sobre a água. Ao lado da porta, uma orn amentada candeia
de azeite oscilava na ponta de uma corrente pesada, com
um globo de cristal de chumbo vermelho.
Ned Stark desmontou furioso.
- Um bordel - disse, e agarrou Mindinho pelo ombro,
obrigando-o a se virar. - Você me trouxe por todo este
caminho para chegarmos a um bordel.
- Sua esposa está lá dentro - disse Mindinho.
Aquilo foi o insulto final.
- Brandon foi demasiado gentil com você - disse Ned, e
atirou o homenzinho contra uma parede e encostou o
punhal em sua garganta, sob a pequena barbicha
pontiaguda.
- Senhor, não - gritou uma voz. - Ele fala a verdade -
ouviram-se passos vindo naquela direção.
Ned rodopiou, de faca na mão, enquanto um velho homem
de cabelos brancos corria para eles. Estava vestido com
tecido grosseiro marrom e a pele mole sob o queixo
oscilava enquanto corria.
- Isto não é assunto seu - começou Ned a dizer, mas
então, de repente, ele reconheceu o ho mem. Abaixou o
punhal, espantado. - Sor Rodrik?
Rodrik Cassei confirmou com a cabeça..
- Sua senhora o espera lá em cima.
Ned sentia-se perdido.
- Catelyn está mesmo aqui? Isto não é uma estranha
brincadeira de Mindinho? - embainhou a faca.
- Bem gostaria que fosse, Stark - Mindinho respondeu. -
Siga-me, e tente parecer um pouco mais devasso e um
pouco menos como a Mão do Rei. Não será bom que seja
reconhecido. Talvez possa acariciar um peito ou outro, só
de passagem.
Entraram por uma sala de estar cheia, onde uma mulher
gorda cantava canções obscenas en quanto bonitas
mulheres vestidas com camisas de linho e panos de seda
colorida se encostavam nos amantes e eram embaladas em
seus colos. Ninguém prestou a menor atenção em Ned. Sor
Rodrik esperou embaixo enquanto Mindinho o levou até o
terceiro andar por um corredor e através de uma porta.
Lá dentro, Catelyn esperava. Gritou quando o viu , correu
para ele e o abraçou ferozmente.
- Minha senhora - sussurrou Ned, assombrado.
- Ah, muito bem - disse Mindinho, fechando a porta. -
Conseguiu reconhecê-la.
- Temi que nunca mais chegasse, senhor - sussurrou ela,
apertada contra seu peito. - Petyr tem me trazido
notícias. Contou-me os problemas com Arya e o jovem
príncipe. Como estão minhas meninas?
- Ambas de luto, e cheias de raiva - Ned respondeu. - Cat,
não compreendo. O que faz em Porto Real? O que
aconteceu? - perguntou Ned à mulher. - E Bran? Ele está...
- morto foi a palavra que veio aos seus lábios, mas não
podia dizê-la.
- É Bran, mas não como pensa - disse Catelyn. Ned não
compreendia.
- Então como? Por que está aqui, meu amor? Que lugar é
este?
- Precisamente o que parece - disse Mindinho, deixando-se
cair numa cadeira perto da janela. - Um bordel. Consegue
imaginar um lugar onde seria menos provável encontrar
uma Catelyn Tully? - ele sorriu. - Por acaso, sou dono
deste estabelecimento específico, portanto, foi fácil fazer
as combinações necessárias. De sejo muito impedir que os
Lannister saibam da pre sença de Cat aqui em Porto Real.
- Por quê? - perguntou Ned. Então viu as mãos da esposa,
o modo estranho como se dobra vam, as cicatrizes de um
vermelho cru, a rigidez dos últimos dois dedos da mão
esquerda. - Você foi ferida - tomou as mãos nas suas e as
virou. - Deuses, estes golpes são profundos... uma fe rida
de uma espada ou... como aconteceu isto, minha senhora?
Catelyn tirou o punhal de dentro do manto e o colocou na
mão dele,
- Esta lâmina estava destin ada a abrir a garganta de Bran
e derramar seu sangue. A cabeça de Ned ergueu -se
abruptamente.
- Mas... quem... por que faria...
Ela pousou um dedo em seus lábios.
- Deixe-me contar tudo, meu amor. Será mais rápido
assim. Escute.
E ele escutou-a contar-lhe tudo, do incêndio na torre da
biblioteca a Varys, aos guardas e ao Mindinho. E quando
terminou, Eddard Stark sentou-se atordoado junto da
mesa, com o punhal na mão. O lobo de Bran salvara a
vida do rapaz, pensou sombriamente. Que tinha Jon dito
quando encontraram os cachorros na neve? Seus filhos estão
destinados a ficar com esta ninhada, senhor. E ele matara a loba
de Sansa, por quê? Seria culpa o que sentia? Ou medo? Se
os deuses tinham enviado aqueles lobos, que loucura ele
tinha feito?
Dolorosamente, Ned forçou os pensamentos a regressar ao
punhal e àquilo que significava.
- O punhal do Duende - repetiu. Não fazia sentido. Sua
mão dobrou-se em torno do suave cabo de osso de dragão,
e ele bateu com a lâmina na mesa, sentindo -a morder a
madeira. Estava ali zom bando dele. - Por que ia querer
Tyrion Lannister ver Bran morto? O rapaz nunca lhe fez
nenhum mal.
- Será que os Stark não têm mais que neve entre as
orelhas? - perguntou Mindinho. - O Duende nunca teria
agido sozinho.
Ned ergueu-se e pôs-se a percorrer o quarto de ponta a
ponta.
- Se a rainha teve um papel nisto ou, que os deuses não o
permitam, o próprio rei... não, não acreditarei nisso -
mas, mesmo enquanto dizia as palavras, recordou -se
daquela manhã gelada nas terras acidentadas, e da
conversa de Robert a respeito de enviar assassinos
contratados no en calço da princesa Targaryen. Lembrou-se
do filho pequeno de Rhaegar, da ruína vermelha de seu
crânio e do modo como o rei lhe virara as costas, tal
como fizera na sala de audiências de Darry não há muito
tempo. Ainda ouvia Sansa suplicando, como Lyanna
suplicara tempos atrás.
- O mais certo é que o rei não soubesse - disse Mindinho.
- Não seria a primeira vez. Nosso bom Robert tem como
prática fechar os olhos a coisas que prefere não ver.
Ned não tinha resposta para aquilo. O rosto do filho do
carniceiro passou na frente dos olhos, quase rachado em
dois, e depois o rei não dissera uma palavra. Sua cabeça
latejava. Mindinho caminhou vagarosamente até a mesa e
arrancou a faca da madeira.
- Seja como for, a acusação constitui traição. Acuse o rei
e dançará com Ilyn Payne antes de as palavras acabarem
de sair de sua boca. A rainha... se forem apresentadas
provas e se for possível fazer com que Robert escute, então,
talvez...
- Temos provas - disse Ned, - Temos o punhal.
- Isto? -Mindinho atirou o punhal ao ar como se nada
fosse. - Um belo bocado de aço, mas corta para dois
lados, senhor. O Duende sem dúvida jurará que a lâmina
foi perdida ou roubada enquanto permaneceram em
Winterfell e, com o seu assassino morto, não haverá
ninguém para desmenti-lo - atirou a faca com ligeireza a
Ned. - Meu conselho é deixar isto cair no rio e esque cer
que chegou a ser forjada.
Ned o olhou com frieza.