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— Oh, não — começou Filby. — Isso é…

— Por quê?

— É contrário à razão.

— Que razão? — quis saber o Viajante do Tempo.

— Você pode encontrar argumentos para demonstrar que o branco é preto, mas não conseguirá convencer-me — disse Filby.

— Talvez não — disse o Viajante do Tempo. — Mas agora vocês começam a perceber o objetivo de minhas pesquisas utilizando a Geometria Quadridimensional. Desde longa data que tenho tido uma vaga idéia a respeito de uma máquina…

— … Para viajar através do Tempo! — exclamou o Rapaz.

— Que viajasse em qualquer direção do Espaço e do Tempo, como o seu operador determinasse.

Filby limitou-se a rir.

— Fiz uma experiência — disse o Viajante do Tempo.

— Uma máquina desse tipo seria excelente para um historiador — sugeriu o Psicólogo. — Poderia voltar ao passado e verificar se os relatos sobre a Batalha de Hastings são autênticos!

— Não acha que chamaria a atenção? — falou o Médico.

— Nossos antepassados não eram muito tolerantes com relação aos anacronismos.

— Poderíamos aprender o grego dos próprios lábios de Homero ou Platão — disse o Rapaz, sonhadoramente.

— Você certamente seria reprovado por eles logo de saída. Os helenistas alemães têm de tal modo aperfeiçoado o grego. .

— E que dizer do futuro? — devaneou o Rapaz. — Imaginem só! Coloca-se todo o dinheiro num investimento, deixa-se acumular os juros — e é só dar um salto à frente!

— Para encontrar uma sociedade — disse eu — erigida sobre princípios estritamente comunistas.

— Tudo teorias extravagantes e fantasiosas! — começou o Psicólogo.

— Era o que também me parecia, por isso nunca falei sobre o assunto, até que..

— Fez a experiência! — gritei. — Vai demonstrar isso?

— A experiência! — exclamou Filby, que já se mostrava fatigado.

— De qualquer forma, vamos a essa experiência — disse o Psicólogo —, embora todos saibamos que não passa de um truque.

O Viajante do Tempo correu os olhos em volta, sorrindo. Depois, sempre com um leve sorriso e as mãos enfiadas profundamente nos bolsos das calças, saiu da sala em passos vagarosos; ouvimos o ruído de suas chinelas ao longo do extenso corredor que levava ao laboratório.

O Psicólogo olhou para nós.

— Que será que ele vai fazer?

— Algum truque de prestidigitação ou algo no gênero — disse o Médico.

E Filby aproveitou para nos falar sobre um conjurado que ele vira em Burslem. Mas antes que acabasse o preâmbulo, o Viajante do Tempo voltou e a história de Filby ficou nesse ponto.

O objeto que o Viajante do Tempo trazia nas mãos era um reluzente mecanismo de metal, pouco maior do que um pequeno relógio de parede, e de delicada construção. Tinha partes de marfim e de alguma substância cristalina transparente.

Agora devo ser perfeitamente claro, pois o que se segue — a menos que se aceite a explicação do Viajante do Tempo — é algo absolutamente incrível. Ele apanhou uma das pequenas mesas octogonais espalhadas pela sala e colocou-a em frente da lareira, com dois pés sobre o pequeno tapete à beira desta. Sobre a mesinha pôs o mecanismo. Depois puxou uma poltrona e sentou-se.

Como único objeto sobre a mesa, além do modelo, e iluminando-o em cheio, havia uma lâmpada provida de abajur. Havia em torno cerca de uma dúzia de velas, duas em castiçais de bronze sobre o consolo da lareira e várias em candelabros de parede, de modo que toda a sala estava brilhantemente iluminada. Sentei-me numa poltrona baixa perto da lareira e puxei-a mais para a frente, de modo quase a ficar entre a lareira e o Viajante do Tempo. Filby sentou-se atrás dele, observando-o por cima do ombro. O Médico e o Prefeito Provincial o observavam de perfil pela direita, o Psicólogo pela esquerda. O Rapaz sentou-se atrás do Psicólogo. Estávamos todos bem alertas. Parece-me inadmissível que, nessas condições, pudéssemos ter sido vítimas de qualquer logro, por mais sutil e habilidoso que fosse.

O Viajante do Tempo fitou cada um de nós e depois se voltou para a máquina.

— E então? — perguntou o Psicólogo.

— Este pequeno objeto — começou o Viajante do Tempo, colocando os cotovelos sobre a mesa e juntando as mãos por cima do aparelho — é apenas um modelo. É o projeto de minha máquina de viajar pelo Tempo. Poderão notar que ela tem uma aparência muito singular e que esta barra aqui tem um brilho estranho, como se fosse algo irreal. — Enquanto falava, ia apontando com o dedo. — Vêem aqui uma pequena alavanca de cor branca, e outra aqui.

O Médico levantou-se e foi olhar o objeto de perto.

— É admiravelmente bem feito — disse.

— Foram necessários dois anos para construí-lo — disse o Viajante do Tempo. E, depois que nós todos, imitando o Médico, nos levantamos e fomos examinar o objeto detidamente, continuou: — Quero agora que os senhores compreendam claramente o seguinte: pressionando-se esta alavanca, a máquina é projetada no futuro; esta outra alavanca inverte o movimento. Esta pequena sela representa o assento do viajante do tempo. Vou pressionar a alavanca, e a máquina irá funcionar. Será projetada no futuro, e desaparecerá. Olhem bem para ela. Examinem também a mesa e certifiquem-se de que não há nenhum embuste. Não desejo desperdiçar este precioso modelo e depois ser chamado de impostor.

Houve um minuto de silêncio. O Psicólogo pareceu que ia falar, mas mudou de idéia. Então o Viajante do Tempo esticou os dedos em direção à alavanca.

— Não — disse de repente. — Dê-me sua mão.

E, voltando-se para o Psicólogo, tomou-lhe a mão e pediu-lhe que estendesse o indicador. De maneira que foi o próprio Psicólogo que pôs em marcha, para sua viagem interminável, o modelo da Máquina do Tempo. Todos nós vimos a alavanca se mover. Tenho absoluta certeza de que não houve trapaça. Ouviu-se um sopro, a chama da lâmpada sobre a mesinha pôs-se a dançar vivamente, uma das velas sobre a lareira apagou-se. De repente, a pequena máquina entrou a girar sobre si mesma, tornou-se indistinta, por um segundo talvez não foi mais que uma fantasmagoria, um brilhozinho turbilhonante de metal e marfim; e desapareceu. Sobre a mesinha restava apenas a lâmpada.

Todos ficaram em silêncio por um minuto. Então Filby soltou uma imprecação.

O Psicólogo voltou a si da estupefação e, de chofre, foi olhar debaixo da mesa. Diante disso o Viajante do Tempo não conteve uma breve gargalhada.

— E então? — perguntou no mesmo tom interrogativo que o Psicólogo usara pouco antes. Levantou-se, apanhou o pote de fumo sobre a lareira e, de costas para nós, começou a encher o cachimbo.

Nós nos entreolhamos, perplexos.

— Diga-me uma coisa — o Médico foi o primeiro a falar —, você está falando sério? Acha, com toda a sinceridade, que essa máquina está realmente viajando no Tempo?

— Sem dúvida! — disse o Viajante do Tempo, abaixando-se para apanhar um tição na lareira. Enquanto acendia o cachimbo, voltou-se e fitou o Psicólogo. (Este, para demonstrar que não estava perturbado, tirou um charuto e tentou acendê-lo sem cortar a ponta.) — E não é só isso — continuou, indicando o laboratório. — Tenho ali dentro uma grande máquina quase terminada. Quando estiver pronta, tenciono viajar eu próprio.