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- Eles deviam estar aqui - ela ficava reclamando. - Não posso acreditar que ainda estejam procurando por Jaan. Certamente já devem ter percebido o que aconteceu! Por que não estão aqui?

Dirk apenas deu de ombros e disse que desejava que nunca aparecessem; o Teric neDahlir não demoraria a chegar. Quando falou isso, ela se virou para ele com raiva:

- Não me importa! - rebateu; e então, envergonhada, corou, se aproximou da mesa e sentou. Sob uma larga tiara verde, seus olhos estavam fundos. Segurou a mão dele e lhe contou, hesitante, que Vikary não a tocara desde a morte de Janacek. Dirk disse que as coisas melhorariam quando a nave espacial viesse e estivessem longe de Worlorn. Gwen sorriu e concordou com ele, e depois de um tempo começou a chorar. Quando finalmente o deixou, Dirk foi em busca da jóia-sussurrante e a apertou com força na mão, relembrando.

No quarto dia, enquanto Vikary estava fora em uma de suas perigosas caminhadas matinais, Gwen e Arkin Ruark brigaram durante a guarda, e ela bateu com a culatra do rifle no rosto dele, que só recentemente começara a desinchar com compressas de gelo e unguentos. Ruark desceu da sala de vigilância resmungando que ela estava louca novamente, que tentara matá-lo. Dirk, despertado de um profundo sono, estava de pé na sala comum, e o kimdissiano parou, petrificado, ao vê-lo. Nenhum dos dois disse nada, mas depois desse episódio Ruark perdeu peso rapidamente, e Dirk tinha certeza de que Arkin sabia o que, até o momento, só havia suspeitado.

Na manhã do sexto dia, Ruark e Dirk compartilhavam a guarda em silêncio, quando o kimdissiano, em um acesso de fúria, repentinamente disparou o laser pela sala.

- Coisas imundas! - exclamou. - Braiths, Jadeferros, não me importa... animais kavalarianos é o que são, sim. E você, um homem fino de Ávalon, é? Ha! Você não é melhor do que eles, de jeito nenhum, olhe para você. Eu devia ter deixado você due- lar, matar ou ser morto, como você queria. Isso o teria feito feliz, né? Sem dúvida, sem dúvida. Amei a doce Gwen e fiz de você um amigo, e onde está a gratidão, onde, onde? - suas bochechas gordas estavam ocas e fundas; seus olhos claros se moviam incessantemente.

Dirk o ignorou, e Ruark logo ficou em silêncio. Mas, mais tarde, naquela mesma manhã, depois de pegar seu laser e ficar sentado por horas encarando a parede, o kimdissiano se virou para Dirk novamente.

- Eu fui amante dela também, você sabe - ele disse. - Ela não lhe contou isso, eu sei, eu sei, mas é a verdade, a completa verdade. Em Ávalon, muito antes de ela conhecer Jaantony e aceitar o maldito jade-e-prata, na noite em que você mandou a joia- -sussurrante. Ela estava tão bêbada, sabe... Conversamos e conversamos, e ela bebeu; mais tarde me levou para a cama, e no dia seguinte nem se lembrava, acredita? Nem se lembrava. Mas não importa, é a verdade, fui amante dela também - estremeceu. - Nunca contei para ela, t'Larien, ou tentei reviver o episódio. Não sou tão tolo quanto você, sei o que sou e que foi só uma coisa do momento. Mesmo assim aconteceu, e eu ensinei muito para ela, e era amigo dela, e sou muito bom no que faço, sim, eu sou. - Parou, respirou profundamente e, silenciosamente, deixou a torre, ainda que faltasse mais de uma hora para que Gwen o substituísse.

Quando ela finalmente apareceu, a primeira coisa que fez foi perguntar para Dirk o que dissera para Arkin.

- Nada - ele replicou, sinceramente. Depois lhe perguntou por que, e ela lhe disse que Ruark a despertara, chorando, e lhe dissera várias vezes que não importava o que acontecesse, que ela devia ter certeza de que o trabalho deles seria publicado e que o nome dele devia aparecer, não importava o que ele fizera, o nome dele devia aparecer também. Dirk assentiu, deu os binóculos e o posto na janela para Gwen, e logo estavam falando de outras coisas.

No sétimo dia, Dirk e Jaan Vikary compartilharam o turno da noite. A cidade kavalariana refulgia opaca, as avenidas de pedrardente pareciam lâminas de cristal negro sob as quais chamas vermelhas queimavam tênues. Perto da meia-noite, uma luz apareceu sobre as montanhas. Dirk a estudou, enquanto voava em direção à cidade.

- Não sei - disse, olhando pelos binóculos. - Está escuro, é difícil dizer. Acho que consigo ver uma vaga forma abobadada - abaixou as lentes. - Lorimaar?

Vikary se aproximou. O aeromóvel se aproximou. Deslizava em silêncio sobre a cidade, e a silhueta era nítida.

- É o carro dele - confirmou Jaan.

Observaram o veículo sobrevoar a Comuna e logo virar novamente na direção da parede rochosa, e para a entrada da garagem subterrânea. Vikary olhava, pensativo.

- Nunca teria acreditado nisso - afirmou.

Desceram para despertar os demais.

O homem emergiu da escuridão dos elevadores subterrâneos para dar de cara com dois lasers. Gwen apontava a pistola para ele quase casualmente. Dirk, armado com um dos rifles de caça, mirara nas portas dos elevadores e agora apertava a arma contra o rosto, pronto para atirar. Apenas Jaan Vikary não tinha arma apontada; segurava seu rifle entre os dedos, e a pistola estava no coldre.

As portas dos elevadores se fecharam atrás dele, e o homem ficou rígido, compreensivelmente assustado. Não era Lorimaar. Não era ninguém que Dirk conhecesse. Abaixou o rifle.

Os olhos do homem passaram por um deles de cada vez, e finalmente pararam em Vikary.

- Alto-Jadeferro - disse, em voz baixa. - Por que me aborda?

Era um homem de estatura mediana, com cara de cavalo e

barbudo, longos cabelos loiros e magricelo. Estava vestido com tecido-camaleão que naquele momento era vermelho- -acinzentado, corado e febril como os blocos de pedrardente do pavimento.

Vikary estendeu o braço e empurrou gentilmente a pistola de Gwen para o lado. O ato pareceu despertá-la. Ela franziu o cenho e guardou a arma.

- Estávamos esperando Lorimaar Alto-Braith - ela explicou.

- É verdade - Vikary afirmou. - Não quisemos insultá-lo, Shanagate. Honra ao seu grupo, honra ao seu teyn.

O homem com cara de cavalo assentiu e pareceu aliviado.

- E aos seus, Alto-Jadeferro - respondeu -, nenhum insulto foi cometido - coçou nervosamente o nariz.

- Você voa em propriedade Braith, não é?

Ele assentiu.

- É verdade, é nosso por direito de pilhagem. Meu teyn e eu o encontramos na floresta, enquanto perseguíamos um cornoferro em voo. A criatura parou para beber, e lá estava o carro, abandonado ao lado do lago.

- Abandonado? Tem certeza disso?

O homem gargalhou.

- Conheço Lorimaar Alto-Braith e o gordo Saanel bem demais, e não correria o risco de iniciar um alto agravo por uma coisa dessas. Não, encontramos os corpos deles também. Algum inimigo ficou esperando por eles no acampamento, acreditamos que dentro do aeromóvel, e quando retornaram da caçada... - gesticulou. - Não pegarão mais cabeças, seja de quase-homens ou não.

- Mortos? - Gwen tinha a boca apertada.

- Completamente mortos, há vários dias - o kavalariano respondeu. - Carniceiros haviam atacado os cadáveres, é claro, mas ainda havia o suficiente para determinar quem eram. Encontramos outro aeromóvel nas proximidades, no próprio lago, na verdade, abatido e inútil, e também marcas na areia que indicavam que outros veículos estiveram por lá e partiram. O aeromóvel de Lorimaar ainda estava funcionando, embora estivesse cheio de cães Braiths mortos. Nós o limpamos e o reivindicamos. Meu teyn está vindo logo atrás, com nosso próprio carro - Vikary assentiu.

- Esses são eventos bastante incomuns - o homem prosseguiu. Examinava os três astutamente, com indisfarçado interesse. Seu olhar permaneceu por um tempo desconfortavelmente longo em Dirk, e então no bracelete de ferro negro de Gwen, mas não fez comentários. - Poucos Braiths são vistos ultimamente, menos do que o normal, e agora encontramos dois deles assassinados.