Выбрать главу

Juilin ergueu as mãos, e Thom soltou uma sonora gargalhada.

— Você já conheceu alguma mulher que ouvia a voz da razão quando não queria? — retrucou o menestrel.

Ele deixou escapar um grunhido quando Elayne tirou a compressa e começou a esfregar seu escalpo rachado com talvez um pouco mais de força do que era estritamente necessário.

Uno balançou a cabeça.

— Bem, se é para ser enganado, vou ser enganado. Mas ouçam bem o que eu digo: o pessoal de Masema descobriu o navio, chamado Cobra do Rio ou algo assim, menos de uma hora depois que ele atracou, mas os Mantos-brancos o capturaram. Foi isso que desencadeou essas briguinhas. A má notícia é que os Mantos-brancos ainda têm o controle das docas. A pior é que Masema pode ter se esquecido do navio. Fui conversar com ele, e Masema não quer nem ouvir falar no assunto. Só sabe falar em enforcar Mantos-brancos e fazer Amadícia se ajoelhar diante do Lorde Dragão nem que seja preciso atear fogo em todo o território. Só que ele não seu deu ao trabalho de contar para todo o pessoal dele. Teve confrontos perto do rio, e pode ainda estar tendo. Passar com vocês por todos os motins já vai ser bem difícil, mas, se houver uma batalha nas docas, não posso prometer nada. E como eu vou enfiar vocês em um navio que está nas mãos dos Mantos-brancos é uma coisa que eu não sei nem por onde começar. — Deixando escapar um longo suspiro, ele esfregou o suor da testa com o dorso da mão cheia de cicatrizes. O esforço por ter falado tanto tempo sem proferir nenhum palavrão estava estampado em seu rosto.

Nynaeve poderia ter se compadecido do linguajar dele, caso não estivesse chocada demais para abrir a boca. Só podia ser coincidência. Luz, eu disse que toparia qualquer coisa por um navio, mas isso não. Isso não! Ela não sabia por que Elayne e Birgitte a encaravam com semblantes tão inexpressivos. Ambas sabiam tanto quanto ela, e nenhuma das duas sugerira aquela possibilidade. Os três homens trocaram olhares sérios, obviamente conscientes de que algo estava acontecendo e, também obviamente, sem saber do que se tratava, graças à Luz. Era muito melhor quando não sabiam de tudo. Mas só podia ser coincidência.

Por um lado, Nynaeve ficou mais do que feliz de concentrar sua atenção em outro homem que abria caminho em meio aos carroções. Era uma justificativa para tirar os olhos de Elayne e Birgitte. Por outro lado, ver Galad fez seu estômago ir parar nos pés.

O homem trajava roupas marrons simples e um chapéu liso de veludo, em vez do manto branco e da armadura polida, mas sua espada ainda repousava à cintura. Ele ainda não estivera nos carroções, e o efeito daquele rosto foi dramático. Muelin deu um passo involuntário na direção dele, e as duas acrobatas esbeltas se inclinaram para a frente, boquiabertas. Os Chavanas foram rotundamente esquecidos e fizeram cara feia. Mesmo Clarine ajeitou o vestido ao vê-lo passar, mas só até Petra tirar o cachimbo da boca e fazer um comentário. Então, gargalhando, ela foi até onde ele estava sentado e aconchegou o rosto do homem em seu busto avantajado. Seus olhos, porém, ainda acompanhavam Galad por cima da cabeça do marido.

Nynaeve não estava com humor para se deixar afetar por um rosto bonito. Sua respiração mal se acelerou.

— Foi você, não foi? — questionou ela antes mesmo que ele a alcançasse. — Você capturou o Cobra do Rio, não foi? Por quê?

— Serpente do Rio — corrigiu ele, encarando-a com um olhar incrédulo. — Você mesma me pediu para eu lhe garantir passagem.

— Eu não pedi para você começar uma briga!

— Briga? — intrometeu-se Elayne. — Uma guerra. Uma invasão. E tudo por causa desse navio.

— Eu dei minha palavra para Nynaeve, irmã — respondeu Galad calmamente. — Minha maior obrigação é ver você a caminho de Caemlyn em segurança. E Nynaeve, claro. Os Filhos teriam que lutar contra esse Profeta, mais cedo ou mais tarde.

— Você não podia simplesmente ter avisado que o navio estava aqui? — indagou Nynaeve com enfado.

Os homens e suas palavras. Tudo muito admirável, às vezes, mas ela devia ter dado ouvidos quando Elayne disse que ele fazia o que entendia como certo, sem se importar com quem se ferisse.

— Não sei por que o Profeta queria o navio, mas duvido que fosse para que vocês pudessem seguir rio abaixo. — Nynaeve vacilou. — Além do mais, paguei a passagem de vocês para o capitão quando ele ainda estava desembarcando a carga. Uma hora depois, um dos dois homens que eu deixei lá para garantir que ele não fosse embora sem vocês veio me dizer que o outro estava morto e que o Profeta havia tomado o navio. Não entendo por que vocês estão tão aborrecidas. Queriam um navio, precisavam de um navio, e eu consegui um. — Com o cenho franzido, Galad falou com Thom e Juilin: — Qual é o problema delas? Por que ficam se entreolhando?

— Mulheres — respondeu Juilin, simplesmente, levando de Birgitte uma bofetada na nuca pela inconveniência. Ele a encarou com raiva.

— A picada das mutucas é terrível — sorriu ela, transformando a raiva de Juilin em incerteza enquanto ele rearrumava o chapéu.

— Podemos passar o dia inteiro aqui discutindo o que é certo e o que é errado — opinou Thom, seco —, ou podemos embarcar nesse navio. A passagem já foi paga, e não há como recuperar o dinheiro.

Nynaeve tornou a vacilar. Não importava o que ele quisera dizer com aquilo, ela entendera do próprio jeito.

— Podemos ter problemas para chegar ao rio — afirmou Galad. — Vesti estas roupas porque os Filhos não são populares em Samara no momento, mas as quadrilhas podem atacar qualquer um. — Ele olhou desconfiado para Thom, com o cabelo e o bigode brancos, e para Juilin com um pouco menos de suspeita. Mesmo desgrenhado, o taireno era forte o bastante para fincar estacas. E então se voltou para Uno. — Onde está seu amigo? Outra espada pode ser útil até nos juntarmos aos meus homens.

Uno abriu um sorriso vilanesco. Estava claro que eles se gostavam ainda menos agora do que no primeiro encontro.

— Está por aqui. E talvez mais um ou dois. Vou mandá-los para o navio, caso seus Mantos-brancos consigam mantê-lo. Ou caso não consigam.

Elayne abriu a boca, mas Nynaeve foi mais rápida em tomar a palavra.

— Vocês dois, já chega! — Elayne teria voltado a tentar usar palavras melosas. Poderia ter funcionado, mas Nynaeve queria soltar a língua. Por alguma coisa, qualquer coisa. — Precisamos ir rápido. — Ao lançar dois malucos em direção ao mesmo alvo, deveria ter considerado o que poderia acontecer caso os dois chegassem ao mesmo tempo. — Uno, junte o restante de seus homens o mais rápido possível. — O homem tentou dizer que todos já estavam aguardando do outro lado do conjunto itinerante, mas ela prosseguiu. Eles eram malucos, ambos. Todos os homens eram! — Galad, você…

— Acordem e se levantem! — O grito de Luca cortou as palavras dela quando o homem surgiu trotando em meio aos carroções, mancando e com um machucado cobrindo a lateral do rosto. A capa escarlate estava suja e rasgada. Parecia que Thom e Juilin não tinham sido os únicos a entrar na cidade. — Brugh, vá dizer aos tratadores de cavalos para amarrarem as parelhas! Vamos ter que abandonar a lona. — Ele fez uma careta ao dizer isso. — E eu pretendo estar na estrada em menos de uma hora! Andaya, Kuan, chamem suas irmãs! Acordem todos que ainda estiverem dormindo, e, se estiverem se lavando, digam para vestirem roupas sujas ou virem nus! Rápido, a menos que queiram proclamar o Profeta e marchar até Amadícia! Chin Akima já foi decapitado, assim como metade dos artistas dele, e Sillia Cerano e uma dúzia dos dela foram açoitados por terem sido lentos demais! Mexam-se! — Naquele instante, todos, exceto os que estavam em torno do carroção de Nynaeve, se apressaram.