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— Tratem vocês dois de pedir — devolveu Mat. — Não tenho nada a ver com isso.

Melindhra apertou sua nuca, mas Mat não se importou. Moiraine decerto estava com Rand. Ele não queria enfiar o pescoço em um segundo laço enquanto ainda descobria como sair do primeiro.

Talmanes e Nalesean ficaram de queixo caído, como se Mat fosse demente.

— Você é nosso líder nessa batalha — protestou Nalesean. — Nosso general.

— Meu criado vai lustrar suas botas — emendou Talmanes, com um sorrisinho que ele tomou o cuidado de não dirigir ao taireno de rosto quadrado —, e vai esfregar e remendar suas roupas. Assim, sua aparência estará impecável.

Nalesean alisou a barba oleada, os olhos disparando em direção ao outro homem antes que conseguisse freá-los.

— Se me permite oferecer, tenho um bom casaco que acredito que lhe cairá bem. De cetim dourado e carmesim. — Foi a vez do cairhieno encará-lo.

— General! — exclamou Mat, usando o cabo da lança para se manter de pé. — Não sou nenhum maldito… Quer dizer, eu não quero usurpar seu lugar de direito. — Eles que decidissem a qual dos dois Mat se referia.

— Que minha alma queime — indignou-se Nalesean —, foi sua habilidade no combate que garantiu nossa vitória e nos manteve vivos. Sem falar na sua sorte. Já ouvi falar sobre como você sempre vira a carta certa, mas foi mais que isso. Eu o seguiria mesmo que você jamais tivesse conhecido o Lorde Dragão.

— Você é nosso líder — reafirmou Talmanes logo depois, com uma voz mais sóbria, ainda que não menos segura. — Até ontem, segui homens de outras terras porque precisei. No seu caso, eu o sigo porque quero. Talvez você não seja um lorde em Andor, mas, aqui, afirmo que é, e me comprometo a ser um de seus homens.

O cairhieno e o taireno se entreolharam como se estivessem assustados por externar o mesmo sentimento, e então, devagar, com relutância, trocaram breves meneios. Mesmo não se gostando — e só um tolo apostaria no contrário —, podiam concordar com aquele ponto. Em algum nível.

— Vou mandar meu cavalariço preparar seu cavalo para a procissão — informou Talmanes, que mal franziu o rosto quando Nalesean prosseguiu:

— O meu pode dividir o trabalho. Sua montaria deve nos deixar orgulhosos. E que a minha alma queime, mas precisamos de um estandarte. O seu estandarte. — Ao ouvir aquilo, o cairhieno aquiesceu de maneira enfática.

Mat não tinha certeza se gargalhava histericamente ou se simplesmente se sentava e chorava. Aquelas malditas memórias. Não fosse por elas, teria continuado a cavalgar. Não fosse por Rand, não teria nada daquilo. Era capaz de identificar cada passo que o levara ali; cada um deles parecera necessário e sem perspectivas, mas todos levaram inevitavelmente ao seguinte. No começo de tudo estava Rand. E o maldito ta’veren. Mat não entendia por que fazer algo absolutamente necessário e tão inofensivo quanto possível sempre parecia afundá-lo ainda mais no atoleiro. Melindhra começara a alisar sua nuca, em vez de apertá-la. Tudo o que ele precisava, agora…

Mat ergueu os olhos para a colina, e lá estava ela: Moiraine, em sua égua branca de passadas delicadas, com Lan em seu garanhão negro, erguendo-se feito uma torre ao lado dela. O Guardião se inclinou na direção da mulher, como que para ouvi-la, e os dois pareceram ter uma breve discussão, com o homem protestando firmemente, mas, após um momento, a Aes Sedai puxou as rédeas de Aldieb e a fez dar a volta, cavalgando para fora de vista em direção à encosta contrária. Lan permaneceu onde estava, montado em Mandarb, observando o acampamento abaixo. Observando Mat.

Mat estremeceu. A cabeça de Couladin realmente parecia sorrir para ele. Quase ouvia a voz do homem. Você pode até ter me matado, mas enfiou seu pé em cheio na armadilha. Estou morto, mas você nunca será livre.

— Mas que maravilha — resmungou, dando um gole longo e sufocante no forte conhaque. Talmanes e Nalesean pareceram pensar que ele falara sinceramente, e Melindhra gargalhou em concordância.

Uns cinquenta ou mais tairenos e cairhienos haviam se reunido para assistir à sua conversa com os dois lordes, e entenderam aquela golada como um sinal para que lhe fizessem uma serenata, à qual deram início com versos que eles mesmos tinham inventado:

— Lançar os dados e vê-los rodar, Altas ou baixas, garotas amar Seguir o jovem Mat quando ele chamar E dançar com Jak das Sombras.

Mat não conseguiu conter uma gargalhada. Tornou a se acomodar no pedregulho e tratou de esvaziar o jarro. Devia haver um jeito de sair dali. Devia.

Rand abriu os olhos bem devagar, encarando o teto da tenda. Estava nu debaixo de um único cobertor. A ausência de dor foi quase preocupante, ainda que se sentisse mais fraco do que se lembrava. E ele lembrava. Dissera coisas, pensara… Sentiu um calafrio. Não posso deixar que ele assuma o controle. Eu sou eu! Eu! Mexendo-se sob o cobertor, encontrou a suave cicatriz redonda na lateral do corpo, sensível, porém fechada.

— Moiraine Sedai Curou você — disse Aviendha, assustando-o.

Não a vira sentada de pernas cruzadas nos tapetes perto da fogueira, bebericando de um copo de prata entalhado com leopardos. Asmodean estava estirado nas almofadas borladas, o queixo apoiado nos braços. Nenhum dos dois aparentava ter dormido. Ambos estavam com olheiras profundas.

— Isso não deveria ter sido necessário — prosseguiu Aviendha, com voz tranquila.

Cansada ou não, o cabelo estava arrumado, e as roupas limpas faziam enorme contraste com o veludo escuro amarrotado de Asmodean. De vez em quando, ela girava distraidamente o bracelete de marfim entalhado com rosas e espinhos que ele lhe dera. Também estava usando o colar com o floco de neve de prata. Ainda não dissera a Rand quem lhe dera aquilo, embora parecesse se divertir ao perceber que ele fazia muita questão de saber. Mas ela certamente não parecia estar se divertindo agora.

— A própria Moiraine Sedai estava a ponto de desmaiar de tanto Curar os feridos. Aan’allein precisou carregá-la para a tenda. Por sua causa, Rand al’Thor. Porque Curar você sugou as últimas forças dela.

— A Aes Sedai já está de pé — avisou Asmodean, suprimindo um bocejo. O homem ignorou o olhar penetrante de Aviendha. — Já esteve aqui duas vezes desde o nascer do sol, embora tenha dito que você se recuperaria. Acho que ontem à noite ela não tinha tanta certeza. Nem eu. — Ele puxou a harpa dourada para o colo e distraiu-se com ela, falando em um tom displicente: — Eu fiz o que pude por você, claro. Minha vida e minha fortuna estão atadas às suas, mas meus talentos não estão exatamente na Cura, você sabe. — O homem dedilhou algumas notas para demonstrar. — Sei que um homem pode acabar se matando ou amansando a si mesmo fazendo o que você fez. Ter força com o Poder é inútil se o corpo estiver exaurido. Saidin pode matar fácil caso o corpo esteja exausto. Foi o que ouvi dizer.

— Terminou de compartilhar sua sabedoria, Jasin Natael? — O tom de voz de Aviendha foi ainda mais gélido, e ela não esperou por uma resposta antes de desviar o olhar de gelo azul-esverdeado de volta para Rand. Parecia que a interrupção fora culpa dele. — Um homem às vezes pode se comportar como um tolo, e isso não tem tanto problema, mas um chefe deve ser mais que um homem, e o chefe dos chefes, mais ainda. Você não tinha o direito de se forçar até quase a morte. Egwene e eu tentamos fazer você vir conosco quando ficamos cansadas demais para continuar, mas você não deu ouvidos. Até pode ser muito mais forte do que nós duas, como Egwene diz, mas, ainda assim, é feito de carne e osso. Você é o Car’a’carn, não um novo Seia Doon em busca de honra. Você tem toh, uma obrigação para com os Aiel, Rand al’Thor, e não há como cumpri-la se estiver morto. Você não pode fazer tudo sozinho.