não conseguia se forçar a movê-lo. — Pelo menos, acho que sei. Mas não importa o que ele é, está ferido. Não posso fazer nada além de mantê-lo aquecido. Talvez Nynaeve consiga.

— Min, você sabe… Sabe que ele não pode se casar. Ele não é… seguro… para nenhuma de nós, Min.

— Fale por você — respondeu a garota. Ela puxou o rosto de Rand para junto do peito. — É como Elayne disse. Você o trocou pela Torre Branca. Por que se importaria se eu ficasse com ele?

Egwene a encarou pelo que pareceu um longo tempo. Não olhava para Rand, de forma alguma, apenas para ela. Min sentiu o rosto aquecer e quis desviar o olhar, mas não conseguiu.

— Vou buscar Nynaeve — disse Egwene, por fim, e saiu do quarto de cabeça erguida.

Min quis chamá-la, ir atrás dela, mas permaneceu ali, como se estivesse congelada. É o que deve ser. Eu sei. Li isso em todos eles. Luz, não quero ser parte disso.

— É tudo culpa sua — disse ao corpo inerte de Rand. — Não, não é. Mas você vai pagar por isso, eu acho. Estamos todos presos como moscas em uma teia de aranha. E se eu dissesse a ela que ainda há uma mulher por vir, alguém que ela não conhece? Por sinal, o que você pensaria disso, meu belo Lorde Pastor? Você não é nada feio, mas… Luz, eu nem sei se sou quem você vai escolher. Não sei se quero que me escolha. Ou vai tentar deixar nós três a seus pés? Pode não ser culpa sua, Rand al’Thor, mas não é justo.

— Rand al’Thor, não — corrigiu uma voz melodiosa à porta. — Lews Therin Telamon. O Dragão Renascido.

Min olhou, estupefata. Era a mulher mais linda que já vira, com a pele pálida e lisa, longos cabelos pretos e olhos escuros como a noite. O vestido era de um branco que faria a neve parecer encardida, e ela usava um cinturão de prata. Todas as joias dela também eram de prata. Min sentiu arrepios.

— O que quer dizer? Quem é você?

A mulher entrou e parou ao lado da cama. Seus movimentos eram tão graciosos que Min sentiu uma pontada de inveja, mesmo jamais tendo invejado qualquer outra mulher. Ela alisou o cabelo de Rand como se Min não estivesse lá.

— Ele ainda não acredita, eu acho. Sabe, mas não acredita. Eu guiei os passos dele, o empurrei, puxei, seduzi. Ele sempre foi teimoso, mas dessa vez vou moldá-lo. Ishamael acha que controla os acontecimentos, mas quem faz isso sou eu. — O dedo dela tocou de leve a testa de Rand, como se desenhasse uma marca. Min achou, desconfortável, que parecia a Presa do Dragão. Rand se mexeu, murmurando. Era o primeiro som e o primeiro movimento que fazia desde que fora encontrado.

— Quem é você? — indagou Min.

A mulher olhou para ela. Apenas olhou, mas Min percebeu que se encolhia nos travesseiros, agarrando-se a Rand com força.

— Garota, eu me chamo Lanfear.

De repente, a boca de Min ficou tão seca que ela não conseguiria falar, nem mesmo se sua vida dependesse disso. Um dos Abandonados! Não! Luz, não! Tudo que conseguiu fazer foi balançar a cabeça. A negação fez Lanfear sorrir.

— Lews Therin foi e é meu, garota. Cuide bem dele para mim até eu vir buscá-lo. — Então sumiu.

Min ficou boquiaberta. Em um instante ela estava ali, e então havia desaparecido. A jovem percebeu que abraçava o corpo inconsciente de Rand com força. Como gostaria de não sentir que queria que ele a protegesse…

Com o rosto cadavérico decidido, Byar galopava com o sol poente às costas e não olhava para trás. Vira tudo que precisava ver. Tudo que conseguira, com aquele maldito nevoeiro. A legião tinha morrido, o senhor Capitão Geofram Bornhald tinha morrido, e havia apenas uma explicação: foram traídos por Amigos das Trevas. Amigos das Trevas como aquele Perrin de Dois Rios. Aquela era a notícia que precisava levar a Dain Bornhald, filho do senhor Capitão, que estava com os Filhos da Luz que montavam vigília em Tar Valon. Mas tinha coisas piores a contar, e para ninguém menos do que o próprio Pedron Niall. Precisava contar o que vira no céu acima de Falme. Atiçou o cavalo com as rédeas e não olhou para trás.

49

O Que Deveria Ser

Rand abriu os olhos e notou que olhava para cima, para a luz do sol atravessando uma folha-de-couro. As folhas largas e grossas ainda estavam verdes, apesar da época do ano. O vento que agitava os galhos trazia o anúncio da neve que cairia ao anoitecer. Estava deitado de barriga para cima e conseguia sentir os cobertores sob suas mãos. Seu casaco e sua camisa pareciam ter sumido, mas alguma coisa estava amarrada em seu peito, e sentia dor do lado esquerdo do corpo. Virou a cabeça e viu Min sentada ali, no chão, observando-o. Quase não a reconheceu ao vê-la em um vestido. Ela sorriu, hesitante.

— Min. É você. De onde saiu? Onde estamos?

A memória voltava em lampejos, fragmentada. Conseguia se lembrar de acontecimentos antigos, mas os últimos dias pareciam pedaços de um espelho quebrado girando em sua mente, mostrando vislumbres que sumiam antes que conseguisse vê-los direito.

— Saímos de Falme — respondeu a jovem. — Estamos cinco dias a leste de lá agora, e você dormiu o tempo todo.

— Falme. — Mais lembranças. Mat tocara a Trombeta de Valere. — Egwene! Ela está…? Eles a libertaram? — Ele prendeu a respiração.

— Eu não sei quem são esses “eles” que você está falando, mas ela está livre. Nós a libertamos sozinhas.

— Nós? Não entendo. — Ela está livre. Pelo menos ela está…

— Nynaeve, Elayne e eu.

— Nynaeve? Elayne? Como? Todas vocês estavam em Falme? — Ele tentou se levantar, mas ela o empurrou de volta com facilidade e ficou ali parada, com as mãos em seus ombros e o olhar fixo em seu rosto. — Onde ela está?

— Foi embora. — O rosto de Min corou. — Todos foram embora. Egwene, Nynaeve, Mat, Hurin e Verin. Hurin não queria deixar você para trás, de verdade. Estão todos a caminho de Tar Valon. Egwene e Nynaeve retomarão o treinamento na Torre, e Mat vai ver o que as Aes Sedai podem fazer a respeito da adaga. E levaram a Trombeta de Valere. Não consigo acreditar que a vi de verdade.

— Foi embora — murmurou ele. — Ela nem esperou eu acordar.

O rubor no rosto de Min aumentou, e ela se sentou, fitando o próprio colo.

Ele ergueu as mãos para passá-las no rosto, mas parou, encarando as palmas, chocado. Havia mais uma garça na palma da mão esquerda, para combinar com a da mão direita. As linhas eram nítidas e fortes. Uma vez a garça, para traçar seu caminho; Duas vezes a garça, para proclamá-lo verdadeiro.

— Não!

— Eles foram embora — disse ela. — Negar não muda isso.

Ele sacudiu a cabeça. Algo lhe dizia que a dor na lateral do corpo era importante. Não conseguia se lembrar de ter sido ferido, mas era importante. Começou a levantar os cobertores para olhar, mas Min afastou suas mãos com um tapa.