Trata-se de informação que me foi fornecida ao longo do tempo, mas que, para os efeitos deste livro, não passa de informação "ficcional". Este livro é um romance, isso é "ficção".
O processo do Tribunal Penal Internacional contra os responsáveis pela crise por crimes contra a humanidade é igualmente, e como parece óbvio, pura ficção. Esse processo não existe, não há qualquer lista de suspeitos. Mas pareceu-me que faria sentido usar a ficção para pôr a justiça a fazer uma coisa que na vida real não faz: apurar responsabilidades pela crise. É um facto que todos somos responsáveis pelo que aconteceu, nem que seja pelo facto de votarmos em quem votamos ou até por nos abstrairmos em absoluto da actividade política, por desinteresse ou nojo, atitude que na prática significa que a deixamos nas mãos de pessoas que não conhecemos verdadeiramente — pessoas amiúde desqualificadas e por vezes corruptas. Mas, ao dizermos que somos todos responsáveis, seria errado presumir que somos todos igualmente responsáveis. Não somos. A responsabilidade de um primeiro-ministro, de um ministro das Finanças ou do governador de um banco central é muito diferente da responsabilidade 528
da minha mãe, por exemplo, que está reformada. Ou da sua responsabilidade, caro leitor.
Para a escrita deste livro consultei várias obras cujos títulos me parece importante partilhar para quem procure leituras adicionais. Assim, sobre a crise financeira, as principais fontes bibliográficas foram Freefall —America, Free Markets, and the Sinking of the World Economy, de Joseph Stiglitz; Crisis Economics — A Crash Course in the Future of Finance, de Nouriel Roubini e Stephen Milim; e uma série de ensaios publicados por Jeffrey Friedman em What Caused the Financial Crisis, designadamente "Capitalism and the Crisis: Bankers, Bonuses, Ideology, and Ignorance", de Jeffrey Friedman; "An Accident Waiting to Happen: Securities Regulation and Financial Deregulation", de Amar Bhidé; "Monetary Policy, Credit Extension, and Housing
Bubbles, 2008 and 1929", de Steven Gjerstad e Vernon Smith; "The Anatomy of a Murder: Who Killed the American Economy?", de Joseph Stiglitz; "Monetary Policy, Economic Policy, and the Financial Crisis: An Empirical Analysis of What Went Wrong", de John Taylor; "Housing Initiatives and Other Policy Factors", de Peter Wallison; "How Securitization Concentrated Risk in the Financial Sector", de Vira! Acharya e Matthew Richardson; "A Regulated Meltdovvn: The Base! Rides and Bank's Leverage", de Juliusz Jablecki e Mateusz Machaj; "The Credit-Rating Agencies and the Subprime Debacle", de Lawrence White; e "Credit-Default Swaps and the Crisis", de Peter Wallison. Destaque ainda para o documentário Inside Job, de Charles Ferguson.
Sobre a crise do euro e das dívidas soberanas, as principais leituras foram Bust — Greece, the Euro, and the Sovereign Debt Crisis, de Matthew Lynn; The End of the Euro — The Uneasy Future of the European Union, de Johan van Overtveldt; A Tragédia do Euro, de Philipp Bagus; The Imminent Crisis — Greek Debt and the Collapse of the European Monetary Union, de Grant Wonders; Endgame — The End of the Debt Supercycle and how it Changes Everything, de John Mauldin e Jonathan Tepper; This Time Is 529
Different Eight Centuries of Financial Folly, de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff; e ainda o estudo "Back to Mesopotamia? — The Looming Threat of Debt Restructuring", de David Rhodes e Daniel Stelter.
Sobre a crise portuguesa especificamente, as obras de referência para este romance foram O Fim da Ilusão, de Medina Carreira; Perceber a Crise para Encontrar o Caminho, de Vítor Bento; Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro, de Carlos Moreno; As 10 Questões da Crise, de João César das Neves; Portugaclass="underline" Dívida Pública e Défice Democrático, de Paulo Trigo Pereira; Acabou-se a Festa, de Pedro Cosme Vieira; A Dividadura — Portugal na Crise do Euro, de Francisco Louçã e Mariana Mortágua; Só Um Milagre nos Salva — A Verdade sobre a Crise Portuguesa e a Sua Solução, de Joaquim Vieira; Economia Portuguesa — As Últimas Décadas, de Luciano Amaral; Má Despesa Pública, de Bárbara Rosa e Rui Oliveira Marques; Segurança Social —O Futuro Hipotecado, de Fernando Ribeiro Mendes; Olhos nos Olhos, de Medina Carreira e Judite Sousa; e ainda o estudo "O euro e o crescimento da economia portuguesa: uma análise contrafactual", de Luís Aguiar-Conraria, Fernando Alexandre e Manuel Correia de Pinho.
Por contributos vários que enriqueceram esta obra são devidos agradecimentos a Henrique Medina Carreira, antigo ministro das Finanças; a João Sáàgua, director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; ao advogado Fernando Carvalho; a Paulo Teixeira de Morais, vice-presidente da Associação Transparência e Integridade; a Marina Ramos, antiga editora de Economia da RTP; e a pessoas de uma lista imensa de fontes anónimas que alimentaram o livro de informações menos conhecidas, de desempregados a empresários, banqueiros e antigos governantes, a juristas e magistrados que trabalham na área da corrupção e gestores e técnicos que lidam ou lidaram com investimentos públicos de contornos pouco claros.
Uma palavra final de apreço às minhas muitas editoras, de Lisboa a Atenas, de Roma a Nova Iorque, de Banguecoque a Moscovo, pelo entusiasmo que dedicam à publicação e à promoção dos meus romances. Um 530
agradecimento também aos meus agentes literários em Madrid, Nova Iorque, Hamburgo e Estocolmo, e a Massimo, o meu guia em Florença. Ao meu irmão, João, com quem tanto discuto sobre tudo o que nos está a acontecer. E, por fim, à Florbela, sempre a minha primeira leitora.
Já agora, quando lá atrás disse que o conteúdo do DVD revelado no final do romance era "ficção", espero, amigo leitor, que tenha estado atento e reparado na forma como escrevi a palavra "ficção".
Entre aspas, claro.
531
Para que o mal triunfe
basta que os homens bons
nada façam.
Edmund Burke
532
Document Outline
Prólogo
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
XIII
XIV
XV
XVI
XVII
XVIII
XIX
XX
XXI
XXII
XXIII
XXIV
XXV
XXVI
XXVII
XXVIII
XXIX
XXX
XXXI
XXXII
XXXIII
XXXIV
XXXV
XXXVI
XXXVII