a resposta de Sor Alliser. - E eu não estou habituado a
ver minhas ordens questionadas por bastardos.
Tyrion Lannister saltou do banco e pôs -se em pé.
- Pare com isso, Thorne. Está assustando o rapaz.
- Não se intrometa em assuntos que não lhe dizem
respeito, Lannister. Não tem lugar aqui.
- Mas tenho um lugar na corte - disse o anão, sorrindo. -
Uma palavra ao ouvido certo e morrerá como um velho
amargo antes que tenha outro rapaz para treinar. E agora
diga ao Snow porque é que o Velho Urso precisa vê -lo. Há
notícias do tio?
- Não - Sor Alliser respondeu. - É um assunto totalmente
diferente. Uma ave chegou esta manhã de Winterfell com
uma mensagem sobre seu irmão - depois, corrigiu-se: - De
seu meio-irmão.
- Bran - disse Jon sem fôlego, pondo-se em pé de um salto.
- Alguma coisa aconteceu a Bran.
Tyrion Lannister pouso u-lhe a mão no braço.
- Jon. Lamento muito,
Jon quase nem o ouviu. Afastou a mão de Tyrion e
atravessou o salão a passos largos. Ao chegar às portas, já
estava correndo. Precipitou -se na direção da Torre do
Comandante, atraves sando pequenas nuvens de neve v elha
soprada pelo vento. Quando os guardas o deixaram passar,
subiu os degraus da torre dois a dois. Ao avançar pelo
aposento do Senhor Comandante, tinha as botas
empapadas, os olhos agitados, e arquejava.
- Bran - disse. - Que diz a mensagem de Bran?
Jeor Mormont, o Senhor Comandante da Patrulha da
Noite, era um homem áspero e velho com uma imensa
cabeça calva e uma desgrenhada barba cinzenta. Tinha um
corvo pousado no braço e alimentava-o com grãos de
milho.
- Ouvi dizer que sabe ler - sacudiu o corvo, e a ave bateu
as asas e voou até a janela, onde pousou, observando
Mormont tirar do cinto um rolo de papel e entregá -lo a
Jon."Grão", resmungou o corvo em voz roufenha. "Grão,
grão",
O dedo de Jon percorreu o contorno do lobo gigante de
cera branca do selo quebrado. Reconheceu a letra de
Robb, mas as palavras pareciam sair de foco e fugir
quando tentou lê-las. Percebeu que estava chorando.
Então, através das lágrimas encontrou o sentido das
palavras e ergueu a cabeça.
- Ele acordou - disse. - Os deuses o devolveram.
- Aleijado - disse Mormont. - Lamento, rapaz. Leia o
resto da carta.
Olhou as palavras, mas não importavam. Bran ia
sobreviver.
- Meu irmão vai viver - disse a Mormont. O Senhor
Comandante balançou a cabeça, reco lheu um punhado de
milho e assobiou. O corvo voou até seu ombro, gritando
"Viver.' Viver.'".
Jon correu pela escada abaixo, com um sorriso no rosto e
a carta de Robb na mão.
- Meu irmão vai viver - disse aos guardas. Os homens
entreolharam-se. Correu de volta à sala comum, onde
encontrou Tyrion Lannister terminando sua refeição.
Agarrou o homenzinho pelos sovacos, ergueu-o no ar e
rodopiou com ele nos braços. - Bran vai viver! - berrou.
Lannister pareceu alarmado. Jon o colocou no chão e pôs-
lhe o papel nas mãos. - Está aqui, leia - disse.
Outros se juntavam e olhavam para ele com curiosidade.
Jon jreparou em Grenn a poucos centímetros. Trazia uma
atadura grossa de lã enrolada na mão. Parecia ansioso e
desconfortável, nada ameaçador. Jon foi falar com ele.
Grenn recuou e ergueu as mãos.
- Fica longe de mim, bastardo.
Jon sorriu para ele.
- Desculpe pelo pulso. Robb usou comigo o mesmo
movimento uma vez, mas com uma lâ mina de madeira.
Doeu como os sete infernos, mas o seu deve ser pior.
Olha, se quiser, posso lhe mostrar como se defender dele.
Alliser Thorne o ouviu.
- Lorde Snow quer agora ocupar meu lugar - fez um
sorriso de escárnio. - Mais facilmente ensinaria eu um
lobo a fazer malabarismos do que você treinaria este
auroque.
- Aceito a aposta, Sor Alliser - disse Jon. - Adoraria ver o
Fantasma fazer malabarismos. Jon ouviu Grenn prender a
respiração, chocado. E o silêncio se fez.
Então, Tyrion Lannister soltou uma gargalhada. Três dos
irmãos negros juntaram-se a ele numa mesa próxima. O
riso espalhou-se pelos bancos, até que mesmo os
cozinheiros riam. Os pássaros agitaram-se nas traves e,
finalmente, até de Grenn saiu um risinho.
Sor Alliser não tirou os olhos de Jon. Enquanto as
gargalhadas ressoavam à sua volta, seu rosto escureceu e
a mão da espada fechou-se num punho.
- Isso foi um enorme erro, Lorde Snow - disse, por fim,
no tom ácido de um inimigo.
Eddard
Eddard Stark entrou a cavalo pelas grandes portas de
bronze da Fortaleza Vermelha, dolo rido, cansado, faminto
e irritado. Ainda estava montado, sonhando com um longo
banho quente, uma galinha assada e uma cama de penas,
quando o intendente do rei lhe disse que o Grande
Meistre Pycelle tinha convocado uma reunião urgente do
pequeno conselho. A honra da presença da Mão era
requisitada assim que fosse conveniente.
- Será conveniente amanhã - exclamou Ned enquanto
desmontava. O intendente fez uma reverência muito
grande.
- Transmitirei aos conselheiros as vossas desculpas,
senhor.
- Não, raios me partam - disse Ned. Não era boa ideia
ofender o conselho ainda antes de come çar. - Irei vê-los.
Rogo que me concedam alguns momentos para vestir algo
mais apresentável.
- Sim, senhor - disse o intendente. - Se desejar,
oferecemos os antigos aposentos de Lorde Arryn, na Torre
da Mão. Mandarei que vossas coisas sejam levadas para lá,
- Agradeço - disse Ned enquanto arrancava as luvas de
montar e as enfiava no cinto. O resto de sua comitiva
vinha entrando pelo portão atrás dele. Ned viu Vayon
Poole, seu próprio inten dente, e o chamou. - Parece que o
conselho precisa urgentemente de mim. Certifique -se de
que minhas filhas encontram seus quartos e diga a Jory
para mantê-las lá. Arya não deve sair - Poole fez uma
reverência. Ned voltou a virar -se para o intendente real. -
Minhas carroças ainda estão vagando pela cidade.
Necessitarei de vestimentas apropriada s.
- Será um grande prazer - o intendente saiu.
E assim Ned entrara em passos largos na sala do conselho,
cansado até os ossos e vestido com roupas emprestadas, e
encontrara quatro membros do pequeno conselho à sua
espera.
O aposento estava ricamente mobiliado. Tapetes myrianos
cobriam o chão em lugar de estei ras e, num canto, cem
animais fabulosos saltavam em tintas vivas num biombo
entalhado vindo das Ilhas do Verão. As paredes estavam
cobertas por tapeçarias de Norvos, Qohor e Lys, e um par
de esfinges valirianas flanqueava a porta, com olhos de
granada polida ardendo em rostos de mármore negro.
O conselheiro de que Ned menos gostava, o eunuco Varys,
o abordou no momento em que entrou.
- Senhor Stark, fiquei imensamente triste ao saber de seus