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Sentando-se — e tentando não demonstrar o esforço para fazê-lo —, Rand se cobriu com o máximo possível de decência e se perguntou onde estariam suas roupas. Não tinha visto nada além das botas, que repousavam logo atrás de Aviendha. Ela provavelmente sabia. Os gai’shain deviam tê-lo despido, mas também podia muito bem ter sido ela.

— Preciso entrar na cidade. Natael, mande encilhar Jeade’en e trazê-lo até aqui.

— Amanhã, talvez — respondeu Aviendha com firmeza, segurando Asmodean pela manga do casaco quando o homem começou a se levantar. — Moiraine Sedai disse que você precisa descansar para…

— Hoje, Aviendha. Agora. Não sei por que Meilan não está aqui, caso esteja vivo, mas pretendo descobrir. Natael, e o meu cavalo?

A mulher fez uma expressão teimosa, mas Asmodean libertou o braço, alisou o veludo amarrotado e disse:

— Meilan esteve aqui, outros também.

— Ele não deveria saber… — protestou Aviendha, com raiva, mas fechou a boca antes de terminar. — Ele precisa descansar.

Então as Sábias pensavam que podiam esconder coisas dele. Bem, não estava tão fraco quanto elas acreditavam. Segurando o cobertor junto ao corpo, tentou se levantar e acabou se contentando em mudar de posição quando suas pernas se recusaram a cooperar. Talvez estivesse tão fraco quanto elas pensavam. Mas não pretendia deixar que aquilo o parasse.

— Vou poder descansar quando morrer — afirmou Rand, desejando voltar atrás quando Aviendha se encolheu como se tivesse levado um tapa. Não, Aviendha não teria se encolhido por causa de um mero tapa. Ela considerava Rand importante para o bem dos Aiel, e uma ameaça à sua vida a feriria mais que um soco. — Me fale sobre Meilan, Natael.

Aviendha manteve o silêncio carrancudo, embora Asmodean também tenha ficado atônito, se seu olhar servia de indicativo.

Um cavaleiro viera em nome de Meilan, à noite, trazendo elogios floreados e garantias de lealdade eterna. Na alvorada, o próprio Meilan aparecera, junto com os seis outros Grão-lordes de Tear que estavam na cidade, além de um pequeno exército taireno que tocava os punhos das espadas e segurava as lanças como se esperasse lutar contra os Aiel que observavam silenciosamente a aproximação do grupo.

— Foi por pouco — disse Asmodean. — O tal Meilan não está acostumado a ser contrariado, eu acho, e os outros só estão um pouco mais. Ainda mais aquele do rosto encaroçado… Torean? E Simaan, que tem os olhos tão afiados quanto o nariz. Você sabe que estou acostumado a companhias perigosas, mas esses homens são tão perigosos, à maneira deles, quanto qualquer outro que eu já tenha conhecido.

Aviendha bufou.

— Não importa com o que eles estão acostumados, não tiveram escolha tendo Sorilea, Amys, Bair e Melaine de um lado, e Sulin e mil Far Dareis Mai do outro. E havia alguns Cães de Pedra — admitiu —, e uns poucos Buscadores das Águas e alguns Escudos Vermelhos. Se você serve mesmo ao Car’a’carn como afirma, Jasin Natael, deveria guardar o descanso dele como elas guardam.

— É o Dragão Renascido que eu sigo, jovem. O Car’a’carn eu deixo para você.

— Continue, Natael — ordenou Rand, impaciente, recebendo uma bufada também.

Aviendha estava certa a respeito de os tairenos não terem escolha, embora as Donzelas e outros Aiel tocando os véus tivessem preocupado os homens mais que as Sábias. Em todo caso, mesmo Aracome, um homem esbelto, já ficando grisalho, dono de um temperamento controlado, estivera a ponto de explodir enquanto conduziam os cavalos até ali. E Gueyam, careca feito uma pedra e largo como um ferreiro, estava com o rosto pálido de tanta raiva. Asmodean não sabia se o motivo era estarem em menor número, o que os impedira de sacar as espadas, ou a noção de que, mesmo que conseguissem abrir caminho e chegar a Rand, era improvável que fossem bem recebidos com o sangue de seus aliados nas lâminas dos homens.

— Os olhos de Meilan estavam saltando para fora da cabeça — concluiu Asmodean. — Antes de ir embora, porém, ele bradou sua lealdade e fidelidade a você. Talvez tenha pensado que você escutaria. Os outros logo trataram de repetir, mas Meilan acrescentou algo que deixou os outros surpresos. Ele disse “vou oferecer um presente de Cairhien ao Lorde Dragão”. E então anunciou que prepararia um grande desfile triunfal quando você estivesse pronto para entrar na cidade.

— Temos um velho ditado em Dois Rios — disse Rand, seco. — “Quanto mais alto um homem alardeia sua honestidade, mais firme você deve segurar sua bolsa”. — E outro dizia “A raposa sempre se oferece para dar sua lagoa ao pato”. Cairhien era dele, sem nenhum presente de Meilan.

Rand não tinha dúvidas quanto à lealdade do homem. Ela duraria enquanto Meilan acreditasse que seria destruído caso o pegassem traindo Rand. Caso o pegassem. A isca era essa. Aqueles sete Grão-lordes em Cairhien haviam sido os mais empenhados em vê-lo morto, em Tear. Por isso Rand os mandara para Cairhien. Se tivesse executado todos os nobres tairenos que tramaram contra ele, talvez já não restasse nenhum. Na época, dar a eles anarquia, fome e uma guerra civil para resolver a mil milhas de Tear parecera uma boa forma de interromper seus planos enquanto fazia algum bem onde era necessário. Claro que, então, Rand nem sabia da existência de Couladin, e menos ainda que o homem o faria ir até Cairhien.

Seria mais fácil se isto fosse uma história, pensou. Nas histórias, havia apenas umas poucas surpresas antes de o herói descobrir tudo o que precisava. Rand nunca parecia saber nem um quarto de tudo.

Asmodean hesitou — aquele velho ditado sobre homens alardeando honestidade também poderia se aplicar a ele, e o homem estava consciente disso, sem dúvida —, mas, quando Rand não disse mais nada, ele acrescentou:

— Acho que ele quer ser Rei de Cairhien. Subordinado a você, claro.

— E de preferência comigo bem longe. — Era provável que Meilan esperasse que Rand voltasse a Tear e a Callandor. Meilan decerto nunca teria medo de ter Poder demais.

— Claro. — Asmodean soou ainda mais seco do que Rand. — Houve outra visita entre essas duas.

Uma dúzia de lordes e ladies cairhienos tinham aparecido, sem seus empregados, cobertos por mantos e com os rostos escondidos em capuzes, apesar do calor. Sabiam com certeza que os Aiel desprezavam os cairhienos, e o sentimento era claramente recíproco, ainda que ficassem tão nervosos com a possibilidade de Meilan descobrir que eles tinham ido até lá quanto com a dos Aiel decidirem matá-los.

— Quando me viram — relatou Asmodean, com ironia —, metade pareceu pronta para me matar por medo de que eu fosse taireno. Você deve um agradecimento às Far Dareis Mai por ainda ter um bardo.

Mesmo sendo poucos, os cairhienos haviam sido mais difíceis de fazer recuar do que Meilan, ficando mais pálidos e suados a cada minuto, mas insistindo teimosamente em falar com o Lorde Dragão. Quando as exigências não deram certo, tinham chegado a suplicar despudoradamente, o que demonstrava o tamanho desse desejo. Asmodean podia até achar o humor dos Aiel estranho ou grosseiro, mas deu risadas dos nobres com vestidos de montaria e casacos de seda tentando ignorar sua presença enquanto se ajoelhavam para agarrar as saias de lã das Sábias.

— Sorilea ameaçou mandar despi-los e açoitá-los de volta até a cidade. — A risada muda se transformou em descrença. — Chegaram até a discutir entre si. Se isso permitisse que eles chegassem até você, eu realmente acredito que alguns teriam aceitado.

— Sorilea devia ter cumprido a ameaça — opinou Aviendha, em um tom surpreendentemente agradável. — Os quebradores de promessa não têm honra nenhuma. Pelo menos Melaine mandou as Donzelas jogarem todos em cima dos cavalos como se fossem sacos e enxotou os animais para fora do acampamento, com os quebradores de promessa mal se segurando.