uma coisinha magricela vestida de couro manchado,
esquivava-se e conseguia pôr sua "espada" no caminho da
maior parte dos golpes do rapaz, mas não de todos.
Quando ela tentou uma estocada, ele parou o pau dela
com o seu, varreu-o para o lado e golpeou-lhe duramente
os dedos. Ela gritou e deixou cair a "espada".
Príncipe Joffrey soltou uma gargalhada. O rapaz olhou em
volta, com os olhos muito abertos e sobressaltado, e
deixou cair a"espada" sobre a relva. A menina olhou para
eles furiosa, chupando os nós dos dedos para afastar a
dor, e Sansa ficou horrorizada.
- Arya? - gritou, incrédula.
- Vá embora - gritou Arya de volta, com lágrimas de fúria
nos olhos. - O que você está fazendo aqui? Deixe -nos em
paz.
Joffrey olhou de relance para Arya, depois para Sansa, e
depois de novo para Arya.
- É a sua irmã? - ela confirmou com um aceno, corando.
Joffrey examinou o rapaz, um jovem desajeitado com uma
cara grosseira, sardenta, e espessos cabelos ruivos. - E
quem é você, rapaz? - perguntou, num tom de comando
que não dava qualquer importância ao fato de o outro ser
um ano mais velho que ele próprio.
- Mycah - o rapaz murmurou. Reconheceu o príncipe e
desviou os olhos. - Senhor.
- É o filho do carniceiro - disse Sansa.
- É meu amigo - retrucou Arya em voz penetrante. -
Deixem-no em paz.
- Um filho de carniceiro que deseja ser cavaleiro, é isso? -
Joffrey saltou da montada, de espada na mão. - Pegue a
sua espada, filho de carniceiro - disse, com os olhos
brilhantes de diver timento. - Vamos lá ver como se
comporta,
Mycah ficou imóvel, congelado de medo.
Joffrey caminhou na sua direção.
- Vá lá, pega ela. Ou será que só luta com menininhas?
- Ela me pediu, senhor - disse Mycah, - Ela pediu.
Sansa só teve precisou olhar para Arya e ver seu rosto
corado para saber que o rapaz falava a verdade, mas
Joffrey não estava com disposição de ouvi -lo. O vinho o
deixara excitado.
- Vai pegar sua espada?
Mycah abanou a cabeça.
- É só um pau, senhor. Não é espada nenhuma, é só um
pau.
- E você é só o filho do carniceiro, n ão é nenhum
cavaleiro - Joffrey ergueu Dente de Leão e pousou sua
ponta na bochecha de Mycah, abaixo do olho, enquanto o
filho do carniceiro per manecia imóvel, tremendo. - Aquela
em quem batia é a irmã da minha senhora, você sabe
disso? - um brilhante botão de sangue rebentou onde a
espada fazia pressão na pele de Mycah e uma lenta linha
vermelha deslizou pela bochecha do rapaz.
- Para com isso! - gritou Arya, e agarrou seu pau no chão.
Sansa sentiu medo.
- Arya, mantenha-se fora disto.
- Não vou machucá-lo... muito - disse o Príncipe Joffrey a
Arya, sem desviar os olhos do filho do carniceiro.
Arya saltou sobre ele,
Sansa deslizou de cima da égua, mas foi lenta demais.
Arya brandiu a "espada" com ambas as mãos. Ouviu -se um
sonoro crac quando a madeira se quebrou contra a nuca
do príncipe, e então tudo aconteceu ao mesmo tempo
perante os horrorizados olhos de Sansa. Joffrey cambaleou
e rodopiou, rugindo pragas. Mycah fugiu para as árvores
tão depressa quanto as pernas podiam levá -lo. Arya
atacou de novo o prínc ipe, mas desta vez Joffrey parou o
golpe com a Dente de Leão e arrancou -lhe a "espada" das
mãos. Tinha a nuca cheia de sangue e os olhos em fogo.
Sansa gritava: - Não, não, parem, parem os dois, estão
estragando tudo -, mas ninguém a ouvia.
Arya pegou uma pedra e atirou-a na cabeça de Joffrey. Em
vez de atingi-lo, acertou o cavalo, e o baio vermelho
empinou-se e partiu a galope atrás de Mycah. - Parem, não,
parem! -, gritou Sansa novamente. Joffrey avançou em
direção de Arya, espada em punho, gritando obsc enidades,
palavras terríveis, nojentas. Arya saltou para trás, agora
assustada, mas Joffrey a seguiu, levando -a na direção do
bosque, encurralando-a contra uma árvore. Sansa não
sabia o que fazer. Ficou vendo, impotente, quase cega
pelas lágrimas.
Então, uma mancha cinzenta passou por ela como um
relâmpago e, de súbito, Nymeria estava ali, saltando,
cerrando as mandíbulas em torno do braço de Joffrey que
manejava a espada. O aço caiu -lhe dos dedos quando a
loba o atirou ao chão, e rolaram na relva, com a loba
rosnando e abocanhando o príncipe, que guinchava de
dor.
- Tirem-na daqui! - ele gritou. - Tirem-na daqui!
A voz de Arya estalou como um chicote.
- Nymerial
A loba gigante largou Joffrey e foi até junto de Arya. O
príncipe ficou estendido na relva, choramingando,
agarrado ao braço retalhado. Sua camisa estava empapada
de sangue. Arya disse:
- Ela não te machucou... muito - ela ergueu Dente de
Leão do lugar onde caíra e levantou-se sobre ele,
segurando a espada com as duas mãos.
Joffrey soltou um som choros o e assustado quando olhou
para cima, para Arya.
- Não - disse -, não me machuque, Vou contar para minha
mãe.
- Deixe-o em paz! - gritou Sansa à irmã.
Arya girou e atirou a espada ao ar, colocando todo seu
corpo no movimento. O aço azul relampejou à luz do sol
quando a espada rodopiou sobre o rio. Atingiu a água e
desapareceu com um borbulhar. Joffrey gemeu. Arya
correu para seu cavalo, com Nymeria a trotar logo atrás.
Depois de terem desaparecido, Sansa foi até junto do
Príncipe Joffrey, que tinha os olhos ce rrados de dor, a
respiração entrecortada, e ajoelhou-se a seu lado.
-Joffrey - soluçou. - Ah, veja o que eles fizeram, veja o
que eles fizeram. Meu pobre prín cipe. Não tenha medo.
Eu vou a cavalo até o castro e lhe trarei ajuda - com
ternura, ela estendeu a mão e afastou para trás os suaves
cabelos louros.
Os olhos dele abriram-se de repente e olharam-na, e neles
nada havia além de repugnância, nada além do mais vil
desprezo.
- Então vai - ele cuspiu. - E não me toque.
Eddard
- Encontraram-na, senhor.
Ned pôs-se em pé de um salto.
- Os nossos homens ou os dos Lannister?
- Foi Jory - respondeu o intendente Vayon Poole. - Não lhe
fizeram mal.
- Graças aos deuses - Ned respondeu. Seus homens
andavam à procura de Arya já há qua tro dias, mas os
homens da rainha também participavam da busca. - Onde
ela está? Diga a Jory que a traga para cá imediatamente.
- Lamento, senhor - disse Poole. - Os guardas do portão
eram homens dos Lannister e informaram a rainha quando
Jory a trouxe. Ela foi levada diretamente perante o re i...
- Maldita seja aquela mulher! - Ned amaldiçoou, caminhando
a passos largos para a porta. - Vá à procura de Sansa e a
traga à sala de audiências. Sua versão pode ser necessária
- desceu os degraus da torre submerso numa raiva rubra.
Ele próprio dirigira as buscas durante os primeiros três