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- Você é Dirk t'Larien e, certa vez, foi amante de Gwen.

- E você é Jaan.

- Jaan Vikary, do grupo Jadeferro - o outro respondeu. Deu um passo adiante e ergueu as mãos, com as palmas para fora e abertas.

Dirk conhecia o gesto de algum lugar. Levantou-se e pressionou as palmas de suas próprias mãos contra as do kavalariano. Quando fez isso, notou algo mais. Jaan usava um cinto de metal negro lustroso, e uma pistola de laser pendia ao do lado de seu corpo.

Vikary notou seu olhar e sorriu.

- Todos os kavalarianos andam armados. É um costume... um que valorizamos. Espero que você não fique tão chocado e impressionado quanto o amigo de Gwen, o kimdissiano. Se ficar, é sua culpa, não nossa. Larteyn é parte de Alto Kavalaan, e não esperamos que nossa cultura se adapte à sua.

Dirk sentou-se novamente.

- Não. Talvez eu devesse esperar por isso, pelo que ouvi noite passada. Mas acho estranho. Há guerra em algum lugar?

Vikary deu um sorriso muito tênue, um quase deliberado mostrar de dentes.

- Sempre há guerra em algum lugar, t'Larien. A vida em si é uma guerra. - Fez uma pausa. - Seu nome: t'Larien. Incomum. Nunca tinha ouvido antes, nem meu teyn, Garse. Qual é seu mundo natal?

- Baldur. Muito longe daqui, do outro lado da Antiga Terra. Mas eu mal me lembro dele. Meus pais foram para Ávalon quando eu era muito jovem.

Vikary assentiu.

- E você tem viajado, Gwen me contou. Que mundos viu?

Dirk deu de ombros.

- Prometeus, Rhiannon, Estarrocha, Mundo de Jamison, entre outros. Ávalon, é claro. Uma dúzia no total, a maioria lugares mais primitivos do que Ávalon, onde meu conhecimento é necessário. Normalmente é fácil encontrar trabalho se você esteve no Instituto, mesmo para quem não é especialmente habilidoso ou talentoso. Bom para mim. Gosto de viajar.

- Mesmo assim, nunca esteve além do Véu do Tentador até agora. Apenas nos devascados, e nunca nos mundos exteriores. Encontrará coisas diferentes aqui, t'Larien.

Dirk franziu o cenho.

- Qual a palavra que você usou? Devascados?

- Os devascados - Vikary repetiu. - Ah, gíria lupina. Os mundos devascados, os mundos devastados, como você preferir. Uma expressão que peguei dos vários lupinos que estavam entre meus amigos durante meus estudos em Ávalon. Refere-se à esfera estelar entre os mundos exteriores e a primeira e segunda gerações de colônias próximas da Antiga Terra. Foi nos devascados que os hranganos saturaram as estrelas, governaram seus mundos- -escravos e lutaram contra os Imperiais da Terra. A maioria dos planetas que você nomeou era conhecida, então, e foi duramente afetada pela antiga guerra e devastada até o colapso. A própria Ávalon é uma colônia de segunda geração, antigamente a capital do setor. Há alguma distinção, você crê, para um mundo tão distante nestes séculos destruídos após o interregno?

Dirk acenou com a cabeça em concordância.

- Sim. Conheço a história, um pouco dela. Você parece conhecer bastante.

- Sou historiador. - Vikary respondeu. - A maior parte do meu trabalho foi devotada a separar a história dos mitos em meu próprio mundo, Alto Kavalaan. Jadeferro me mandou para Ávalon com grande custo para pesquisar os bancos de dados dos antigos computadores com esse exato propósito. Mesmo tendo passado dois anos de estudos lá, tinha muito tempo livre e desenvolvi um interesse na história mais ampla do homem.

Dirk não falou nada, mas olhou novamente para o amanhecer. O disco vermelho do Satã Gordo estava meio erguido agora, e uma terceira estrela amarela podia ser vista. Estava um pouco mais ao norte do que as demais e era apenas uma estrela.

- A estrela vermelha é uma supergigante - Dirk murmurou -, mas daqui parece apenas um pouco maior do que o sol de Ávalon. Deve estar muito longe. Devia estar mais frio, o gelo devia estar aqui agora. Mas está apenas fresco.

- Isso é feito nosso - Vikary lhe contou com algum orgulho. - Não de Alto Kavalaan, na verdade, mas trabalho do mundo exterior mesmo assim. Os toberianos preservaram muito da tecnologia do escudo de força dos Imperiais da Terra, perdida durante o Colapso, e a incrementaram ao longo dos séculos. Sem o escudo deles, nenhum Festival poderia ter sido feito. No perié- lio, o calor da Coroa do Inferno e do Satã Gordo teria queimado a atmosfera de Worlorn e fervido o mar, mas o escudo de Tober bloqueou essa fúria e tivemos um longo e brilhante verão. Agora, da mesma maneira, ele ajuda a manter o calor. Mesmo assim, tem seus limites, como tudo mais. O frio virá.

- Não pensei que fôssemos nos conhecer assim. - Dirk comentou. - Por que veio aqui em cima?

- Uma possibilidade. Há muitos anos, Gwen me contou que você gostava de assistir ao amanhecer. E outras coisas também, Dirk t'Larien. Sei mais sobre você do que você sobre mim.

Dirk riu.

- Bem, isso é verdade. Não sabia da sua existência até a noite passada.

O rosto de Jaan Vikary estava duro e sério.

- Mas eu existo. Lembre-se disso, e poderemos ser amigos. Esperava encontrá-lo sozinho e conversar com você antes que os demais acordassem. Aqui não é Ávalon, t'Larien, e hoje não é ontem. Este é um mundo agonizante, um mundo sem códigos, então cada um de nós deve se segurar firmemente a qualquer que seja o código que tenha consigo. Não teste o meu. Desde meus anos em Ávalon, tentei pensar em mim mesmo como Jaan Vikary, mas ainda sou um kavalariano. Não me obrigue a ser Jaantony Riv Lobo Alto-Jadeferro Vikary.

Dirk se levantou.

- Não estou certo sobre o que você quer dizer - falou. - Mas acho que posso ser cordial o suficiente. Certamente não tenho nada contra você, Jaan.

Aquilo pareceu satisfazer Vikary Ele assentiu lentamente e colocou a mão no bolso da calça.

- Um emblema da minha amizade e apreço por você - disse. Em sua mão estava um broche de metal negro, uma pequena arraia. - Usará enquanto estiver aqui?

Dirk pegou o presente de sua mão.

- Se é o que deseja - disse, sorrindo para o outro formalmente. Colocou o broche no colarinho.

- O amanhecer é triste aqui - Vikary comentou -, e o dia não é muito melhor. Vamos descer até nossos aposentos. Despertarei os outros e poderemos comer.

O apartamento que Gwen dividia com os dois kavalarianos era imenso. A sala de estar de pé direito alto era dominada por uma lareira de dois metros de altura e duas vezes esse comprimento, e acima havia uma cornija de ardósia onde furiosas gárgulas empoleiradas vigiavam as cinzas. Vikary fez Dirk passar por elas, cruzando um extenso tapete negro, até uma sala de jantar que era quase tão grande quanto a anterior. Dirk sentou-se em uma cadeira de madeira de espaldar alto, uma entre doze que estavam ao redor da grande mesa, enquanto seu anfitrião foi buscar comida e companhia.

Voltou em pouco tempo, trazendo uma travessa de carne fatiada em tiras finas e uma cesta de biscoitos frios. Colocou-as diante de Dirk, virou-se e partiu novamente.

Nem bem ele se foi, outra porta se abriu, e Gwen entrou sorrindo sonolentamente. Ela vestia uma velha tiara, calças desbotadas e uma blusa verde folgada com amplas mangas. Ele podia ver o brilho de seu pesado bracelete jade-e-prata, apertado em seu braço esquerdo. Com ela, um passo atrás, vinha outro homem, quase tão alto quanto Vikary, mas muitos anos mais jovem e muito mais esbelto, vestido com um macacão de mangas curtas de tecido-camaleão marrom-avermelhado. Ele olhou para Dirk com intensos olhos azuis, os olhos mais azuis que Dirk já vira, incrustados em um rosto delgado e de traços finos sob uma abundante barba ruiva.

Gwen se sentou. O barba ruiva parou na frente da cadeira de Dirk.

- Sou Garse Jadeferro Janacek - disse. Ofereceu suas palmas. Dirk levantou-se para pressioná-las.

Garse Jadeferro Janacek, Dirk reparou, usava uma pistola laser na cintura, pendurada em um coldre de couro em um cinto de malha de aço prateado. Ao redor de seu antebraço direito estava um bracelete negro, gêmeo do de ferro de Vikary, e que parecia ser pedrardente.