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Quando chegou ao quarto, o português acendeu uma vela e atirou a mulher para cima da cama.

As sombras oscilavam nas paredes, embaladas pela dança da chama amarelada. Arfando de desejo, o legionário tirou as calças. Ao vê-lo despir-se, a morena pareceu recuperar energia e recomeçou a gritar. Francisco segurou-a pelo pescoço, puxou-a para si e fixou-lhe os olhos.

"Ouve, minha grande puta", rosnou, ameaçador, o nariz quase colado ao dela, as palavras saindo-lhe entre os dentes. "Se voltas a fazer barulho, mato-te depois de te usar." Ergueu uma sobrancelha. "Entendes?" Deixou a ideia assentar. "Mas, se te portares bem e eu no fim ficar contente, então talvez vivas."

A mulher devolveu-lhe o olhar, assustada, e percebeu que ele não brincava. Calou-se. Francisco atirou-a de novo para a cama, arrancou-lhe as saias e, sem mais delongas, impaciente e ofegante de desejo, mergulhou nela com violência, como um animal esfaimado. Satisfez-se por três vezes no espaço de duas horas e só a largou quando chegou a altura de voltar ao posto.

A noite em torno da igreja decorreu calma, tal como o dia seguinte. Disparavam-se tiros, explodiam granadas, largavam-se rajadas e trocavam-se insultos. No essencial, porém, tudo se mantinha na mesma: os legionários a rodearem o santuário, os milicianos entrincheirados lá dentro.

O comando permanecia na expectativa de vencer os sitiados pela fome e pela sede, mas, com o tempo, começou a tornar-se óbvio que a espera poderia alongar-se.

Foi Juanito quem deu a notícia a Francisco. Era o final da manhã do dia 10 e o turno estava a chegar ao fim quando o espanhol, que havia abandonado o ninho de metralhadora para se ir refrescar, regressou para junto do companheiro com ar excitado.

"Vamonos, hombre!"

"Vamos onde?"

"Vamos a Mérida; caray."

"Vamos à merda?"

"A Mérida!"

O português esboçou um gesto na direcção da igreja diante deles.

"Então e os comunas? Ficam sozinhos?

"Que te interessa isso? Vamos embora, hombre!"

"Mas porquê?"

"É Castejón! Já está a bombardear Mérida!"

"E então?"

"Asensio não pode deixar Castejón passar-nos à frente! Se as banderas de Castejón avançam, nós também temos de avançar. As forças do Sul têm de se encontrar com as do Norte e Mérida fica no caminho."

Francisco ergueu-se do ninho de metralhadora e alongou o corpo, sentindo-o dorido por permanecer demasiado tempo na mesma posição.

"Esta terriola também fica no caminho e, que eu saiba, ainda não foi toda conquistada."

"Não te preocupes, hombre. A I Bandera vai deixar aqui uma companhia para tratar dos rojos."

Bateu com o indicador no relógio. "O resto do pessoal tem uma hora para se apresentar diante dos camiões."

"Uma hora?"

"Si. Asensio diz que estamos aqui a perder tempo." Fez um gesto com a mão. "Vamonos, Paço!"

"Voltas a chamar-me Paço e levas uma chapadona!"

Juanito correu, ganhando uma distância prudente em relação ao português.

"Paço! Paço!"

A IV Bandera seguiu pela estrada em camiões formados em coluna. O horizonte enchia-se de fios negros de fumo, pareciam vulcões a expelir fúria; eram incêndios que decorriam em pequenas povoações onde os milicianos resistiam ao avanço das tropas revoltosas.

De quando em vez, nas bermas, via-se um, três ou dez corpos estendidos, a maior parte de barriga para o ar, por vezes rodeados de moscas, em alguns casos com homens a abrirem buracos ao lado para os enterrar; tratava-se dos fuzilados dessa manhã ou da véspera. Os legionários não dispensaram mais do que um breve olhar de curiosidade a esses cadáveres; tudo o que lhes interessava era sair dali e procurar novas emoções, partir à aventura, desafiar a morte noutras paragens, arriscar a vida em qualquer novo ponto da frente.

Já perto de Alanje, o sargento Gomez começou a cantar La canción dei legionário e logo os homens fizeram coro.

Soy valiente y leal legionário, Soy soldado de brava legión, Pesa en mi alma doliente calvário Que en el fuego busca redención.

Mi divisa no conoce el miedo, Mi destino tan solo es sufrir, Mi Bandera luchar con denuedo, Hasta conseguir Vencer o morir.

Chegaram a Zarza e tentaram cruzar aí o Guadiana, mas a corrente mostrou-se demasiado forte, o que era surpreendente, considerando que estavam em Agosto e normalmente o caudal era menor no pico do Verão. Por outro lado, havia milicianos na outra margem, todos armados com escopetas.

Um exibia até uma metralhadora ligeira.

O comandante Vierna, que chefiava a IV Bandera, avaliou a situação. Faltavam-lhe os meios para construir uma ponte militar sobre o rio; além disso, iria certamente sofrer baixas inúteis, uma vez que a travessia exporia os legionários ao fogo inimigo. Após estudar o mapa, Vierna fez sinal aos seus homens de que regressassem aos camiões.

"Vamonos!", gritou. "A la carretera!"

A coluna deu meia volta e regressou a Almendralejo, onde apanhou a carretera general em direcção a uma ponte romana que, dizia-se, os milicianos não tinham ainda destruído.

De facto, assim era. Atravessaram a ponte e aproximaram-se de Mérida por oeste. Grossas colunas de fumo negro erguiam-se do casario longínquo, sinal de que o assalto à cidade já ia avançado.

"Joder!", praguejou Juanito. "Vais ver que não deixaram nada para nós."

Francisco avaliou a dimensão dos incêndios.

"Quem são os gajos que estão a atacar?"

"São os camaradas da I e da V Bandera", replicou o espanhol. "E acho que também o segundo tabor de Ceuta."

"Merda!"

Quando a IV Bandera entrou em Mérida, os combates já haviam terminado. Os legionários e as tropas marroquinas fuzilavam os sospechosos, mas, no momento em que saltaram do camião, em plena Plaza de Espana, Francisco e os seus companheiros tinham mais que fazer do que ajustar contas com os defensores da cidade; a verdade é que o seu regimento não sofrera baixas e a sorte dos derrotados era-lhes por isso indiferente. Não tinham a vingança a roer-lhes o estômago.

O português acompanhou os camaradas numa correria pelas ruas de Mérida, um tropel que só terminou perto do Arco de Trajano, à frente de uma ourivesaria cujas vitrinas foram de imediato despedaçadas pelas coronhas das Mauser. Com o caminho aberto, os homens entraram na joalharia em catadupa, como a corrente de um rio, e deitaram mão a tudo o que viam ao seu alcance, enchendo os bolsos de jóias, ouro e dinheiro. Para abrir o cofre usaram explosivos e, meia hora depois, quando saíram do local, já nada havia para brilhar nas prateleiras e gavetas da ourivesaria Oro de Amor.

O saque de Mérida prolongou-se por todo o dia, apenas interrompido pelos esporádicos bombardeamentos da aviação governamental. Os aviões emergiam de vez em quando das nuvens e lançavam umas bombas tímidas, mas não passava tudo de diversão; as barulhentas explosões não mataram ninguém, apenas serviram para aterrorizar os civis e moer a paciência dos legionários.

Na manhã seguinte, e na ressaca da orgia de pilhagens, Francisco e Juanito foram colocados de plantão junto à ponte