com o tejo de prata que prendia ao manto. Mesmo quando
criança, sempre gostara de sua prata.
- Como soube que eu estava na cidade? - ela perguntou.
- Lorde Varys sabe tudo - disse Petyr com um sorriso
malicioso. - Ele se juntará a nós em breve, mas eu quis
vê-la a sós primeiro. Foi há tanto tempo, Cat. Quantos
anos?
Catelyn ignorou a familiaridade do homem. Havia
perguntas mais importantes.
- Então foi a Aranha do Rei que me encontrou. Mindinho
encolheu-se.
- Não deve chamá-lo assim. Ele é muito sensível. Imagino
que por ser um eunuco. Nada acontece nesta cidade sem
que Varys fique sabendo. Por vezes, ele sabe das coisas
antes de elas acontecerem. Tem informantes por todo o
lado. Chama-os de seus passarinhos. Um de seus
passarinhos ouviu falar da sua visita. Felizmente, Varys
veio falar comigo primeiro.
- Por que você?
Ele encolheu os ombros.
- E por que não? Sou o mestre da moeda, o conselheiro
do rei. Selmy e Lorde Renly foram para o Norte ao
encontro de Robert, e Lorde Stannis partiu para Pedra do
Dragão, deixando só Meistre Pycelle e eu. Era a escolha
óbvia. Sempre fui amigo de sua irmã Lysa, e Varys sabe
disso.
- Saberá Varys sobre...
- Lorde Varys sabe tudo... exceto o motivo de estar aqui -
ergueu uma sobrancelha. - E por que motivo está aqui?
- É permitido a uma esposa ansiar pelo marido, e se uma
mãe precisar das filhas por perto, quem lhe dirá que não?
Mindinho soltou uma gargalhada.
- Ah, muito bem, minha senhora, mas com certeza não
espera que eu acredite nisso. Co nheço-a bem demais.
Como eram as palavras dos Tully?
A garganta dela estava seca.
- Família, Dever, Honra - recitou rigidamente. Ele de fato a
conhecia bem demais.
- Família, Dever, Honra - repetiu ele. - E todas estas
coisas requeriam que tivesse perma necido em Winterfell,
onde a nossa Mão a deixou. Não, minha senhora, algo
aconteceu. Esta sua súbita viagem sugere certa urgência.
Suplico-lhe, deixe-me ajudar. Os velhos amigos íntimos
nunca deveriam hesitar em apoiar -se uns nos outros -
ouviu-se uma suave batida na porta. - Entre - disse
Mindinho em voz alta.
O homem que atravessou a porta era roliço, perfumado,
empoado e tão desprovido de cabelos como um ovo.
Trajava uma veste de fio de ouro trançado sobre um
vestido largo de seda púrpura e, nos pés, trazia chinelos
pontiagudos de suave veludo.
- Senhora Stark - disse, tomando-lhe uma mão nas suas -,
vê-la de novo após tantos anos é uma grande alegria - sua
pele era mole e úmida, e o hálito cheirava a lilases. - Ah,
suas pobres mãos. Queimaduras, querida senh ora? Os
dedos são tão delicados... Nosso bom Meistre Pycelle faz
um bálsamo maravilhoso, mando buscar um jarro?
Catelyn puxou a mão.
- Agradeço-lhe, senhor, mas meu Meistre Luwin já tratou
de minhas dores, Varys inclinou a cabeça.
- Fiquei atrozmente triste quando soube do que aconteceu
ao seu filho. E ele tão jovem. Os deuses são cruéis.
- Nisso concordamos, Senhor Varys - ela disse. O título
não passava de uma cortesia que lhe era devida por ser
membro do conselho; Varys não era senhor de coisa
nenhuma, a não ser da teia de aranha; mestre de ninguém,
a não ser de seus segredos.
O eunuco estendeu as mãos suaves.
- Em mais do que isso, espero eu, querida senhora. Tenho
grande estima pelo seu marido, nossa nova Mão, e sei que
ambos amamos o rei Robert.
- Sim - foi forçada a dizer. - Com certeza.
- Nunca um rei foi tão amado como o nosso Robert -
observou Mindinho, sorrindo mali ciosamente. - Pelo
menos ao alcance dos ouvidos do Senhor Varys.
- Minha boa senhora - disse Varys com grande solicitude.
- Há homens nas Cidades Livres com assombrosos poderes
curativos. Basta que me diga uma palavra e mandarei
chamar um para o seu querido Bran.
- Meistre Luwin está fazendo tudo o que pode ser feito
por Bran - ela informou. Não queria falar de Bran, não ali,
não com aqueles h omens. Confiava apenas um pouco em
Mindinho, e abso lutamente nada em Varys, Não queria
deixá-los ver sua dor. - Lorde Baelish disse-me que é a
vós que devo agradecer por me trazerem até aqui.
Varys soltou um risinho de moça,
- Ah, sim. Suponho que sou cul pado. Espero que me
perdoe, bondosa senhora - instalou-se numa cadeira e
juntou as mãos. - Pergunto a mim mesmo se podemos
incomodá-la pedindo que nos mostre o punhal?
Catelyn Stark fitou o eunuco com uma descrença
atordoada. Ele era uma aranha, pensou pre cipitadamente,
um encantador, ou coisa pior. Sabia coisas que ninguém
poderia de modo algum saber, a não ser que...
- O que fez a Sor Rodrik?
Mindinho tinha perdido o fio da meada.
- Sinto-me como o cavaleiro que chega ao campo de
batalha sem sua lança. De que punhal estamos falando?
Quem é Sor Rodrik?
- Sor Rodrik Cassei é mestre de armas em Winterfell -
Varys respondeu. - Asseguro-lhe, Senhora Stark, que
absolutamente nada foi feito ao bom cavaleiro. Ele veio
até aqui esta tarde. Visitou Sor Aron Santagar n o armeiro,
e conversaram sobre um certo punhal. Por volta do pôr
do sol, saíram juntos do castelo e dirigiram-se àquele
pavoroso casebre onde estão alojados. Ainda estão lá,
bebendo na sala de estar, à espera do seu regresso. Sor
Rodrik ficou muito aflito quando não a encontrou lá.
- Como pode saber tudo isso?
- Os sussurros de passarinhos - disse Varys, sorrindo. -
Eu sei coisas, querida senhora. É essa a natureza dos
meus serviços - encolheu os ombros. - Tem o punhal
convosco, não é?
Catelyn puxou-o de dentro do manto e o atirou em cima
da mesa à frente dele.
- Aqui está. Talvez seus passarinhos possam segredar o
nome do homem a quem pertence. Varys ergueu a faca
com uma delicadeza exagerada e percorreu-lhe o gume
com o polegar.
Jorrou sangue, e ele deixou escapar um guincho e largou o
punhal sobre a mesa.
- Cuidado - disse-lhe Catelyn -, é afiado.
- Nada mantém o gume como o aço valiriano - disse
Mindinho enquanto Varys sugava o polegar ferido e
lançava a Catelyn um olhar de carrancuda advertência.
Mindinho sopesou a faca com ligeireza, sentindo -a.
Atirou-a ao ar, e voltou a apanhá-la com a outra mão. -
Que belo equilíbrio. Quer encontrar o dono, é este o
motivo desta visita? Não há necessidade de Sor Aron para
isso, minha senhora. Devia ter me procurado.
- E se o tivesse feito - disse ela -, o que me teria dito?
- Teria dito que só existe uma faca como esta em Porto
Real - pegou na lâmina com o po legar e o indicador,
ergueu-a sobre o ombro e atirou-a pela sala com uma
torção hábil de pulso. O punhal atingi u a porta e
enterrou-se profundamente na madeira de carvalho,