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- A maioria dos kavalarianos pensa nos banshees apenas como uma praga e uma ameaça. - Jaan Vikary explicou. - Em seu habitat, é um freqüente matador de homens, e os caçadores de Braith, Açorrubro e do grupo Shanagate pensam na caça ao banshee como a última palavra em competição, com uma única exceção. Jadeferro sempre foi diferente. Há um mito antigo, do tempo em que Kay Ferro-Ferreiro e seu teyn Roland Lobo-Jade lutavam sozinhos contra um exército de demônios das Colinas de Lameraan. Kay havia caído, e Roland, de pé ao seu lado, estava se enfraquecendo, quando os banshees vieram por sobre as colinas, muitos deles voando juntos, negros e numerosos o suficiente para bloquear o sol. Lançaram-se avidamente sobre o exército de demônios e devoraram todos eles, um por um, deixando Kay e Roland vivos. Mais tarde, quando aquele teyn-e-teyn encontrou sua cova de mulheres e estabeleceu o primeiro grupo Jadeferro, o banshee tornou-se sua besta-irmã e emblema. Nenhum Jadeferro jamais matou um banshee, e as lendas dizem que sempre que um homem do grupo está correndo perigo de vida, um banshee aparecerá para guiá-lo e protegê-lo.

- Uma bela história - Dirk falou.

- É mais do que uma história - Janacek disse. - Há um laço entre Jadeferro e os banshees, t'Larien. Talvez seja psiônico, talvez as coisas sejam sencientes, talvez seja puro instinto. Não pretendo saber. Mesmo assim, o laço existe.

- Superstição - comentou Gwen. - Você realmente não deve pensar tão mal de Garse. Não é culpa dele que não teve muita educação.

Dirk espalhou calda sobre um biscoito e olhou para Janacek.

- Jaan mencionou que era historiador, e eu sei o que Gwen faz - disse. - E você? O que você faz?

Os olhos azuis o encararam friamente. Janacek não disse nada.

- Tenho a impressão - Dirk falou, continuando - de que você não é um ecologista.

Gwen riu.

- Essa impressão é assustadoramente correta, t'Larien - Janacek respondeu.

- O que está fazendo em Worlorn, então? E, falando nisso - voltou seu olhar para Jaan Vikary -, o que um historiador pode encontrar em um lugar como este?

Vikary envolveu sua caneca de cerveja com as grandes mãos e bebeu pensativamente.

- Isso é bastante simples - disse. - Sou um alto-senhor kavalariano do grupo Jadeferro, ligado a Gwen Delvano por jade-e-prata. Minha betheyn foi mandada para Worlorn pelo voto do conselho dos altos-senhores, então é natural que eu esteja aqui também, e meu teyn. Entende?

- Acho que sim. Vocês fazem companhia para Gwen, então?

Janacek aparentou muita hostilidade.

- Nós protegemos Gwen - disse friamente. - Normalmente, das próprias tolices. Ela não devia estar aqui, mesmo assim está, então devemos ficar aqui também. Quanto à sua questão anterior, t'Larien, sou um Jadeferro, teyn de Jaantony Alto-Jadeferro. Posso fazer qualquer coisa que meu grupo exija de mim: caçar, plantar, duelar, guerrear contra nossos inimigos, fazer bebês na barriga de nossas eyn-kethi. É isso o que eu faço. O que eu sou você já sabe. Eu lhe disse meu nome.

Vikary o olhou de soslaio e o fez se calar com um curto movimento de sua mão direita.

- Pense em nós como turistas atrasados. - falou para Dirk. - Estudamos e andamos por aí, percorremos os bosques e as cidades mortas, nos divertimos. Podíamos engaiolar banshees para mandá-los de volta a Alto Kavalaan, mas ainda não fomos capazes de encontrar nenhum. - Ergueu-se e terminou de tomar sua cerveja. - O dia passa e continuamos sentados - disse, depois de colocar a caneca na mesa. - Se vocês querem ir para os bosques, devem sair logo. Leva tempo cruzar as montanhas, mesmo no aeromóvel, e não é sábio permanecer por lá depois que escurece.

- Não? - Dirk terminou sua cerveja e limpou a boca com as costas da mão. Guardanapos não pareciam fazer parte do serviço de mesa de um kavalariano.

- Os banshees nunca foram os únicos predadores em Worlorn - Vikary contou. - Há animais assassinos e assediadores de catorze mundos nos bosques, e eles são o menor perigo. Os piores são os humanos. Worlorn é um mundo fácil e vazio hoje, e suas sombras e desertos estão cheios de estranhezas.

- Seria melhor se estivessem armados - Janacek falou. - Ou, melhor ainda, Jaan e eu podemos ir com vocês, para o bem da sua segurança.

Mas Vikary sacudiu a cabeça.

- Não, Garse. Eles devem ir sozinhos e conversar. É melhor desse jeito, entende? É meu desejo. - Então pegou alguns pratos e caminhou em direção à cozinha. Mas, perto da porta, parou e olhou sobre os ombros, e seus olhos encontraram rapidamente os de Dirk.

E Dirk lembrou-se de suas palavras, lá fora, no teto, ao amanhecer. Eu existo, Jaan dissera. Lembre-se disso.

- Há quanto tempo você não voa em um aeropatinete? - Gwen lhe perguntou pouco tempo depois, quando se encontraram no telhado. Ela vestira um macacão de tecido-camaleão, uma vestimenta cinturada que a cobria de um escuro vermelho-acinzentado das botas ao pescoço. A tiara que mantinha seus cabelos negros no lugar era do mesmo tecido.

- Não ando nisso desde que era criança, em Ávalon - Dirk respondeu. Sua própria roupa era gêmea da dela; Gwen lhe dera para que pudessem se camuflar na floresta. - Mas tenho vontade de tentar. Eu costumava ser muito bom.

- Vamos nessa, então - Gwen falou. - Não seremos capazes de ir muito longe ou muito rápido, mas isso não importa. - Ela abriu o baú de carga do aeromóvel cinza em formato de arraia e tirou dois pequenos pacotes prateados e dois pares de botas.

Dirk sentou-se na asa do aeromóvel novamente, enquanto colocava as novas botas e amarrava-as. Gwen desdobrou os patinetes, duas pequenas plataformas metálicas brandas e finas, largas o suficiente para apoiar os pés. Quando colocou as plataformas no chão, Dirk pôde seguir com a vista os cabos entrecruzados dos controles de gravidade localizados na parte inferior. Subiu em um deles, posicionou os pés cuidadosamente, e as solas de metal de suas botas se travaram firmemente no lugar, enquanto a plataforma ficava rígida. Gwen lhe deu o dispositivo de controle, e ele o prendeu à cintura, de modo que ficasse ao alcance da palma da mão.

- Arkin e eu usamos os patinetes para andar pelos bosques. - Gwen lhe contou enquanto se agachava para prender as próprias botas. - Um aeromóvel tem uma velocidade dez vezes maior, é claro, mas nem sempre é fácil encontrar uma clareira grande o suficiente para pousar. Os patinetes são bons para trabalhos que exigem aproximação maior, desde que não tentemos levar muito equipamento nem tenhamos muita pressa. Garse diz que são brinquedos, mas... - Ela se levantou, subiu na plataforma e sorriu. - Pronto?

- Pode apostar - Dirk respondeu, e seu dedo roçou no disco prateado na palma de sua mão direita com um pouco mais de força do que deveria. O patinete saiu disparado para cima, arrastando-o pelos pés e balançando-o de um lado para o outro de cabeça para baixo, quando o resto de seu corpo ficou para trás. Ele mal conseguiu evitar de bater a cabeça no telhado enquanto virava e subia para o céu pendurado sob sua plataforma, rindo descontroladamente.

Gwen veio atrás dele, permanecendo na própria plataforma e subindo pelo vento do crepúsculo com a habilidade adquirida de longa prática, como um gênio montado em um tapete prateado. Quando alcançou Dirk, ele havia brincado com os controles tempo suficiente para endireitar-se, embora ainda estivesse bamboleando para trás e para a frente, em um esforço feroz para manter o equilíbrio. Ao contrário de aeromóveis, aeropatinetes não tinham giroscópio.