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— Eles lhe disseram quanto tempo vão ficar?

— Você escolhe as piores horas — resmungou ele, sonolento.

— Pelo menos um ano. Talvez dois. Boa noite… mais uma vez.

Ela o conhecia o suficiente para não fazer mais perguntas, ainda que se sentisse completamente desperta. Por um longo tempo permaneceu deitada com os olhos abertos, vendo as sombras rápidas da lua interior deslizarem sobre o piso, enquanto o corpo saciado ao lado dela mergulhava suavemente no sono. Ela conhecera muitos homens antes de Brant, mas desde que estavam juntos sentia-se totalmente indiferente aos outros. Então por que este súbito interesse (e ela ainda fingia que não passava disso) por um homem que tinha apenas vislumbrado e cujo nome nem mesmo sabia (embora esta fosse certamente uma das primeiras coisas a descobrir amanhã)? Mirissa orgulhava-se de ser uma pessoa honesta e perspicaz. Desprezava os homens e as mulheres que se deixavam governar por suas emoções. Parte da atração, tinha certeza, era o elemento de novidade, o glamour de novos e vastos horizontes. Ser capaz de falar com alguém que havia realmente caminhado pelas cidades da Terra, que testemunhara as últimas horas do Sistema Solar e estava agora a caminho de novos sóis. Isto era uma maravilha além da imaginação que a tornava consciente de sua profunda insatisfação com o ritmo plácido da vida thalassiana, a despeito de sua felicidade com Brant. Ou seria meramente satisfação e não felicidade? O que é que realmente queria? Se poderia encontrar o que procurava com esses estrangeiros das estrelas ainda não sabia, mas estava resolvida a tentar antes que eles deixassem Thalassa para sempre. Naquela mesma manhã, Brant também havia visitado a prefeita Waldron, que o recebera com um calor um pouco menor que o habitual, depois que colocou os restos de sua armadilha de peixes sobre a escrivaninha dela.

— Sei que está ocupada com questões mais importantes — disse ele.

— Mas o que me diz disto! A prefeita olhou sem qualquer entusiasmo para o emaranhado de cabos. Era difícil focalizar a atenção na rotina do dia-a-dia depois de toda a vertiginosa excitação da política interestelar…

— O que você pensa que aconteceu? — perguntou ela.

— Foi obviamente deliberado. Veja como este fio foi torcido até quebrar. Não apenas a rede foi danificada, mas seções inteiras foram arrancadas. Tenho certeza de que ninguém na Ilha do Sul faria tal coisa. Que motivo teria? Eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde. A pausa significativa feita por Brant não deixou dúvidas quanto ao que iria acontecer.

— De quem suspeita? — Desde que comecei a experimentar armadilhas elétricas, tenho lutado não apenas contra os conservadores, mas contra aquela gente maluca que acha que toda a comida deve ser sintética porque é perverso comer criaturas vivas, tais como animais e mesmo plantas.

— Os conservadores pelo menos têm razão num ponto. Se esta sua armadilha for tão eficiente quanto afirma, poderá perturbar o equilíbrio ecológico de que eles tanto falam.

— O censo regular do recife nos diria se isso estivesse acontecendo e nós simplesmente a desligaríamos por algum tempo. De qualquer modo são os pelágicos que eu estou buscando realmente, e meu campo parece atraí-los a mais de três ou quatro quilômetros de distância. E mesmo que todos nas Três Ilhas não comessem outra coisa senão peixe, isso não faria um arranhão na população oceânica.

— Tenho certeza de que está certo no que se refere à população nativa de pseudo-peixes. E isso não traz nenhum bem, já que a maioria deles é venenosa demais para compensar o processamento. Tem certeza de que o estoque de espécies terrenas já se estabeleceu em definitivo? Você pode ser a última gota, como diz o velho ditado. Brant olhou com respeito para a prefeita, ela o surpreendia continuamente com perguntas sagazes como esta. Nunca lhe ocorrera que ela não se teria mantido no cargo por tanto tempo se não fosse muito mais do que aparentava.

— Eu temo que o atum não sobreviva. Serão precisos mais alguns bilhões de anos antes que os oceanos sejam suficientemente salgados para eles. Mas a truta e o salmão estão se saindo muito bem.

— Eles são realmente deliciosos e podem até mesmo dominar os escrúpulos morais dos sinteticistas. Não que eu realmente aceite a sua interessante teoria. Aquela gente pode falar, mas não fará nada.

— Eles soltaram todo um rebanho de gado daquela fazenda experimental há alguns anos.

— Você quer dizer que eles tentaram, mas as vacas

caminhavam direto de volta para casa novamente. Todos riram tanto que eles cancelaram demonstrações posteriores. Eu simplesmente não posso imaginar que se dariam a todo esse trabalho — disse ela, apontando para a rede quebrada.

— Não seria difícil. Um pequeno barco à noite, um par de mergulhadores. A água só tem vinte metros de profundidade.

— Bem, eu vou fazer algumas consultas e enquanto isso você faz duas coisas.

— O quê? — perguntou Brant, tentando, sem conseguir, não parecer desconfiado.

— Conserte a grade. O Armazém Técnico lhe dará tudo que precisar. E pare de fazer mais acusações até ter cem por cento de certeza. Se estiver errado, vai fazer papel de tolo e terá de pedir desculpas. Se estiver, certo, pode afugentar os infratores antes que possamos pegá-los. Entendeu? O queixo de Brant caiu um pouco. Ele nunca tinha visto a prefeita num estado de espírito tão decidido. Ele pegou a prova número um e fez uma retirada um tanto embaraçada. Teria ficado ainda mais embaraçado ou talvez apenas se divertisse caso soubesse que a prefeita Waldron não estava mais apaixonada por ele. O assistente de engenheiro-chefe Loren Lorenson tinha impressionado mais de uma cidadã mulher de Tarna naquela manhã.

15. TERRA NOVA

Tal lembrança da Terra constituía um nome infeliz para o povoado e ninguém admitiu a responsabilidade. Mas foi aceito como um pouco melhor do que „Campo Base”. O complexo de barracas pré-fabricadas brotara com espantosa velocidade, literalmente da noite para o dia. Foi a primeira demonstração que Tarna teve das pessoas da Terra, ou melhor, dos robôs da Terra em ação, e os moradores locais ficaram tremendamente impressionados. Até mesmo Brant, que sempre achara que os robôs atrapalhavam em vez de ajudar, a não ser no caso de trabalho perigoso ou monótono, começou a mudar de opinião. Havia um elegante construtor móvel, para serviços gerais, que operava com uma velocidade tão alucinante que era freqüentemente impossível seguir seus movimentos. Para onde quer que ele fosse, era seguido por uma multidão admirada de pequenos lassanianos. Quando ficavam em seu caminho, ele polidamente parava o que estivesse fazendo até que a costa estivesse livre. Brant achou que este era o tipo de assistente de que necessitava, talvez houvesse algum modo de persuadir os visitantes…

No final da semana Terra Nova era um microcosmo, plenamente operante, da grande nave orbitando além da atmosfera. Havia acomodações simples, mas confortáveis, para cem tripulantes, com todo o sistema de suporte vital de que necessitavam, como biblioteca, ginásio, piscina e teatro. Os lassanianos aprovaram essas instalações e se apressaram em fazer uso pleno delas. Como resultado, a população de Terra Nova era geralmente o dobro dos cem que o projeto devia alojar. A maioria dos hóspedes, fossem convidados ou não, mostravamse ansiosos por ajudar e dispostos a deixar os visitantes tão à vontade quanto possível. Tal amizade, embora muito apreciada e bem-vinda, era freqüentemente causa de embaraços. Os lassanianos eram insaciavelmente curiosos e parecia que praticamente ignoravam o conceito de privacidade. O letreiro „Por favor, não perturbe” era freqüentemente considerado como um desafio pessoal, que levava a complicações interessantes…