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Atrás dela estavam o silêncio e a escuridão esfumaçada, uma cortina imóvel que escondia as estrelas mais distantes. Uma nuvem de pó e gases, ele pensou. O Véu do Tentador.

O começo veio muito depois do fim: uma jóia-sussurrante.

Estava enrolada em camadas de folhas prateadas e suave veludo escuro, do mesmo jeito que ele a presenteara anos atrás. Desfez o pacote naquela noite, sentado diante da janela do quarto que dava para o largo canal turvo onde mercadores conduziam barcaças de frutas sem parar, para cima e para baixo. A gema era exatamente como Dirk se lembrava: de um vermelho profundo, com finas linhas negras e o formato de uma lágrima. Recordava-se do dia em que o ésper talhara a pedra para ele, ainda em Ávalon. Tocou-a depois de um longo tempo.

Era suave e muito fria em contato com a ponta do dedo, e, bem fundo em seu cérebro, ela sussurrou lembranças e promessas que não havia esquecido.

Ele não estava em Braque por alguma razão em particular, e nunca soube como o encontraram. Mas encontraram, e Dirk t'Larien estava com a jóia novamente.

- Gwen - disse em silêncio, para si mesmo, apenas para pronunciar a palavra novamente e sentir o calor familiar na língua. Sua Jenny, sua Guinevere, senhora de sonhos abandonados.

Fora sete anos-padrão atrás, ele pensou, enquanto seu dedo acariciava a joia fria, fria. Mas parecia que haviam se passado sete vidas. E tudo estava acabado. O que ela poderia querer com ele agora? O homem que a amara, aquele outro Dirk t'Larien, um fazedor de promessas e presenteador de jóias, estava morto.

Dirk ergueu a mão para empurrar uma mecha de cabelo castanho-grisalho para longe dos olhos. E, repentinamente, sem querer, lembrou-se de como Gwen afastava o cabelo dele sempre que pretendia beijá-lo. Sentiu-se então cansado e muito perdido.

O cinismo que cuidadosamente alimentara estremeceu, e um peso caiu sobre seus ombros, um peso fantasma, o peso da pessoa que havia sido certa vez e que já não era mais. Ele havia realmente mudado ao longo dos anos e chamara isso de "ficar mais sábio", mas, agora, toda a sabedoria pareceu azedar abruptamente. Seus pensamentos errantes o levaram a todas as promessas que quebrara, aos sonhos que adiara e então deixara de lado, aos ideais comprometidos, ao futuro brilhante perdido para o tédio e para a podridão.

Por que ela o fazia se lembrar? Muito tempo passara, muita coisa acontecera com ele - provavelmente com ambos. Além disso, ele nunca quis realmente que ela usasse a joia-sussurrante. Fora um gesto estúpido, a atitude típica de um jovem romântico. Nenhum adulto razoável poderia levar a sério um juramento tão absurdo. Ele não podia ir, é claro. Mal encontrava tempo para ver Braque, tinha sua própria vida e coisas importantes para fazer. Depois de todo esse tempo, Gwen não podia esperar que ele embarcasse para os mundos exteriores.

Ressentido, estendeu a mão, pegou a jóia e fechou o punho com força ao redor da pequena pedra. Poderia jogá-la pela janela - decidiu -, dentro das águas escuras do canal, para bem longe, com tudo o que ela significava. Mas uma vez dentro de sua mão, a gema era um inferno de gelo, e as lembranças eram facas. ... porque ela precisa de você, a jóia sussurrava. Porque você prometeu. Sua mão não se moveu. Seu punho permaneceu fechado. O frio contra sua palma foi além da dor, até a dormência.

O outro Dirk, o jovem, o Dirk de Gwen. Ele prometera. Mas ela também, ele se lembrou. Havia muito tempo, em Ávalon. O velho ésper, um emereliano enrugado com um talento menor e cabelos vermelho-dourados, havia talhado duas jóias. Ele lera Dirk t'Larien, sentira todo o amor que Dirk tinha por sua Jenny, e colocara tanto disso na gema quanto seus pobres poderes psiônicos o permitiram fazer. Mais tarde, fizera o mesmo para Gwen. Então eles trocaram as jóias.

Fora idéia de Dirk. Pode não ser sempre assim, dissera para ela, citando um antigo poema. Então ambos prometeram: Envie esta lembrança, e eu virei. Não importa onde eu esteja, ou quando, ou o que tiver se passado entre nós. Eu virei, e não farei perguntas.

Mas era uma promessa quebrada. Seis meses depois que ela o deixara, Dirk lhe enviou sua joia. Ela não veio. Depois disso, jamais esperou que invocasse a promessa dele. Mesmo assim, agora ela o fez. Ela realmente esperava que ele fosse?

E ele sabia, com tristeza, que o homem que fora naquela época, aquele homem iria até ela, não importava o quê, mesmo o quanto pudesse odiá-la - ou amá-la. Mas aquele tolo fora enterrado havia muito tempo. O tempo e Gwen o haviam matado.

Mas ainda ouvia a jóia, e sentia seus antigos sentimentos e seu novo cansaço. E, finalmente, ergueu os olhos e pensou, Bem, apesar de tudo, talvez não seja tarde demais.

Há muitas maneiras de se mover entre as estrelas, algumas são mais rápidas do que a luz, outras não, mas todas são lentas. Leva quase a vida inteira para viajar de um extremo do reino humano ao outro, e o reino humano - os mundos dispersos da humanidade e o grande vazio entre eles - é a menor parte da galáxia. Mas Braque estava perto do Véu e dos mundos exteriores além dele, e havia algum comércio indo e vindo, então Dirk pôde encontrar uma nave.

Chamava-se Tremor de Inimigos Esquecidos, ia de Braque para Tara, depois pelo Véu até Tocadolobo e então para Kimdiss e, finalmente, para Worlorn. A viagem, ainda que a velocidades MRL, levou mais de três meses-padrão. Depois de Worlorn, Dirk sabia, o Tremor partiria para Alto Kavalaan, di-Emerel e para as Últimas Estrelas, antes de voltar e começar a traçar novamente sua rota tediosa.

O porto espacial fora construído para abrigar vinte naves por dia; agora recebia talvez uma por mês. A maior parte do lugar estava fechada, escura, abandonada. O Tremor aterrissou no meio de uma pequena parte que ainda funcionava, gigantesco perto de um grupo de naves privadas e de um cargueiro toberiano parcialmente desmantelado.

Uma parte do vasto terminal automatizado e sem vida estava ainda bastante iluminada, mas Dirk atravessou-o apressadamente, em direção à noite, uma noite vazia do mundo exterior, que clamava pela falta de estrelas. Estavam ali, esperando por ele, atrás das portas principais, mais ou menos como Dirk imaginara. O capitão do Tremor havia anunciado sua chegada assim que a nave saíra do hiperespaço.

Gwen Delvano veio ao encontro dele, como ele pedira a ela que fizesse. Mas não estava sozinha. Gwen e o homem que trouxera consigo estavam conversando entre si em voz baixa e cautelosa quando ele saiu do terminal.

Dirk parou assim que cruzou a porta, sorriu tão facilmente quanto conseguiu e deixou cair a única mala leve que trazia.

- Ei - disse, suavemente. - Ouvi dizer que há um Festival por aqui.

Ela se virou ao som da voz dele e começou a rir, uma tão bem lembrada risada.

- Não - ela respondeu. - Você está dez anos atrasado.

Dirk fez uma careta e balançou a cabeça.

- Que inferno - disse; então sorriu novamente. Ela foi até ele, e se abraçaram. O outro homem, o estranho, ficou parado, observando impassível.

Foi um abraço curto. Nem bem Dirk a rodeou com os braços e Gwen se afastou. Depois de se separarem, permaneceram muito próximos, olhando um para o outro para ver o que os anos haviam feito.

Ela estava mais velha, mas ainda era a mesma, e as mudanças que ele via eram provavelmente apenas falhas da sua memória. Os grandes olhos verdes não eram tão verdes nem tão grandes quanto ele lembrava, e ela era um pouco mais alta do que ele recordava, e talvez um pouco mais pesada. Mas as diferenças não eram muitas; ela sorria do mesmo jeito, e o cabelo dela era o mesmo, fino e escuro, caindo pelos ombros em uma cintilante cascata mais escura do que a noite no mundo exterior. Estava vestida com um pulôver branco de gola alta e calças de um grosso tecido-camaleão, agora negro como a noite, e uma tiara grossa, como gostava de usar em Avalon. Usava um bracelete também, e isso era novo. Ou talvez o nome correto fosse braçadeira. Era uma coisa maciça, de prata incrustada com jade, que cobria metade de seu antebraço esquerdo. A manga do pulôver estava enrolada para mostrar o objeto.