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— Aí vem o Dragão Renascido — entoou um homem de cabelo branco posicionado um pouco depois das enormes portas douradas e entalhadas com o Sol Nascente. O casaco vermelho bordado com estrelas azuis de seis pontas, um pouco grande nele após os dias em Cairhien, identificavam-no como um serviçal superior da Casa de Meilan. — Todos saúdam o Lorde Dragão Rand al’Thor. Toda a glória para o Lorde Dragão.

Um rugido súbito preencheu a câmara até o teto, com sua abóbada angulada de cinquenta passadas de altura.

— Salve o Lorde Dragão Rand al’Thor! Toda a glória para o Lorde Dragão! Que a Luz ilumine o Lorde Dragão! — O silêncio que se seguiu, em comparação, pareceu duplamente mais intenso.

Entre as monumentais colunas quadradas de mármore com grossas tiras de um azul tão escuro que era quase negro, havia mais tairenos do que Rand esperava, fileiras de Lordes e Ladies da Terra trajando suas melhores roupas; chapéus pontiagudos de veludo e casacos com mangas listradas e bufantes, vestidos coloridos, rufos rendados e boinas apertadas com pérolas ou pequenas gemas bordadas ou costuradas em trabalhos intricados.

Atrás deles estavam os cairhienos, com sua indumentária escura, exceto pelas barras coloridas no peito dos vestidos ou dos casacos compridos. Quanto mais listras nas cores da Casa, maior a graduação de quem as usava, mas mesmo os homens e mulheres com cores do pescoço à cintura ou até mais embaixo ficavam atrás dos tairenos que claramente pertenciam a Casas menores, com seus bordados amarelos, em vez de fios de ouro, e lã, em vez de seda. Muitos dos homens cairhienos haviam raspado e passado pó na parte frontal da cabeça, ao menos todos os mais jovens.

Os tairenos pareciam cheios de expectativa, ainda que desconfortáveis. Os rostos cairhienos poderiam ter sido cinzelados em gelo. Não havia como dizer quem o aplaudira e quem não, mas Rand suspeitava que a maior parte dos gritos viera das fileiras da frente.

— Boa parte destas pessoas desejava lhe servir — murmurou Meilan, enquanto caminhavam pelo piso de ladrilhos azuis com seu belo mosaico dourado do Sol Nascente. Uma onda de reverências e mesuras silenciosas se seguiu.

Rand apenas grunhiu em resposta. Desejavam lhe servir? Ele não precisava de Moiraine para saber que aqueles nobres menores esperavam se tornar maiores com propriedades obtidas em Cairhien. Não restava dúvida de que Meilan e os outros seis já haviam intimado os locais e até prometido quais terras seriam de quem.

Na outra extremidade do Grande Salão, o próprio Trono do Sol repousava centralizado no alto de um largo estrado de mármore azul-marinho. Ali a restrição cairhiena se mantinha, já que se tratava de um trono, afinal. A grande cadeira de braços maciços reluzia com douraduras e seda dourada, mas, de alguma forma, parecia composta apenas por linhas verticais simples, a não ser pelo Sol Nascente com seus raios ondulados que se destacaria acima da cabeça de quem quer que a ocupasse.

E a intenção era que fosse ele, percebeu Rand, bem antes de alcançar os nove degraus que conduziam ao estrado. Aviendha o acompanhou, e Asmodean, por ser seu bardo, também teve permissão para tal, mas Sulin logo dispôs as outras Donzelas em torno do estrado, as lanças casualmente empunhadas bloqueando Meilan, bem como o restante dos Grão-lordes. A frustração tingia os rostos tairenos. O Salão estava tão quieto que Rand ouvia a própria respiração.

— Isto pertence a outra pessoa — afirmou, por fim. — Além do quê, passei tempo demais na sela para ver com bons olhos um assento tão duro. Tragam uma cadeira confortável.

Houve um momento de silêncio e estupor antes que um murmúrio percorresse o Salão. O olhar de Meilan se tornou especulativo, mas logo foi suprimido, e Rand quase gargalhou. Era muito provável que Asmodean estivesse certo em relação ao homem. O próprio Asmodean estava encarando Rand com um ar de suspeita que mal conseguia esconder.

Passaram-se alguns minutos antes que o sujeito com o casaco com estrelas bordadas chegasse correndo, ofegante, seguido por dois cairhienos com roupas escuras que traziam consigo uma cadeira de espaldar alto repleta de almofadas revestidas de seda, indicando onde ela deveria ser colocada em meio a muitíssimas olhadelas preocupadas na direção de Rand. Entalhes dourados verticais percorriam o encosto e as grossas pernas da cadeira, mas pareciam insignificantes diante do Trono do Sol.

Enquanto os três serviçais ainda faziam suas reverências e saíam, curvando-se a cada passo, Rand jogou a maior parte das almofadas para o lado e se sentou com gosto, a lança Seanchan sobre os joelhos. Mas teve o cuidado de não suspirar. Aviendha o observava muito de perto para que fizesse isso, e o modo como Somara ficava alternando olhadelas entre os dois confirmava as suspeitas de Rand.

No entanto, fossem quais fossem seus problemas com Aviendha e as Far Dareis Mai, a maior parte dos presentes aguardava suas palavras com muita ansiedade e nervosismo. Pelo menos estes aí vão pular quando eu mandar imitar um sapo, pensou. Poderiam até não gostar, mas pulariam.

Com o auxílio de Moiraine, ele decidira o que devia fazer naquele local. Algumas coisas soubera mesmo sem as sugestões dela. Teria sido bom tê-la ali para falar em seu ouvido, caso necessário, em vez de ter Aviendha aguardando para dar um sinal a Somara, mas não havia por que esperar. Todos os nobres tairenos e cairhienos na cidade decerto estavam naquela câmara.

— Por que os cairhienos ficam atrás? — questionou em voz alta, no que a multidão de nobres se agitou e trocou olhares confusos. — Os tairenos vieram para ajudar, mas isso não é motivo para os cairhienos se manterem sempre na retaguarda. Deixem que todos se organizem por graduação. Todos.

Foi difícil dizer quais eram os mais estupefatos, se tairenos ou cairhienos, embora Meilan parecesse pronto para engolir a língua, e os outros seis não ficassem muito atrás. Mesmo Aracome, cujo pavio era mais comprido, ficou com o rosto pálido. Com muito arrastar de botas e repuxar de saias, com demasiados olhares gélidos de ambos os lados, todos se organizaram, até que as filas da frente ficassem todas compostas por homens e mulheres com listras no peito e a seguinte contasse apenas com alguns tairenos. No pé do estrado, Meilan e seus companheiros estavam acompanhados pelo dobro de lordes e ladies cairhienos, a maioria já grisalha, e todos com listras do pescoço até quase o joelho, apesar de “acompanhados” talvez não ser a palavra correta. Eram dois grupos separados por boas três passadas, e faziam tanta questão de não olhar uns para os outros que dava no mesmo que gritar ou erguer os punhos. Todos os olhos se detinham em Rand, e, se os tairenos estavam furiosos, os cairhienos ainda eram uma pedra de gelo, dando apenas meros sinais de descongelamento no modo sugestivo como o examinavam.

— Notei os estandartes tremulando sobre Cairhien — prosseguiu, tão logo a movimentação se abrandou. — É bom ver tantas Crescentes de Tear ao vento. Sem os Grão-lordes tairenos, Cairhien não estaria viva para hastear um estandarte, e sem as espadas tairenas, o povo desta cidade, que hoje sobreviveu, tanto os nobres quanto os plebeus, estaria aprendendo a obedecer aos Shaido. Tear conquistou sua honra. — Aquilo inflou os tairenos, claro, e provocou meneios impetuosos e sorrisos mais impetuosos ainda, embora os Grão-lordes decerto tenham parecido confusos. Até os cairhienos abaixo do estrado se entreolhavam, cheios de dúvidas. — Mas eu não preciso de tantos estandartes para mim. Deixem um estandarte do Dragão no lugar, na torre mais alta da cidade, para que todos que se aproximem possam vê-lo, mas façam com que os outros sejam retirados e substituídos pelos estandartes de Cairhien. Esta é Cairhien, e o Sol Nascente deve e vai tremular orgulhosamente. Cairhien tem a própria honra, que deve ser mantida.

A câmara irrompeu em um rugido tão repentino que a as Donzelas levantaram as lanças; uma balbúrdia que reverberou de parede a parede. Em um instante, Sulin estava gesticulando naquela linguagem das Donzelas, mas os véus, já parcialmente erguidos, foram soltos novamente. Os nobres cairhienos aplaudiam com o mesmo entusiasmo que o povo nas ruas o fizera, saltitando e acenando como os habitantes de Portão Frontal em um festival. Naquele pandemônio, foi a vez de os tairenos trocarem olhares silenciosos. Não pareciam com raiva. Até Meilan dava a impressão de estar mais incerto do que qualquer outra coisa, embora, assim como Torean e os demais, observasse com estupor os lordes e ladies que o cercavam, há pouco cheios de dignidade fria, agora dançando e gritando o nome do Lorde Dragão.