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Houve um momento de confusão antes de Rand autorizar Sulin a permitir que os outros lordes tairenos trouxessem seus cavalos para junto de Asmodean e do estandarte de Pevin. Meilan teria mandado os Defensores tornarem a abrir caminho, mas Rand ordenou sucintamente que os homens seguissem atrás das Donzelas. Os soldados obedeceram, rostos inalterados sob as abas dos elmos, apesar de o oficial de plumas brancas balançar a cabeça e de o Grão-lorde abrir um sorriso condescendente. Sorriso que sumiu tão logo ficou claro que a multidão abria passagem com tranquilidade à frente das Donzelas. Meilan acreditava que a fama de selvagem dos Aiel fosse o motivo de não precisarem abrir caminho a pauladas, e franziu o cenho quando Rand não lhe respondeu. Mas Rand reparou em uma coisa: agora que estava acompanhado dos tairenos, o povo não dava mais vivas.

Quadrado, escuro e monumental, o Palácio Real de Cairhien ocupava o centro exato da colina mais alta da cidade. Na verdade, entre o palácio com todos os seus andares e os terraços revestidos de pedra, era difícil afirmar até que havia uma colina ali. Altas galerias colunadas e janelas compridas e estreitas, bem acima do solo, não conseguiam atenuar a rigidez, assim como as torres escalonadas e cinzentas posicionadas com precisão dentro de quadrados concêntricos, um mais alto que o outro. A rua se transformava em uma rampa larga e extensa que levava a imensos portões de bronze e a um enorme pátio quadrado, com filas de soldados tairenos de pé feito estátuas, as lanças inclinadas. Havia outros mais nas varandas de pedra acima.

Uma onda de murmúrios percorreu as fileiras quando as Donzelas apareceram, mas foi logo abafada sob os gritos em coro de “Toda a glória para o Dragão Renascido! Toda a glória para o Lorde Dragão e para Tear! Toda a glória para o Lorde Dragão e para o Grão-lorde Meilan!”. Pela expressão de Meilan, parecia até que tudo aquilo era espontâneo.

Serviçais com roupas escuras, os primeiros cairhienos que Rand vira no palácio, aproximaram-se apressados com tigelas trabalhadas em ouro e panos de linho branco, assim que ele se moveu para descer da sela. Outros vieram para lhe tomar as rédeas. Ele usou a desculpa de lavar o rosto e as mãos com a água fresca para deixar que Aviendha descesse sozinha. Tentar ajudá-la poderia ter acabado com os dois estatelados nos paralelepípedos.

De pronto, Sulin apontou vinte Donzelas, além de si mesma, para acompanhá-lo para dentro do palácio. Por um lado, Rand ficou grato pela mulher não querer manter todas as lanças em torno dele. Por outro, gostaria que Enaila, Lamelle e Somara não estivessem entre as vinte. Os olhares avaliadores que elas lhe lançavam — em especial Lamelle, uma ruiva esguia e de queixo forte, quase vinte anos mais velha que ele — fizeram-no ranger os dentes enquanto tentava abrir um sorriso confiante. De alguma forma, Aviendha devia ter falado com elas, e com Sulin, por suas costas. Talvez eu não possa fazer nada em relação às Donzelas, pensou, emburrado, ao arremessar uma toalha de linho de volta para um dos serviçais, mas que me queime se vai haver um único Aiel que não vai entender que eu sou o Car’a’carn !

Os demais Grão-lordes cumprimentaram-no aos pés dos amplos degraus cinzentos que subiam do pátio, todos com casacos de seda coloridos com listras de cetim e botas com detalhes em prata. Estava claro que nenhum deles soubera que Meilan fora se encontrar com Rand até que já tivesse sido feito. Torean, com sua cara de batata e lânguido demais para um homem tão grande, fungava ansiosamente em um lenço perfumado. Gueyam, cuja barba oleada fazia a cabeça parecer ainda mais calva, apertava os punhos do tamanho de presuntos e encarava Meilan mesmo enquanto fazia uma reverência para Rand. O nariz pontudo de Simaan parecia tremer com tamanho ultraje. Maraconn, dono de olhos azuis raros em Tear, apertava os lábios finos até eles praticamente desaparecerem. E, mesmo que Hearne exibisse um grande sorriso, estava puxando distraidamente o lóbulo da orelha, como fazia quando estava furioso. Apenas Aracome, esbelto feito uma lâmina, não externava emoção alguma — mas ele sempre mantinha a raiva bem guardada até estar pronto para deixá-la explodir.

Era uma oportunidade boa demais para deixar passar. Agradecendo Moiraine em silêncio pelas lições — era mais fácil fazer um tolo tropeçar do que derrubá-lo, dizia ela —, Rand apertou simpaticamente a mão gorducha de Torean e deu um tapinha no ombro largo de Gueyam; retribuiu o sorriso de Hearne com outro, íntimo e afetuoso, e fez um meneio silencioso para Aracome, lançando-lhe um olhar que pareceu significativo. Simaan e Maraconn ele praticamente ignorou após dirigir a cada um deles um olhar tão monótono e frio quanto um lago no auge do inverno.

Era o suficiente por enquanto, e Rand observou os olhos dos homens se agitarem e os rostos se retesarem enquanto eles divagavam. Todos haviam jogado o Daes Dae’mar, o Jogo das Casas, a vida inteira, e estar entre cairhienos, que conseguiam interpretar muita coisa de uma tosse ou um arquear de sobrancelha, só havia acentuado suas sensibilidades. Todos aqueles homens sabiam que Rand não tinha motivo para ser amigável com eles, e todos se perguntariam se a saudação recebida era apenas para mascarar a cumplicidade de Rand com algum outro deles. Simaan e Maraconn pareciam os mais preocupados, ainda que os outros encarassem os dois como os mais suspeitos de todos. Talvez a frieza de Rand tivesse sido o verdadeiro disfarce. Ou talvez aquilo fosse exatamente o que Rand queria que pensassem.

Rand achava que Moiraine teria ficado orgulhosa dele, assim como Thom Merrilin. Mesmo que nenhum daqueles sete estivesse tramando ativamente contra ele naquele momento — algo em que nem Mat apostaria —, homens ocupando as posições que eles ocupavam poderiam fazer muito para atrapalhar os planos de Rand de modos discretos, e o fariam, se não por outro motivo, por força do hábito. Ou teriam feito. Agora Rand os desequilibrara. Se tivesse como mantê-los assim, todos ficariam ocupados demais vigiando uns aos outros, e, por sua vez, receosos demais de estarem sendo vigiados, para incomodá-lo. Poderiam até obedecê-lo, para variar, sem encontrar uma centena de motivos para as coisas serem feitas de maneira diferente de como ele queria. Bem, isso talvez já fosse pedir muito.

Sua satisfação desapareceu quando ele viu o sorriso sardônico de Asmodean. Pior foi o olhar inquisidor de Aviendha. Ela estivera em Pedra de Tear, sabia quem eram aqueles homens e por que Rand os mandara até ali. Eu faço o que preciso fazer, pensou, com amargura, desejando que aquilo não soasse como uma desculpa.

— Para dentro — ordenou, mais incisivo do que pretendia, e os sete Grão-lordes saltaram como se, de repente, tivessem lembrado quem e o que ele era.

Os homens quiseram se aglomerar em torno de Rand enquanto ele subia os degraus, mas, exceto por Meilan, para mostrar o caminho, as Donzelas simplesmente formaram um círculo compacto ao redor dele, e os Grão-lordes seguiram na retaguarda, junto com Asmodean e os lordes inferiores. Aviendha estava bem perto… claro, e Sulin ocupou o outro lado, com Somara, Lamelle e Enaila logo atrás. Rand estava ao alcance da mão de todas elas, e lançou um olhar acusador a Aviendha, que arqueou as sobrancelhas de forma tão questionadora que ele quase acreditou que ela não tinha nada a ver com aquilo. Quase.

Os corredores do palácio estavam vazios, exceto pelos serviçais de vestes escuras, que se curvavam até quase encostar o peito nos joelhos ou faziam reverências igualmente acentuadas conforme Rand passava. Mas, quando adentrou o Grande Salão do Sol, descobriu que a nobreza cairhiena não fora completamente excluída do palácio.