Выбрать главу

Puertas de la Trinidad, criando assim uma nuvem de fumo que momentaneamente ocultou a sua progressão.

Mas depressa as metralhadoras inimigas se voltaram para eles e de novo travaram o avanço da infantaria, agora acompanhadas por morteiradas.

"Juanito", gritou Francisco, frustrado por não conseguir calar as balas republicanas. "Vamos também."

"Quer

"Anda!" O português pegou na Hotcbkiss e largou em corrida, juntando-se à carga da IV

Bandera. "Despacha-te, pandeiro!"

Vendo o companheiro a correr por ali fora, o espanhol pegou em três cintas de munições e, grazinando joder, cofio e outros palavrões, foi atrás dele. A meio do percurso, já perto do leito do Rivillas, quando as balas começaram a assobiar à sua volta, Francisco mergulhou sobre um molhe de legionários mortos. Eram três homens estendidos no chão em posições estranhas, desarticuladas; entre eles reconheceu Murillo, o jovial italiano com quem uma vez partilhara uma prostituta berbere na cantina de Dar Riffien.

Com os seus braços poderosos, o português pegou nos cadáveres dos companheiros caídos e estendeu-os uns por cima dos outros, como se fossem uma parede, amontoando-os como sacos de terra para lhe darem protecção. Meteu a Hotcbkiss pelo meio, por baixo da cabeça inerte de Murillo, e, satisfeito com a aproximação às muralhas, abriu fogo cerrado sobre a metralhadora mais próxima, uma que se encontrava posicionada de flanco. A rajada foi tão intensa e certeira que a metralhadora inimiga se calou imediatamente por entre uma nuvem de poeira.

"Já levaste", rosnou entre dentes.

Girou a Hotcbkiss para a frente, apontou para outra metralhadora inimiga e abriu de novo fogo, largando uma nova

nuvem de poeira no sector da muralha de onde partiam as balas que dizimavam a IV Bandera.

"Entonces?", perguntou Juanito, ofegante, atirando-se para o seu lado com as cintas de munições. "É melhor daqui?"

"Muito melhor."

O sargento Gomez apercebeu-se do sucesso da manobra e deu ordens para que se imitasse a iniciativa de Francisco e Juanito. Uma outra metralhadora da 12.a companhia avançou de imediato, posicionando-se a meio do terreno, igualmente protegida pelos corpos dos legionários abatidos no assalto. As duas metralhadoras encontravam-se agora bem mais expostas ao fogo inimigo, mas, em compensação, o seu tiro revelava maior precisão e eficácia.

Foi o momento decisivo.

O avanço das duas metralhadoras da 12.a companhia desorientou os defensores de Badajoz, divididos entre o fogo sobre os legionários que se aproximavam perigosamente da Puerta de la Trinidad e a necessidade de neutralizarem a 12.a companhia, cujo fogo certeiro aniquilava agora as metralhadoras defensivas. Esta indecisão revelou-se fatal.

Em alguns minutos, os sobreviventes da 16.a companhia alcançaram a brecha aberta na muralha.

Uma vez ocupada a Puerta de la Trinidad, procederam de imediato à limpeza do sector, logo acompanhados pelos homens da ll.a e da 10.a companhias, que entretanto penetraram também nas muralhas pela mesma entrada. Os legionários transformaram-se numa corrente que jorrava para dentro da cidade com as baionetas em riste, reluzentes, varrendo tudo o que mexia naquela arrancada final, uma enxurrada de homens e fogo e lâminas que arrastou tudo o que encontrou naquela carga cega, um rio de fúria a transbordar pelas margens vencidas das muralhas de Badajoz.

.387

Passou a combater-se bairro a bairro, rua a rua, casa a casa. Os sobreviventes da 16.a companhia, o capitão Caballero, um cabo e catorze legionários, invadiram o parapeito das muralhas e, movidos por uma ferocidade de bestas, abateram o que restava dos seus defensores. Lá em baixo, os restantes pelotões da IV Bandera espalharam-se pelas artérias da cidade. Logo que encontravam posições inimigas, chamavam os homens da 12.a companhia para regar os focos de resistência com fogo de metralhadora. Francisco e Juanito passaram a tarde e a noite a dar apoio aos múltiplos assaltos às posições defensivas republicanas, respondendo às sucessivas chamadas que lhes chegavam a todo o momento de toda a parte.

Ao amanhecer, os republicanos já só se encontravam entrincheirados na catedral. A 12.a companhia recebeu ordens para dar fogo de cobertura ao assalto final. A porta da catedral foi arrasada a tiro de canhão e os legionários irromperam pelo santuário, aniquilando o derradeiro foco de resistência dos republicanos.

Badajoz caíra.

IX

A vida em Valença do Minho tornou-se uma rotina para Luís e o capitão Branco. Os dois oficiais alugaram quartos na Praça de São Teotónio, junto à Casa do Eirado, e saíam todas as madrugadas para gerir o campo de refugiados ou fiscalizar a passagem das colunas de "ajuda às populações"

para a Galiza. Em fins-de-semana alternados davam um salto a Penafiel para se juntarem à família.

Uma vez ia o capitão e na vez seguinte seguia o alferes veterinário, mas no domingo à noite já estavam de volta aos seus deveres na fronteira luso-galega.

Foi no dia a seguir a um dos regressos de Luís de Penafiel que as coisas começaram a correr mal.

O alferes encontrava-se junto ao acesso à ponte, encostado a um muro a aguardar a chegada de mais uma coluna, quando, logo pela manhã, um carro militar espanhol entrou no tabuleiro, vindo de Tui, e se imobilizou ao seu lado. As portas abriram-se e do interior da viatura saiu um coronel espanhol, um homem aloirado e muito penteadinho.

"Arriba Espanar, saudou, esticando o braço na saudação à romana.

Luís fez continência militar, mas sem muito entusiasmo.

"Bom dia."

"Soy el coronel Manuel Iriarte", apresentou-se o recém-chegado. "Quiero hablar con el capitán Blanco. ."

"O capitão Branco, quer o senhor dizer. Com certeza. Os seus documentos?" O oficial espanhol apresentou os papéis e Luís, constatando que se encontrava tudo em ordem, devolveu-os e fez-lhe um sinal com a cabeça. "Venha comigo."

O alferes deu ordens ao sargento Guedes de que assumisse o comando do acesso à ponte e pôs-se a caminho. Os dois homens calcorrearam o piso empedrado de Valença do Minho, trocando palavras de circunstância sobre o calor que apertava nesses dias, e subiram até ao forte.

Luís apresentou o capitão Branco ao coronel espanhol, o qual, após as amabilidades habituais, revelou ao que vinha.

"Tenho ordens para vir buscar os milicianos rojos que aqui se esconderam", anunciou Iriarte.

"Ai sim?", admirou-se Branco. "Não sabia de nada."

O coronel tirou documentos de uma pasta e entregou-os ao oficial português.

"Pois está aqui tudo."

Tratava-se de uma guia assinada pelo general Machado, do comando do Porto, autorizando a entrega dos refugiados. O capitão pegou no telefone e ligou para o Porto, para confirmar a ordem de entrega. A ligação foi difícil, como era habitual nas chamadas para sítios tão longínquos, mas do outro lado da linha acabaram por lhe indicar que, sim senhor, tinham recebido os papéis correspondentes de Lisboa, pelo que a guia do coronel Iriarte era genuína.

O capitão Branco pediu a Luís que os acompanhasse até ao campo de refugiados e seguiram os três em direcção ao local. Iriarte trazia já na cabeça um plano para a entrega dos milicianos.