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S o u u m a m er a o p e r a c i o nal d a I n t e r p ol. " "Então porque a contactou ele?"

"Precisava de protecção. Para quê, não sei."

O elevador chegou ao segundo andar e Tomás abriu a porta, virou-se para a espanhola e, com um gesto galante, fez-lhe uma vénia.

"Faça o favor."

Quando levantou os olhos, viu-a fitá-lo com uma expressão tensa, de predador, gata transformada em fera, uma pistola na mão apontada para ele.

"Quieto, cabrón!", rosnou ela, os olhos verde-claros a chisparem fogo. "Foste apanhado!"

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XXXI

O s t r ê s h o m e n s d e n e g r o p e r c o r r e r a m a m a n g a d o avião em passo apressado e desembocaram no terminal do Ae r op o r to d e Ba raj as , e m Mad rid. Ca mi nhan do à frente, Decarabia ligou o telemóvel enquanto caminhava e aguardou que o aparelho apanhasse rede. Seguiram as setas a indicar Salida e imobilizaram-se diante do tapete rolante com as bagagens. O tilintar de sucessivos SMS a chegarem ao telemóvel foi o sinal de que a ligação estava estabelecida.

Olhou para o ecrã do aparelho e viu uma sucessão de mensagens engarrafadas. As três primeiras eram informações das operadoras a darem-lhe as boas-vindas a Espanha e a comunicarem-lhe as tarifas de roaming. Apagou essas mensagens e passou para as duas seguintes; tratava-se de vários telefonemas do mesmo número, que reconheceu de imediato. Carregou no botão verde e a chamada para esse número foi devolvida.

"Sou eu, grande Magus", disse Decarabia logo que atenderam do outro lado. "Chegámos agora. Tentou falar comigo?"

"Sim, Decarabia. O nosso contacto secreto dentro da Interpol acabou de me enviar a informação solicitada. Ele conseguiu acesso ao ficheiro confidencial da nossa amiga."

"E então?"

"Parece que essa Raquel de la Concha é uma recruta promissora.

Boa na sedução e traiçoeira nas operações. Usam-na sobretudo como isco para atrair os suspeitos." Pigarreou. "Há no entanto um problema.

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A gaja meteu férias esta semana."

"Porra! Onde foi ela?"

A voz na linha manteve um tom neutro.

"A informação não consta do ficheiro, como é evidente", disse Magus.

"Mas conseguimos penetrar no endereço pessoal dela na Internet e vimos que a tipa alugou um apartamento numa terriola a sul de Madrid."

"Excelente! Tem a morada?"

"Calle Velázquez", foi a resposta, com indicação do número de porta do prédio e do andar. "Isto é num sítio chamado Seseria."

"Mais alguma coisa?"

"É tudo. Desta vez não falhes, ouviste?"

O homem no Aeroporto de Barajas ia responder, mas a linha morreu nesse instante. Magus tinha desligado.

O operacional guardou o telemóvel no bolso e, com recurso a um iPad, entrou na Internet e digitou o nome da terra que o líder da organização lhe dera. Um mapa de Espanha encheu de imediato o ecrã. Decarabia deslocou o dedo para baixo de Madrid e, a meio caminho de Toledo, uns quarenta quilómetros a sul da capital, lá estava o que procurava.

Sesefia.

Decarabia endireitou-se e, no meio da bagagem de todos os passageiros, viu a mala diplomática saltar para o tapete rolante; era ali que vinham as armas. Inspirou cheio de confiança e sorriu.

"A caçada começou."

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XXXII

O cano escuro da pistola permanecia voltado para Tomás. O

historiador sentara-se na cadeira que Raquel lhe indicara e sentia-se infinitamente nervoso por estar sob a mira da arma; quem lhe garantia que, devido a um tropeção ou a qualquer outro incidente, ela não premia acidentalmente o gatilho?

"Isto é ridículo!", considerou. "Faça o favor de afastar essa arma, isso ainda pode..."

"Cale-se!", cortou a espanhola numa voz ameaçadora e autoritária. "Nem se atreva a fazer uni gesto brusco, ouviu?"

Intimidado, Tomás obedeceu. Fora revistado com as mãos encostadas à parede e algemado antes de ser atirado para o sofá, atónito com a forma como havia sido traído; não lhe dissera Filipe que esta rapariga era de confiança? O que mais o incomodava, porém, era a pistola; não conseguia desviar os olhos do cano.

A sua captora sentou-se diante dele e cruzou as pernas, ficando a contemplá-lo em silêncio; parecia estar a ponderar as suas opções e a decidir o que faria.

"O que se passa?", arriscou ele. "Porque me algemou?" Raquel manteve o olhar de gata cravado nele.

"Estou aqui a debater-me com uma dúvida", revelou num tom mordaz. "Devo matá-lo ou entregá-lo à polícia portuguesa?" Uma luzinha cintilou-lhe na íris. "O que acha?"

Assim postas as coisas, a opção preferível parecia-lhe a segunda.

Mas Tomás percebeu que não poderia entrar naquele jogo, teria de 221

entender primeiro o que estava a acontecer para poder lidar com a situação.

"Qual é o seu problema?"

A pergunta enrubesceu a espanhola.

"Como se atreve a fazer essa pergunta?", rugiu ela, o olhar a chispar fúria. "Aconselho-o a não brincar comigo."

"Não estou a brincar com ninguém", retorquiu o português de uma forma categórica. "Não percebo o que se está a passar e agradecia que me esclarecesse, se fizer o favor."

Raquel fitou-o com atenção, esforçando-se por lhe ler a expressão do rosto. A convicção que captou deixou-a um tudo-nada desconcertada.

"O senhor é um assassino", acabou por dizer, talvez com menor firmeza do que gostaria. "Matou o Filipe e veio aqui..."

"Eu matei o Filipe?"

O olhar de Tomás ateou-se com uma expressão de tão genuíno escândalo que a sua interlocutora voltou a vacilar. Puxou o computador portátil que tinha pousado sobre a mesa e começou a digitar no teclado com a mão esquerda, a direita sempre a segurar a pistola.

"Depois do seu telefonema esta manhã contactei o meu serviço para verificar se teria havido algum assassínio em Lisboa", revelou.

"Como deve calcular, a notícia que me deu deixou-me em estado de choque. A resposta veio pouco depois por e-mail. Filipe tinha de facto sido morto e a polícia portuguesa emitiu um mandado de captura com o nome do assassino. Mandaram-me a fotografia que Lisboa enviou para a Interpol com o rosto do suspeito. Quando há ROUCO

você veio ter comigo ao Café Nirvana, pode imaginar a minha surpresa ao deparar-me com a sua cara."

Virou o computador para o português com a imagem difundida pela Polícia Judiciária. Previsivelmente, o ecrã mostrava o seu próprio 222

rosto.

"Não sei como explicar-lhe isto", murmurou ele. "Mas eu não matei o Filipe."

"Então como justifica que a polícia do seu país esteja a difundir a sua imagem e o seu nome?"

"Não sei explicar", confessou. "Mas tenho uma teoria. O Filipe deu-me a entender que a sua investigação mexia com pessoas muito poderosas. Tenho de concluir que são suficientemente poderosas para manipular a polícia portuguesa e lançá-la contra mim."

Raquel considerou o argumento.

"Suponhamos que essa teoria é verdadeira", propôs ela. "Porque fariam isso?"